SPFW N59: PIET

No Brasil, futebol se aprende cedo: na rua, no rádio, na camisa do time do coração. É um idioma, escola de estilo e álbum de memórias. “A bola rola na alma do povo”, já cantava Jorge Ben Jor em “Fio Maravilha”. Na noite de sexta-feira (11.04), a Piet, de Pedro Andrade, ocupou o Estádio do Pacaembu com um desfile que misturou esporte, moda e afeto para fechar a SPFW N59. Aberto ao público e com cerca de quatro mil pessoas (os ingressos foram disponibilizados no instagram da marca), o evento foi o primeiro do gênero a acontecer naquele espaço desde sua reforma, iniciada em 2021.

Piet SPFW N59


Marcelo Soubhia/ @agfotosite

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A escolha do local não foi por acaso. Em 2020, o Pacaembu foi privatizado e, mais recentemente, ganhou o Mercado Livre como principal patrocinador, com direito à nomeação do estádio.A empresa é também parceira desta edição da semana de moda. Momentos antes da apresentação, Pedro Andrade foi anunciado como diretor criativo da Mercado Livre Arena Pacaembu, passando a assinar os produtos oficiais e os uniformes de toda a equipe, do escritório à brigada de incêndio.

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De volta a Piet, a nova coleção traça uma linha do tempo afetiva da vida de um brasileiro comum – da infância aos dias de trabalho – sempre atravessada pela presença quase inevitável do futebol. “Não é sobre o esporte em si, mas sobre o Brasil e como isso entra na nossa vida, mesmo sem a gente pedir”, explica Pedro. A proposta parte de desenhos infantis de imagens históricas – como o gol de Balotelli contra a Alemanha, na semifinal da Eurocopa em 2012, ou o sorriso de Kaká –, assinados pelo artista grego Apostolis Dimitropoulos, e chega às roupas manchadas de quem volta do campinho no horário de almoço ou no fim do dia.

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Sempre com uma dose de ironia, Pedro explora contrastes entre proporções e códigos esportivos: combina peças oversized com outras mais justas, como tricôs que lembram meiões, bombers feitas de tecido telado e camisas inspiradas em uniformes de base. Estampas camufladas fazem alusão a uma memória mais pessoal do designer e empresário. No caso, dos seus amigos que, diferentemente dele, prestaram serviço militar ou cursos de tiro de guerra e, além da manutenção dos campos, passavam boa parte do tempo jogando bola no quartel.

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O equilíbrio entre o fazer manual e a tecnologia são outro ponto importante, que tem guiado a label nos últimos anos. O jeans usado nas calças e jaquetas, por exemplo, é produzido em teares japoneses dos anos 1950, com metragem reduzida, tingimento manual e tiragem limitada. Já os crochês, feitos em parceria com o artesão Jamil Santos, fazem parte de um projeto de economia circular que fomenta renda e visibilidade para comunidades locais. “Nosso produto custa caro porque envolve muita gente, muito tempo e muita pesquisa. Ele sustenta cadeias produtivas inteiras”, fala Pedro.

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Com mais de uma década de trajetória, a Piet estreou na SPFW em 2018. Fez um segundo desfile em abril do ano seguinte e depois se afastou das passarelas. Até esse grande retorno. A ocasião celebra um novo momento da etiqueta: internacionalizada, com vendas expressivas na Ásia, Europa e Estados Unidos, e reforçada por colaborações com marcas como Levi’s, Puma, Oakley, KidSuper e Swarovski.

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“Hoje, temos uma operação maior fora do Brasil do que internamente”, fala Pedro, eleito um dos 100 criativos mais influentes do mundo pela Hypebeast. Com o crescimento, o público também mudou. “O consumidor da Piet amadureceu junto comigo. Hoje, ele entende o valor de uma peça artesanal, de uma collab com propósito, de uma roupa que carrega uma história. O hype virou conteúdo.”

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Além da Piet, ele está à frente da P.Andrade, grife paralela focada em experimentação e sustentabilidade. “Ali é o Pedro 30+. É onde testo soluções para o futuro da moda com rastreabilidade, biotecnologia e novas formas de produção. A Piet é mais solta e direta, mas também tem um papel importante, como o resgate das referências brasileiras que a gente aprendeu a achar feias para transformá-las em desejo.”

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O desfile teve ainda um feat ao vivo com Marcelo D2, diretamente do banco de reservas. “O Pedro é meu irmãozinho e está num momento especial como designer”, conta o músico. “Ele não vai para o clichê e cria algo original. Eu não entendo tanto de moda, mas gosto muito do assunto, principalmente desse movimento do streetwear brasileiro. Não é evolução, é construção.”

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Com o Pacaembu como palco e o futebol como linguagem, a Piet encerra a temporada falando de estilo, mas também de pertencimento. “Quero mostrar às pessoas o quão democrático a gente pode ser no acesso, na informação e no conhecimento. Depois vem o produto”, resume o estilista.

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