William F. Laurance: Estradas são vetores do desmatamento e fragmentação da Amazônia

Construir mais estradas na Amazônia é o maior passo que o Estado brasileiro pode dar rumo à destruição irreversível da floresta. Essa foi a mensagem trazida pelo cientista climático William F. Laurance, professor da Universidade James Cook, Austrália, e terceiro conferencista da Reunião Magna 2025. “Na Amazônia, cada quilômetro de estradas oficiais gera 50 quilômetros de estradas não-oficiais que, por sua vez, levam a uma destruição 305 vezes maior do que a causada apenas pela construção da estrada oficial”.

Essas estradas ilegais, ou fantasmas, não aparece nos mapas e mesmo as melhores inteligências artificiais não conseguem detectá-las por satélite, tornando virtualmente possível para que as autoridades ambientais as monitorem. Laurance alerta que as projeções de impactos ambientais “subestimam drasticamente” esse efeito da infraestrutura.

Destruição ambiental causada pela abertura de estradas no Brasil é de 10 a 15 vezes maior do que em outras florestas tropicais. Em preto, as estradas oficiais, e, em amarelo, as estradas “fantasmas” que surgem a partir delas.

A forma tradicional de mobilidade na Amazônia são os rios, por onde passam toda forma de atividade econômica, inclusive as ilegais. Mas as estradas têm um agravante, a possibilidade de se construir anexos de forma ilimitada fragmenta as matas, criando territórios cada vez menores e sitiados, onde as relações ecológicas precisam lutar para se manter. “Os efeitos de borda são muito fortes na Amazônia, as bordas dos fragmentos ficam mais secas, com uma estrutura vegetal diferentes. Proliferam cipós e plantas pioneiras. Morrem as árvores grandes e médias, e aquelas que dependem de animais para dispersar sementes”, explicou o palestrante.

Essa mudança na composição vegetal significa uma perda de biomassa. Embora aparente continuar em pé, a floresta degradada sequestra muito menos carbono, serviço ambiental essencial para o controle das mudanças climáticas. Matéria orgânica morta, como restos de madeira e folhas, começam a se acumular nos fragmentos, servindo de combustível para incêndios cada vez maiores e mais frequentes. “A floresta está diminuindo e implodindo de fora para dentro”, diz Laurance.

Essa é uma das razões pelas quais algumas regiões do sul da Amazônia já deixaram de ser reservatórios de carbono e se tornaram emissoras. Nesse cenário de rápida degradação, o país corre o risco de perder muito rapidamente o bioma que é indispensável para segurar a temperatura do planeta e manter o nível de chuvas do Brasil central. “A melhor solução para o Brasil é manter as estradas fora da Amazônia”, sumarizou o palestrante.

Assista à conferência completa a partir dos 42m45s do vídeo abaixo:

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