Obras de parque público no Cais José Estelita começam em junho e pistas de novo binário serão liberadas; veja imagens do projeto


Com mais de 33 mil metros quadrados, Parque da Resistência Leonardo Cisneiros terá ciclovia e espaços de lazer. Projeto também prevê Parque da Memória Ferroviária, com restauração de galpões históricos. Vice-prefeito do Recife e CEO da Moura Dubeux falam sobre obras no Cais José Estelita
Começam em junho as obras das áreas de uso público do Projeto Novo Recife, no Cais José Estelita, no Centro da cidade (veja vídeo acima). Entre elas, está o Parque da Resistência Leonardo Cisneiros, espaço verde de 33 mil metros quadrados localizada na orla da Bacia do Pina. Além disso, o local terá um Parque da Memória Ferroviária, na área cedida pela União (saiba mais abaixo).
Segundo o Consórcio Novo Recife, conjunto de construtoras responsável pelo projeto, com o início da construção do parque, a atual pista do Cais José Estelita será substituída por um novo binário, com pistas de três faixas, que vai passar por entre os prédios do empreendimento (veja imagens do projeto ao final desta reportagem).
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Leiloado em 2008, o projeto urbanístico é alvo de protestos e contestações jurídicas há mais de dez anos (veja cronograma abaixo). Além do espaço público, o projeto inclui 13 arranha-céus, o que motivou uma ocupação do terreno, promovida pelo movimento Ocupe Estelita em 2014. Até agora, três edifícios foram erguidos.
Diante da pressão social, foram feitas modificações no projeto, incluindo a construção dos parques, que entra como ação mitigadora. Em 2024, após um acordo entre a prefeitura, a União e o Consórcio Novo Recife, a área prevista para o espaço verde dobrou de tamanho, passando a ter 88 metros quadrados, o que corresponde a dois terços do terreno.
As obras do “Novo Cais”, como está sendo chamada a área dos parques e do novo sistema viário, contam com investimentos de mais de R$ 140 milhões.
“Agora, no final de maio, a gente termina todo o sistema viário. E a partir desse momento, a gente desconecta quase a totalidade da Avenida José Estelita, praticamente dos galpões depois do Viaduto das Cinco Pontas até o Cabanga. Não tem uma mudança no trânsito. À noite, a prefeitura bota os bloqueios, e o viário está novo e conectado à cidade”, explicou Diego Villar, CEO da Moura Dubeux, uma das construtoras do Consórcio Novo Recife, em entrevista coletiva.
Ainda não há uma data definitiva para a entrega do sistema viário e o início da construção do Parque Leonardo Cisneiros. A previsão é que ele fique pronto em junho de 2026. Já o restante de todas as obras deve ser concluído até 2030.
Conforme o projeto, o parque terá:
1,7 quilômetros de ciclovias;
“parques da infância”, segmentados por faixa etária;
um “parcão”, espaço de lazer para animais domésticos;
uma praça no prolongamento da Avenida Dantas Barreto, que será ligado à orla por meio de uma alameda, com travessia permitida apenas para pedestres.
Área do parque público do Projeto Novo Recife, no Cais José Estelita, no Centro do Recife
Moura Dubeux/Divulgação
Privatização e custo de vida
O vice-prefeito do Recife e secretário municipal de Infraestrutura, Victor Marques, disse que, ao menos por enquanto, o parque será gerido pela prefeitura, mas não descartou a possibilidade de privatização no futuro, como aconteceu recentemente com outros parques da cidade.
“Nesse momento, não está no plano fazer a concessão [à iniciativa privada] dessa área, porque a gente não tinha a segurança de quando isso ia começar. Tem todo um trabalho burocrático a ser feito para que isso venha a acontecer. A nossa prioridade é entregar o parque nesse momento. […] Se, em outro momento, poderá ser feito sem problema nenhum”, afirmou.
Ainda segundo o vice-prefeito, a expectativa é que, com o projeto, outros empreendimentos comerciais ocupem a região, melhorando a qualidade de vida das comunidades no entorno.
Questionado se haveria o risco de o custo de vida no bairro subir, afetando os moradores de baixa renda, Marques afirmou que a prefeitura vai acompanhar a “dinâmica local”.
“A dinâmica local vai mudar. A prefeitura precisa estar preparada para entender como o comportamento ali muda. O custo de vida pode ou não aumentar, a depender da área, das vias. Isso é uma dinâmica que vai ser, com o tempo, entendido melhor”, declarou.
Parque da Memória Ferroviária
Além do sistema viário e do Parque Leonardo Cisneiros, está prevista a construção de um Parque da Memória Ferroviária na área cedida pela União, que correspondia ao Pátio Ferroviário das Cinco Pontas. De acordo com o projeto, os galpões e o casario presentes no local serão restaurados.
A proposta é construir, nessas edificações históricas, um polo de cultura, gastronomia e economia criativa. Porém, não foi definido quais empreendimentos vão utilizar esses prédios.
“A conquista do Parque da Memória Ferroviária é uma conquista mais recente. Então, todo esse projeto está sendo aprimorado para a gente como vai ser feito, essa comunicação entre os dois parques e a Avenida Sul, todo o entorno dessa região”, informou o vice-prefeito Victor Marques.
Projeto Novo Recife, no Cais José Estelita, terá um parque na orla da Bacia do Pina
Moura Dubeux/Divulgação
Mais de dez anos de protestos
Desde que foi anunciado, entre as décadas de 2000 e 2010, o Projeto Novo Recife suscita debates e protestos de movimentos sociais. Relembre, na linha do tempo abaixo, os principais episódios envolvendo esse caso:
Dezembro de 2012: a primeira versão do projeto foi apresentada, gerando discussões, e aprovada pelo Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU) da prefeitura do Recife.
Dezembro de 2013: a prefeitura aprovou novas medidas referentes ao polêmico projeto, exigindo ações mitigadoras, adotadas para compensar possíveis danos causados pela construção. Nessa época, tramitavam na Justiça cinco ações questionando o Novo Recife.
Maio de 2014: o consórcio de construtoras iniciou a demolição dos galpões e, no dia seguinte, manifestantes ocuparam o terreno para impedir as obras.
Junho de 2014: após a Justiça determinar a reintegração de posse do terreno, o movimento Ocupe Estelita promoveu festas no local da ocupação, com shows de artistas pernambucanos, como o cantor Otto. No dia 17, houve um confronto com a Polícia Militar para que o acampamento fosse retirado do local.
Maio de 2015: no dia 7, manifestantes acamparam no prédio onde morava o então prefeito Geraldo Julio (PSB). O espaço foi liberado por ordem da Justiça.
Setembro de 2015: a Polícia Federal deflagrou uma operação para apurar fraudes no leilão ocorrido em 2008 que permitiu a compra do terreno. A suspeita era de que o Consórcio Novo Recife tivesse arrematado o terreno por um preço inferior ao do mercado em quase R$ 10 milhões.
Novembro de 2015: a compra do terreno foi anulada por uma decisão do juiz federal Roberto Wanderley Nogueira, da 1ª Vara da Justiça Federal em Pernambuco.
Janeiro de 2016: o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) entrou com uma ação civil pública (ACP) pedindo a anulação das reuniões do CDU que aprovaram o projeto urbanístico Novo Recife.
Novembro de 2017: o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5) não encontrou motivos legais para impedir a construção de prédios no terreno dos armazéns, derrubando a anulação do leilão realizado em 2008.
Março de 2019: o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) concluiu o levantamento histórico do Cais José Estelita, dentro do processo de licenciamento ambiental do projeto, finalizando o embargo imposto ao projeto desde 2014. Manifestantes voltaram a ocupar a área externa do terreno, tentando impedir a demolição dos armazéns, que acabou sendo autorizada pela Justiça. Dias depois, as estruturas foram demolidos e os ativistas deixaram o local.
6 de junho de 2024: após acordo com a União, a área do antigo Pátio Ferroviário foi incorporado ao Novo Recife, e o parque público, previsto como uma das ações mitigadoras do projeto, dobrou de tamanho.
16 de junho de 2024: integrantes do Ocupe Estelita celebraram dez anos do movimento, fazendo uma “inauguração simbólica” da área pública do projeto, batizado de “Parque da Resistência Leonardo Cisneiros”, em homenagem ao professor universitário que foi militante do movimento e morreu em 2021, aos 44 anos.
Confira, abaixo, mais imagens do projeto do parque público no Cais José Estelita:
Parque público do Projeto Novo Recife, no Cais José Estelita
Moura Dubeux/Divulgação
Projeto do parque público no Cais José Estelita, no Recife
Moura Dubeux/Divulgação
Projeto de parque público no Cais José Estelita, no Recife
Moura Dubeux/Divulgação
Alameda no parque público do Cais José Estelita vai conectar Avenida Dantas Barreto à orla
Moura Dubeux/Divulgação
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