Chineses ironizam a guerra comercial de Trump com memes

Imagem ilustrativa mostra um vídeo que circula nas redes sociais chinesas com a campanha online humorísticaAdek BERRY

Adek BERRY

Filas de operários americanos com excesso de peso tentam trabalhar com máquinas de costura em uma fábrica. A imagem, gerada com Inteligência Artificial (IA), ironiza o cenário dos Estados Unidos obrigados a produzir seus próprios produtos devido à guerra comercial.

As tarifas colossais impostas por Washington aos produtos procedentes da China provocam publicações sarcásticas na internet chinesa, muito controlada pelo governo.

Washington impôs tarifas adicionais aos produtos de Pequim, que podem chegar a 145%, ao mesmo tempo que suspendeu as taxas alfandegárias para o restante do mundo, para abrir espaço para negociações com dezenas de países.

Somadas às tarifas aplicadas pela administração anterior, as sobretaxas podem chegar a 245% em alguns setores.

A China respondeu e ampliou suas tarifas para 125% aos produtos americanos. As autoridades já afirmaram que estão dispostas a levar a disputa comercial “até o fim”.

Em sintonia com a retórica oficial, as publicações que zombam da dependência americana dos produtos chineses inundam as redes sociais.

Em um vídeo, um internauta afirma que deseja mostrar os produtos americanos que comprou e abre suas mãos, vazias.

As dezenas de vídeos do jovem ironizando os Estados Unidos acumulam milhões de visualizações no aplicativo TikTok, bloqueado na China pelas autoridades, mas acessível com o uso de redes privadas virtuais (VPN).

As publicações são uma forma de “liberar a raiva”, explica à AFP o internauta da província chinesa de Liaoning (nordeste), que utiliza o pseudônimo “Budddhawangwang”.

Ele conta que se mudou para a Califórnia em 2019, antes de “jogar fora” seu visto de residência permanente quatro anos depois, irritado com os “preconceitos contra a China”.

E isso inclui, afirma o jovem, “informações falsas” sobre Xinjiang, uma região no noroeste do país onde Pequim é acusada de reprimir os uigures e outras etnias muçulmanas, alegações que a China nega.

– Preocupação –

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirma que suas tarifas ajudarão a repatriar a produção manufatureira após décadas de deslocalização industrial. Mas alguns chineses consideram a perspectiva pouco realista.

Vídeos gerados por IA, que viralizaram, mostram Trump, seu vice-presidente JD Vance e o magnata do setor de tecnologia Elon Musk em linhas de montagem de sapatos ou iPhones.

Outra publicação afirma que um vestido usado pela porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, foi adquirido na plataforma chinesa de comércio online Taobao.

“Criticam o ‘Made in China’, mas desfrutam dele em sua vida diária”, ironiza um comentário.

Alguns internautas chineses também explicam aos americanos como contornar as tarifas proibitivas sobre produtos de seu país, comprando-os diretamente na China.

Em um vídeo publicado no TikTok, um homem que diz trabalhar em uma fábrica da Birkenstock em Yiwu, centro industrial no leste do país, se oferece para receber pedidos de pares de sandálias por apenas 10 dólares.

“Temos sete cores. Se estiverem interessados, entrem em contato comigo”, afirma, apontando para vários modelos expostos sobre uma caixa de papelão.

“Há uma forma de nacionalismo nestas publicações”, afirma Gwen Bouvier, professora na Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, especialista em redes sociais.

Mas por trás do humor provavelmente se esconde uma profunda preocupação com o impacto da guerra comercial na economia chinesa, que depende das exportações.

Na internet, os censores parecem ter eliminado comentários que alertavam sobre as possíveis consequências do conflito comercial para os consumidores e indústrias chinesas.

No Weibo, plataforma equivalente à rede social X, todos os comentários associados à hashtag “#Estados Unidos imporão tarifas de 104% aos produtos chineses” foram eliminados.

Em contrapartida, a hashtag “#Estados Unidos travam uma guerra comercial enquanto mendigam ovos” — em referência ao aumento dos preços do alimento no território americano — foi visualizada 230 milhões de vezes.

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