Entregas por drone: será que isso um dia será comum no Brasil?

Imagine abrir a porta do seu apartamento e, em vez de encontrar um entregador com a sua encomenda, você se depara com um drone pairando ruidosamente com seu pacote. Essa cena, que parece saída diretamente de um filme de ficção científica, já é realidade em diversos países ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, a Amazon promete entregas em até 30 minutos; na China, drones atravessam grandes metrópoles entregando refeições; e em partes da África, esses aparelhos já transportam até mesmo medicamentos para regiões remotas. Mas, e no Brasil? Quando veremos o céu das nossas cidades cortado por esses mensageiros tecnológicos?

A logística de entregas está passando por uma transformação silenciosa, porém profunda. Enquanto alguns ainda se contentam com prazos de entrega de dias ou semanas, empresas de comércio eletrônico já enxergam nos drones uma forma de superar congestionamentos, reduzir custos operacionais e, principalmente, diminuir drasticamente o tempo entre o clique de compra e a chegada do produto. No entanto, entre a promessa e a implementação em larga escala, existe um abismo de regulamentações, desafios técnicos, questões de segurança e particularidades culturais que precisam ser superados.

Em março de 2025, os Correios realizaram a primeira entrega simbólica usando um drone em Curitiba, sinalizando que os primeiros passos estão sendo dados para tornar essa tecnologia uma realidade no país. Mas quanto tempo ainda falta para que esse serviço esteja disponível para o consumidor comum? E quais são os obstáculos que ainda precisamos superar?

Você também pode gostar dos artigos abaixo:

Esses são os drones suicidas (e autônomos) de Kim Jong-un: Coreia do Norte testa novas armas de combate com IA

Estes são os 7 drones de combate mais perigosos da atualidade

Como funciona a entrega por drones

Fotos de Drone Delivery

A implementação de um sistema de entregas por drones vai muito além de simplesmente colocar um pacote em um aparelho voador e enviar para o endereço desejado. Trata-se de uma operação logística extremamente complexa que envolve múltiplos níveis de planejamento e coordenação.

Para que as entregas possam acontecer de forma segura e eficiente, é necessário estabelecer rotas aéreas pré-definidas. Diferentemente de um entregador que pode decidir mudar seu trajeto ao se deparar com um congestionamento, os drones seguem caminhos estritamente pré-definidos e autorizados pelos órgãos de controle aéreo. Essas “avenidas aéreas” são corredores virtuais por onde os drones podem navegar com segurança, evitando colisões com edifícios, árvores ou outros obstáculos.

Empresas como a Atech, subsidiária da Embraer, estão desenvolvendo sistemas de gerenciamento dessas rotas no Brasil. O algoritmo utilizado para definir esses caminhos leva em consideração a altura dos edifícios, presença de obstáculos, intensidade de tráfego aéreo, condições climáticas típicas da região e densidade populacional das áreas sobrevoadas.

Outro elemento crucial são os chamados “drone ports” – áreas específicas para pouso e decolagem desses dispositivos. Esses locais precisam de uma estrutura mínima de aproximadamente 4 x 4 metros, além de uma área adicional de isolamento no entorno para garantir a segurança das operações. Para edifícios residenciais e comerciais, isso significa que adaptações serão necessárias. Alguns empreendimentos imobiliários mais recentes já começam a considerar espaços designados para recebimento de entregas por drones, algo similar ao que aconteceu com as áreas de delivery que se tornaram comuns nos condomínios durante a pandemia.

Os drones utilizados para entregas comerciais são muito diferentes dos modelos recreativos. O drone utilizado na demonstração dos Correios em Curitiba, por exemplo, foi desenvolvido com tecnologia 100% nacional e possui capacidade para transportar até 35 quilos de carga – o suficiente para entregar várias encomendas em uma única viagem. Esses aparelhos são equipados com sistemas avançados de GPS para navegação precisa, sensores para detecção de obstáculos, câmeras para monitoramento do trajeto, sistemas de criptografia para garantir a segurança dos dados e mecanismos de liberação de pacotes controlados remotamente.

Vantagens da entrega por drones

Drone Delivery

A adoção de drones para entregas não é apenas uma questão de estar na vanguarda tecnológica; existem benefícios concretos que justificam o investimento nessa modalidade. O principal atrativo dos drones é a capacidade de realizar entregas em questão de minutos, em vez de horas ou dias. Considerando que os drones podem voar em linha reta, ignorando o traçado das ruas, e não ficam presos em congestionamentos, o tempo de entrega pode ser reduzido drasticamente. A Amazon, pioneira nesse tipo de serviço com seu programa Prime Air, promete entregas em até 30 minutos após a finalização da compra – algo impensável com métodos tradicionais de entrega em grandes centros urbanos.

Embora o investimento inicial seja significativo, a operação de drones para entregas pode resultar em economia a longo prazo. O consumo energético é consideravelmente menor quando comparado a veículos motorizados, e a manutenção tende a ser menos frequente. Estudos internacionais estimam que, uma vez estabelecida a infraestrutura necessária, o custo por entrega pode ser reduzido em até 40% em comparação com métodos tradicionais.

Outro benefício significativo é a redução da pegada de carbono associada às entregas. Drones elétricos não emitem gases poluentes durante sua operação, contribuindo para cidades mais limpas e saudáveis. Além disso, ao desafogar o trânsito nas grandes cidades, a entrega por drones ajuda indiretamente na redução de emissões de veículos parados em congestionamentos.

Em um país com dimensões continentais como o Brasil, há localidades onde o acesso é limitado por condições geográficas. Drones podem superar obstáculos naturais como rios, morros e áreas de floresta densa, levando produtos a comunidades que tradicionalmente enfrentam dificuldades logísticas.

Desafios para implementação no Brasil

Apesar de todas as vantagens, existem obstáculos significativos que precisam ser superados antes que as entregas por drones se tornem comuns no Brasil. O principal entrave para a expansão das entregas por drones no Brasil está no campo regulatório. Atualmente, a norma da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) determina que drones devem ser operados dentro do campo de visão do piloto, o que inviabiliza entregas de longa distância.

Para que as entregas comerciais sejam amplamente permitidas, será necessária uma revisão dessas regulamentações, estabelecendo regras claras para voos além da linha de visão do operador, certificações específicas para pilotos de drones comerciais, protocolos de segurança para operações em áreas urbanas, determinação de zonas permitidas e restritas para sobrevoo, e normas para entregas noturnas ou em condições climáticas adversas.

As cidades brasileiras não foram planejadas para acomodar o tráfego aéreo de drones. A adaptação do espaço urbano apresenta desafios como a instalação de plataformas de pouso em edifícios, criação de corredores aéreos seguros, sinalização adequada para navegação e integração com outros elementos do tráfego aéreo, como helicópteros.

Do ponto de vista tecnológico, ainda existem limitações a serem superadas. A autonomia das baterias da maioria dos drones comerciais ainda é limitada, o que restringe o raio de alcance das entregas. As condições climáticas como chuvas fortes, ventos e tempestades podem impedir a operação segura dos drones. Embora modelos mais robustos já consigam transportar até 35 kg, como o drone testado pelos Correios, a maioria dos modelos comerciais tem capacidade muito inferior. A cobertura de redes móveis não é uniforme em todo o território nacional, o que pode comprometer a operação em determinadas regiões.

Criminalidade e segurança: o desafio brasileiro

 Voo para Drone Delivery

Um fator que frequentemente é subestimado nas discussões sobre entregas por drones, mas que representa um obstáculo significativo no contexto brasileiro, é a questão da segurança. O Brasil enfrenta índices de criminalidade que não podem ser ignorados quando se planeja implementar um sistema de entregas por drones. Equipamentos voadores transportando mercadorias de valor são alvos potenciais para criminosos, que podem desenvolver métodos para interceptar esses aparelhos ou interferir em sua operação.

Os riscos identificados incluem o abate dos drones utilizando armas de fogo ou outros meios, interferência nos sinais de GPS desviando os drones de sua rota original, ataques cibernéticos aos sistemas de controle e roubo de drones e mercadorias durante o pouso em áreas residenciais. De acordo com especialistas em segurança, empresas que pretendem operar drones para entregas no Brasil precisarão investir em sistemas avançados de proteção, incluindo criptografia robusta para as comunicações, alertas em tempo real para tentativas de interferência, rotas alternativas em caso de atividade suspeita e seguro específico para cobrir perdas relacionadas a crimes.

Uma abordagem que pode ser necessária no Brasil é o estabelecimento de “zonas de exclusão” – áreas onde as entregas por drones não serão realizadas devido ao alto risco de intercepções criminosas. Isso significaria que, mesmo quando a tecnologia estiver amplamente disponível, nem todos os endereços poderão ser atendidos por esse tipo de serviço, criando um novo tipo de desigualdade no acesso a serviços tecnológicos.

A necessidade de sistemas adicionais de segurança pode aumentar significativamente os custos operacionais, impactando a viabilidade econômica das entregas por drones no Brasil quando comparadas a outros países com menores índices de criminalidade. Estima-se que os custos com segurança possam representar entre 15% e 25% do investimento total em operações de entrega por drones no país, um percentual consideravelmente maior do que o observado em países como Japão, Coreia do Sul ou nações europeias.

Impacto no mercado de trabalho

Outro aspecto importante a ser considerado é o efeito que a adoção de drones para entregas terá sobre o mercado de trabalho. Se por um lado existe a preocupação com a redução na demanda por entregadores tradicionais, por outro surge a necessidade de profissionais qualificados para pilotar e supervisionar drones, desenvolver e manter a infraestrutura necessária, criar e atualizar sistemas de gerenciamento de rotas, realizar manutenção nos equipamentos e analisar dados gerados pelas operações.

Estima-se que para cada 10 posições de entregadores tradicionais que possam ser afetadas pela tecnologia, cerca de 4 a 6 novas posições seriam criadas em áreas relacionadas à operação dos drones. Para minimizar o impacto social, será necessário desenvolver programas de requalificação para os profissionais atuais do setor de entregas, preparando-os para atuar nas novas funções criadas pela tecnologia de drones.

Perspectivas para o futuro no Brasil

Considerando todos os fatores discutidos, qual é o horizonte para a implementação em larga escala das entregas por drones no Brasil? A autorização concedida pela ANAC em 2022 para a primeira operação comercial de delivery utilizando drones no país representa um marco importante. No entanto, essas primeiras operações serão limitadas em escopo e alcance, atendendo nichos específicos como entregas em condomínios fechados e áreas controladas, transporte de itens de emergência como medicamentos, entrega de documentos e pequenos volumes, e serviços premium com valor agregado.

A partir dessas experiências iniciais, a tendência é que ocorra uma expansão gradual para outros cenários. No curto prazo (1-2 anos), devemos ver um aumento do número de operações piloto em ambientes controlados. No médio prazo (3-5 anos), é provável o estabelecimento de rotas regulares em áreas específicas das grandes cidades. Já no longo prazo (5-10 anos), poderemos observar a integração completa dos drones como parte da malha logística, operando em conjunto com outras modalidades de entrega.

O teste realizado pelos Correios em parceria com a Embraer sugere um caminho promissor: a colaboração entre empresas privadas com expertise tecnológica e instituições públicas com infraestrutura logística estabelecida. Esse modelo de parceria pode acelerar a adoção da tecnologia, combinando a agilidade da inovação privada com o alcance nacional dos Correios.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.