Política fiscal do Brasil é só “para inglês ver”, critica Felipe Salto

Opinião: "O Congresso também precisa ter responsabilidade fiscal"

O Brasil atravessa um momento crucial que exige sinais mais claros de compromisso com a responsabilidade fiscal, sobretudo em meio a um cenário internacional adverso. Para o economista-chefe da Warren, Felipe Salto, este seria o momento ideal para o governo demonstrar previsibilidade e controle das contas públicas. Contudo, ele avalia que o Executivo não está disposto — nem politicamente preparado — para atender a essa expectativa.

O mundo do desejo dos economistas é esse, o governo deveria agir com responsabilidade fiscal, mas infelizmente não vai fazer. Ninguém pode dar o que não tem“, afirmou Salto, durante entrevista à BM&C News. Segundo ele, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se encontra isolado, tentando, com esforço, viabilizar pacotes de ajuste e cortes orçamentários, enquanto o restante do governo e o Congresso seguem em sentido oposto.

Falta de liderança amplia o desarranjo das contas públicas

Felipe Salto foi enfático ao dizer que a ausência de liderança clara por parte da Presidência da República agrava o problema fiscal brasileiro. Ele relembrou que as grandes reformas do passado, como a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal há 25 anos, só foram possíveis graças à condução firme do Executivo. “Hoje, o que existe é algo feito para inglês ver: uma receita um pouco maior e metas fiscais mínimas sendo cumpridas com artifícios como o uso dos precatórios ou a aplicação do limite inferior da banda fiscal“, avaliou.

Na leitura do economista, o atual cenário pode ser resumido como uma política fiscal que “tira nota seis”, quando o país precisaria urgentemente de uma atuação digna de uma “nota 9,5 ou 10”. Salto alerta que, sem ajustes profundos, o governo corre o risco de manter apenas medidas paliativas, que não resolvem o desajuste estrutural das finanças públicas.

Estímulo à demanda sem ajuste fiscal agrava percepção de risco

Salto também destacou que a tentativa de estimular a demanda interna, sem uma âncora fiscal sólida, adiciona incertezas ao cenário macroeconômico. Com juros futuros elevados e a volatilidade crescente no ambiente externo, o Brasil fica ainda mais vulnerável, sobretudo por ser uma economia emergente que depende do fluxo de capitais internacionais.

Ainda que as contas externas estejam organizadas e o país conte com US$ 350 bilhões em reservas, o problema fiscal continua sendo o mais preocupante“, afirmou Salto. Ele reconhece que não há, no momento, risco iminente de fuga de capitais, mas pondera que o déficit nas contas públicas precisa ser enfrentado para manter a confiança dos investidores.

Solução estrutural só em 2027, prevê Salto

O economista-chefe da Warren não se mostra otimista quanto à velocidade para resolver os desequilíbrios fiscais. Na sua visão, uma solução estrutural só deverá ocorrer a partir de 2027, quando novas dinâmicas políticas e eleitorais poderão criar espaço para um ajuste mais profundo.

O que estamos vivenciando agora é o prenúncio das pressões eleitorais futuras. O Congresso já começou a mudar o tom, vide o exemplo da reforma do Imposto de Renda, onde as compensações estão sendo dilapidadas“, afirmou. Até lá, segundo Salto, a equipe econômica terá de atuar como “goleiro”, segurando as rédeas das finanças públicas para evitar um cenário fiscal ainda mais crítico.

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