Cidadão turco é preso pela PF em SP após determinação do Supremo e pedido do governo Erdogan

Segundo o despacho, Göktepe é acusado pelas autoridades turcas de integrar a organização terrorista armada FETO/PDY, ligada ao clérigo Fethullah Gülen, apontado como mentor do golpe de Estado frustrado de 2016. Ele é rival do presidente turco. Defesa de Göktepe diz que pedirá revogação da prisão ainda nesta quarta. A Polícia Federal prendeu, nesta quarta-feira (30), o cidadão turco Mustafa Göktepe. Ele estava na casa dele, em Santo Amaro, Zona Sul da capital paulista, segundo informações de sua defesa.
O advogado dele, Beto Vasconcelos, afirma que deve entrar ainda nesta quarta com um pedido à Justiça para que a prisão de seu cliente seja revogada. De acordo com Vasconcelos, Göktepe “não pode ser extraditado” e as alegações do governo turco para a sua prisão “são todas posteriores à naturalização” dele como brasileiro.
A prisão cautelar para fins de extradição de Göktepe foi determinada pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido do governo da Turquia, do presidente Tayyp Erdogan. A decisão foi assinada na última semana e autoriza a Polícia Federal a cumprir o mandado, que deve ser mantido em sigilo até a efetiva detenção do extraditando.
Segundo o despacho, Göktepe é acusado pelas autoridades turcas de integrar a organização terrorista armada FETO/PDY, ligada ao clérigo Fethullah Gülen, apontado por Ancara como mentor do golpe de Estado frustrado de 2016. Ele é rival do presidente turco.
De acordo com a decisão, a conduta atribuída ao acusado tem equivalência penal no Brasil, com base na Lei 12.850/2013, que trata de organizações criminosas, o que configura dupla tipicidade, um dos requisitos para a extradição.
A ordem de prisão contra Göktepe foi emitida pelo 6º Juizado Criminal de Paz de Izmir, na Turquia, em 5 de abril de 2024, e o crime imputado teria ocorrido em 10 de abril de 2017, com prescrição prevista apenas para 2029.
O ministro afirma que o pedido do governo turco cumpre os requisitos exigidos pela Lei de Migração brasileira (Lei 13.445/2017), como a apresentação de documentos que identificam o acusado, descrevem os fatos e atestam a ordem judicial emitida pela Turquia. Dino destaca ainda que não há impedimentos legais para a extradição: Göktepe não é brasileiro, não responde por crime político ou de opinião, e não há processo sobre os mesmos fatos no Brasil.
“Decreto a prisão para fins de extradição de Mustafa Göktepe, nos termos do art. 84, §§ 1º e 2º, da Lei nº 13.445/2017”, escreve o ministro.
A decisão ocorre em meio a críticas à política brasileira de cooperação com a Turquia no caso de perseguições políticas contra membros do movimento Hizmet, ligado a Gülen. Göktepe é conhecido por suas atividades empresariais e culturais no Brasil e tem vínculos com a comunidade turca radicada no país.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.