Os EUA podem estar entregando a liderança da IA de bandeja para a Huawei, é o que acha o CEO da NVIDIA

Jensen Huang, CEO da NVIDIA, voltou a levantar um ponto sensível para a indústria de tecnologia global: as atuais restrições comerciais impostas pelos Estados Unidos à China podem estar tendo um efeito contrário ao desejado. Em vez de conter o avanço chinês em inteligência artificial, essas políticas estariam criando terreno fértil para que a Huawei se tornasse uma das maiores fornecedoras de chips voltados a essa tecnologia.

A disputa geopolítica em torno da IA já não é novidade. Antes mesmo de modelos como o ChatGPT se popularizarem, autoridades norte-americanas identificaram o potencial estratégico da inteligência artificial e tomaram medidas preventivas para evitar que empresas chinesas assumissem a dianteira nesse campo. Resultado: uma série de sanções comerciais entrou em vigor, barrando o acesso da China aos chips mais avançados.

Mas o que parecia um bloqueio eficaz pode estar prestes a sair pela culatra.

A escalada da IA e o papel dominante da NVIDIA

Nvidia

Em 2023, a inteligência artificial deixou de ser uma promessa distante para se tornar uma ferramenta essencial em diversos setores. De assistentes virtuais a sistemas médicos, passando por automação industrial e análise de dados, o crescimento foi exponencial. A NVIDIA, com suas GPUs de alto desempenho, tornou-se peça-chave nesse ecossistema — e viu suas receitas dispararem junto com a demanda.

A ascensão da empresa foi tão intensa que, hoje, a NVIDIA figura entre as três maiores corporações do planeta em valor de mercado. Mesmo diante das restrições para exportar seus chips à China, ela ainda conseguiu manter vendas robustas adaptando seus produtos para atender às exigências legais. Mas esse jogo de cintura está chegando ao limite.

Jensen Huang deixou claro que as medidas atuais podem estar alimentando uma gigante rival. A Huawei, impedida de comprar chips NVIDIA de última geração, está simplesmente construindo sua própria alternativa — com resultados concretos.

DeepSeek: a virada chinesa na corrida pela IA

Um exemplo concreto desse movimento é o projeto DeepSeek, uma inteligência artificial desenvolvida na China para concorrer com os modelos mais sofisticados do Ocidente. A primeira versão, o DeepSeek R1, já havia chamado atenção por depender menos de GPUs da NVIDIA. Agora, com o DeepSeek R2, o distanciamento ficou ainda mais evidente.

Segundo os dados mais recentes, 82% dos chips utilizados para treinar a nova IA chinesa são Ascend 910B, fabricados pela Huawei. Isso não apenas evidencia o avanço tecnológico da empresa, como representa uma ameaça direta aos negócios de empresas norte-americanas como a própria NVIDIA, a OpenAI e até a Microsoft.

huawei

Mais do que substitutos, os Ascend 910B estão se mostrando eficientes. A própria Huawei afirma que esses chips entregam desempenho comparável ao superclúster GB200 NVL72 — o monstro gráfico da arquitetura Blackwell da NVIDIA. E o mais impactante: com um custo até três vezes menor.

‍Essa vantagem não é só econômica. Produzindo localmente, a China também escapa de barreiras tarifárias impostas em anos anteriores por políticas comerciais agressivas iniciadas no governo Trump.

Um alerta estratégico ignorado?

Enquanto os EUA mantêm uma postura rígida em relação à exportação de chips, a indústria chinesa se movimenta rapidamente para suprir suas próprias necessidades tecnológicas. E, nesse cenário, a Huawei pode acabar assumindo justamente o protagonismo que as sanções pretendiam evitar.

A fala de Jensen Huang não é apenas uma crítica, mas um sinal de alerta. Se as regras não forem revistas, a liderança dos EUA no setor de inteligência artificial pode ser desafiada não apenas por questões técnicas, mas também por decisões políticas que, sem querer, colocam combustível no motor de seus maiores concorrentes.

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