[:pb]Acadêmicos debatem a internacionalização da ciência brasileira na Brazil Conference[:]

[:pb]A ciência de fronteira é uma atividade internacional e, para se inserir cada vez mais no cenário, o Brasil precisa trabalhar em colaboração com o mundo. Essas foram as conclusões de um debate que reuniu a presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, e o membro titular Artur Ávila, no dia 13 de abril, na Brazil Conference 2025. O encontro, realizado todos os anos pela diáspora estudantil brasileira na região de Boston, EUA, reúne grandes personalidades do país para pensar o Brasil e atrair o investimento estrangeiro.

A fuga de cérebros para o exterior se intensificou ao longo dos últimos dez anos e é explicada pela diminuição nos recursos para a ciência nacional. Mas todos esses alunos não estão perdidos desde o momento em que pousam em terras estrangeiras. Pelo contrário, se souber acioná-los, o Brasil pode construir uma rede orgânica de conexões com as melhores instituições do planeta e, com isso, fortalecer sua ciência interna.

“Manter laços é do foro individual de cada um, mas o Brasil, como Estado, pode e deve criar programas. Não podemos esquecer do Ciência sem Fronteiras, que, com erros e acertos, no geral foi espetacular. Estamos agora, em várias agências, com programas de repatriamento. Se vai dar certo nós não sabemos, mas o exemplo internacional mostra que dá pra fazer”, afirmou a presidente da ABC.

O matemático Artur Ávila lembrou que as conexões internacionais se dão entre pessoas e instituições, e contém um alto grau de aleatoriedade, dependendo da disposição de quem está nas duas pontas da situação de troca. Cabe ao país criar os estímulos certos – e não há maior estímulo do que um financiamento constante e previsível. “Não podemos pedir para um pesquisador arriscar sua carreira sem saber o que vai acontecer daqui a quatro anos. É muito melhor ter continuidade do que colocar muito dinheiro em um momento e retirar tudo no seguinte”, avaliou.

Ávila recebeu a Medalha Fields em 2014, considerada o Nobel da Matemática, e fez sua carreira até o doutorado no Brasil, no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). “Quando eu ingressei no Impa, já existia um histórico de décadas, de gerações formando gerações. Nesse período o Brasil passou por muita coisa, mas conseguiu-se um projeto com continuidade. (…) Foi muito importante para a minha carreira ter permanecido no Impa naquele momento. Conheço relatos de pesquisadores que saíram do Brasil apenas pelo atrativo de se formar fora, e terminaram numa situação muito pior do que encontrariam no Impa”, refletiu o Acadêmico.

Visando ao fortalecimento do ecossistema de instituições científicas brasileiras, Helena Nader defendeu duas propostas concretas. A primeira, o estabelecimento do desenho das Organizações Sociais (OS), que dinamiza os entraves burocráticos presentes nas universidades federais, permitindo a contratação de especialistas internacionais com salários competitivos e a captação de recursos do exterior. Outro ponto, a questão dos endownments, para estimular os investimentos privados em ciência e inovação. “Nossa legislação ainda não é favorável as doações. Por que os brasileiros doam para instituições dos EUA e não do Brasil? Porque o Brasil não estimula nem facilita isso”, afirmou Nader.

A presidente da ABC defendeu também que o país aproveite o novo momento geopolítico para tentar atrair cientistas frustrados com os rumos da política científica americana, e exaltou a capacidade científica nacional. “Eu tenho muito orgulho de onde a ciência brasileira chegou. Olhem os números de pesquisadores no Brasil que estão entre os mais produtivos do ranking de Stanford. (…) Em algumas áreas, como a agricultura, nós somos a fronteira e apresentamos inovações para o mundo”.

Assista ao painel entre as 4h00 e 4h45 do vídeo abaixo:

[:]

Adicionar aos favoritos o Link permanente.