O que está em jogo com a chegada da rival chinesa do iFood no Brasil

Keeta, da Meituan, planeja chegada ao mercado de delivery brasileiro
Keeta, da Meituan, planeja chegada ao mercado de delivery brasileiro | Foto: Divulgação

A gigante chinesa Meituan anunciou nesta semana sua entrada no mercado brasileiro de delivery. A investida será feita por meio da marca Keeta, que terá como principal desafio competir com o iFood, principal player local. A expectativa é para saber se a chinesa conseguirá conquistar um espaço onde outras empresas, como Uber Eats e Glovo, já fracassaram. Até o momento, porém, o anúncio da Meituan traz mais perguntas que respostas.

De acordo com a companhia, será investido US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,6 bilhões) em cinco anos para lançar a operação no Brasil. Fontes ouvidas pelo Startups alegam que o valor seria baixo para fazer frente aos custos de um negócio como esse no país – que envolvem contratação de equipe, suporte aos entregadores, marketing, tecnologia e despesas com armazenamento em nuvem, banco de dados, IA, entre outros.

Para se ter uma ideia, a Rappi anunciou recentemente um investimento de R$ 1,4 bilhão no Brasil nos próximos três anos para ampliar a presença da marca em restaurantes. O valor seria usado principalmente para subsidiar as tarifas até julho e focar em uma estratégia de menor preço no app. Ou seja, a Rappi teria programado mais de um terço do orçamento anual da Meituan apenas para investimento em marketing.

Em nota divulgada pela Keeta nesta terça-feira, a empresa prevê a contratação de 1 mil funcionários, dos quais 90% serão brasileiros. Segundo o acordo da companhia chinesa com o governo federal, a Keeta construirá uma rede nacional de entregas sob demanda, com 100 mil entregadores parceiros já no seu primeiro ano de operação. Além disso, como parte do seu plano de atendimento ao consumidor, a empresa vai gerar entre 3 mil a 4 mil vagas em centrais de atendimento no Nordeste do Brasil. 

O iFood tem hoje cerca de 7 mil funcionários em sua folha de pagamentos, sete vezes mais do que o previsto pela chinesa. Nos bastidores, a dúvida é como a empresa chinesa, sem know-how de Brasil, conseguirá fazer frente ao principal player local com quadro de funcionários reduzido e custos mais baixos.

No pacto firmado com o Brasil, a Keeta também se comprometeu a apoiar o crescimento dos restaurantes parceiros por meio de um conjunto completo de serviços, ferramentas de marketing e soluções operacionais para ajudá-los a expandir seus negócios.

Contudo, a chinesa terá que disputar espaço com a recém-chegada 99Food, que na semana passada anunciou que não cobrará taxas ou comissões dos estabelecimentos parceiros nos primeiros anos, garantindo a esses restaurantes lucros até 20% mais altos, segundo a plataforma. Atualmente, o iFood cobra de 12% a 23% de comissão sobre o valor total de pedidos, além de uma taxa de 3,2% sobre pedidos pagos na plataforma e uma mensalidade de R$ 130 a R$ 150, conforme o plano contratado.

A isenção de taxas por parte do app aumenta o custo da operação, ressalta uma fonte ouvida pelo Startups. Ou seja, se quiser fazer frente aos concorrentes brasileiros, a Keeta teria que aumentar seu orçamento previsto – ou encontrar outros atrativos.

Entregadores

Outro questionamento é sobre a relação da empresa com os entregadores, questão que tem gerado conflitos no Brasil com os players locais. Em abril deste ano, os entregadores de aplicativos fizeram dois dias de paralisação, reivindicando melhores condições de trabalho.

Atualmente, o iFood oferece aos entregadores benefícios como seguro pessoal gratuito, plano de saúde, suporte jurídico e psicológico, programas de educação, entre outros. No entanto, a categoria reivindica o aumento do valor pago por entrega, pagamento de taxa integral (sem descontos quando há múltiplos pedidos), além de limitação das rotas de bicicleta.

Na China, a relação da Meituan com seus entregadores tem chamado a atenção do governo e da sociedade civil, por conta das jornadas exaustivas e a pressão por entregas rápidas, o que aumenta o risco de acidentes. Em março deste ano, a Meituan anunciou que iria melhorar sua política de benefícios sociais aos seus entregadores full-time – consequência da entrada da plataforma chinesa JD.com no segmento de delivery, que prometeu fornecer planos de segurança social para os entregadores, incluindo benefícios do fundo de habitação e vários tipos de seguro.

A empresa ainda não detalhou qual seria sua política de suporte aos entregadores brasileiros e se haveria a criação de um pacote de benefícios similar ao que foi implementado na China.

O que diz o iFood

Desde a pandemia, o iFood tem sido alvo de acusações de monopólio no segmento de delivery. Rappi e Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) chegaram a ingressar com ações no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), acusando o aplicativo de abusar da sua posição dominante para exigir exclusividade dos restaurantes parceiros, o que impedia a atuação de outros aplicativos.

Em 2023, o iFood firmou um Termo de Compromisso de Cessação (TCC) com o Cade para endereçar os problemas concorrenciais, com cláusulas que impedem ou limitam a exigência de exclusividade nos contratos.

Procurado pela reportagem, o iFood informou que a “chegada de novas empresas reforça o potencial do setor de delivery e conveniência no Brasil – um país com dimensão continental e oportunidades relevantes de crescimento”.

“Nosso foco permanece em fortalecer o ecossistema que construímos ao longo de 14 anos, com base em inovação, tecnologia e geração de valor para consumidores, entregadores e estabelecimentos parceiros”, acrescenta a empresa.

O iFood destacou ainda que atua hoje como uma plataforma completa de conveniência, alinhada às necessidades dos consumidores, em verticais como mercado, farmácia e pet shops, além da alimentação.

“Aos estabelecimentos parceiros, a empresa oferece um hub de soluções que integram os fluxos físico e digital dos negócios de forma única, indo além da logística para delivery. Já para os entregadores, companhia oferece uma série de iniciativas adicionais aos ganhos, como seguro pessoal gratuito, plano de saúde, suporte jurídico e psicológico, programas de educação, entre outras. Seguimos focados em oferecer a melhor experiência, sempre inovando e investindo no país”, finaliza a nota.

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