Já falaram para você assistir à série Adolescência hoje? 

“Você já viu a série Adolescência? Tem que ver!” Prepare-se para ser bombardeado por essa pergunta/intimação em tudo quanto é rodinha durante as próximas semanas. E dê um desconto para os mais emocionados. Adolescência, que estreou na Netflix no dia 14 de março, é daquelas produções tão boas, mas tão boas, que quando você termina de assistir tem vontade de recomendar para sua mãe, seus amigos, seu terapeuta e todas as pessoas na fila do supermercado.

LEIA MAIS: “Babygirl”, doc sobre Anitta, série com Wagner Moura e outras estreias do streaming em março

São apenas quatro episódios e uma premissa que pode ser resumida em poucas linhas: Jamie Miller (Owen Cooper), um garoto de 13 anos, é preso sob a acusação de ter assassinado a facadas uma colega de escola. Ele nega. Policiais, família e uma psicóloga tentam entender  o que aconteceu.

A partir desse enredo aparentemente simples, o time comandado pelo diretor Philip Barantini entrega 229 minutos de fazer cair o queixo – pelas interpretações estupendas, pela sensibilidade do roteiro e pela assombrosa escolha de rodar tudo em plano-sequência. Ou seja, a cada episódio, de aproximadamente uma hora, a câmera é ligada e a filmagem só para quando surgem os créditos finais. 

A câmera acompanha a invasão dos policiais à casa de Jamie, entra com ele na viatura, segue o vaivém nas salas da delegacia e o desespero dos pais do menino, que não estão entendendo nada. No segundo episódio, registra a balbúrdia na escola onde estudavam a vítima e o acusado, mostra imagens do alto, com ajuda de um drone, desce e fecha no rosto do pai de Jamie, Eddie (Stephen Graham), numa sequência tão perfeita que faz você prender a respiração com medo de atrapalhar alguma coisa.

Igualmente de tirar o fôlego é o confronto entre Jamie e a psicóloga interpretada por Erin Doherty. Vulnerabilidade, ódio, resquícios de infância, arrogância adolescente, ressentimento e uma dilacerante necessidade de aprovação: tudo isso é condensado no trabalho de Owen Cooper, na impressionante estreia desse ator de 15 anos.

série adolescência

Owen Cooper e Erin Doherty.
Foto: Ben Blackall/Netflix © 2024

Owen e Stephen Graham (que também assina o roteiro com Jack Thorne) são os destaques da produção, mas a verdade é que o elenco inteiro é nada menos do que brilhante. Esse conjunto de atuações, somado à ausência de cortes, possibilita uma imersão na história que só reforça o entendimento de que aquela tragédia poderia acontecer com qualquer família.

LEIA MAIS: Naomi Ackie fala sobre “Mickey 17”, novo filme do diretor de “Parasita”

Não por acaso a série Adolescência tem esse nome – que, a princípio, parece mais apropriado para um documentário da BBC do que para um drama policial. É um título propositalmente abrangente porque aquilo não é um caso isolado. Jamie não vem de uma família disfuncional. Era bom aluno, gostava de desenhar. Mas na escola e dentro de seu quarto, decorado com papel de parede ilustrado com planetas, vivia conflitos que os pais sequer imaginavam.

série adolescência

Jamie (Owen Cooper) em seu quarto, invadido pela polícia.
Foto: Divulgação Netflix

O roteiro não deixa claro em que cidade se passa a história. A título de curiosidade, ela foi filmada em West Yorkshire, no norte da Inglaterra. Mas, de fato, a localização pouco importa. Lá, como no Brasil, meninos e meninas sofrem e cometem bullying, presencial e virtualmente. Como no Reino Unido, os garotos daqui conhecem influenciadores machistas – mesmo aqueles com mães feministas e educados em escolas construtivistas. Podem não compactuar com o discurso misógino, mas são frequentemente expostos a conteúdos de grupos de red pills, incels e afins. “Olha o cara que apareceu no meu telefone, falando sobre como tratar as mulheres, como ser homem e toda essa merda. Eu só estava procurando um negócio pra academia!”, diz Eddie, numa constatação tão óbvia quanto assustadora para pais de adolescentes. Que, como ele, nunca vão saber se fizeram o que foi possível ou se podiam ter feito mais. Na dúvida, assistir à série Adolescência é um bom começo.

LEIA MAIS: Fernanda Montenegro retorna ao cinema com “Vitória”
Adicionar aos favoritos o Link permanente.