O que são jardins de chuva e para o que servem?

jardins de chuvajardins de chuva

Os engenheiros da atualidade têm estado bastante preocupados com a situação das mudanças climáticas e como isso pode impactar nosso dia a dia. Nossas cidades já sofrem demais com as inundações e, em meio a isso, tem-se a promessa de usar jardins de chuva como ferramenta para transformar a maneira como lidamos com escoamento pluvial e seus devastadores efeitos. 

Recentemente, chamou a atenção da equipe do Engenharia 360 a iniciativa da prefeitura de Belo Horizonte de implantar 60 desses sistemas de jardins de chuva como estratégia para interceptar, filtrar e redirecionar a água da chuva, diminuindo drasticamente o volume que sobrecarga as galerias de drenagem da cidade. Sem dúvidas, esse processo de biorretenção deve ainda contribuir para a saúde do ecossistema urbano. E, por isso, é claro que não poderíamos deixar de compartilhar tal exemplo aqui em nosso portal.

jardins de chuva
Imagem de water.epa.gov reproduzida via Paisagismo em Foco

Confira no artigo a seguir tudo sobre a eficácia dos jardins de chuva e mais detalhes sobre essa criativa combinação de engenharia e paisagismo!

Desvendando o conceito de jardins de chuva

Resumidamente, podemos dizer que jardins de chuva são estruturas de engenharia projetadas especialmente para captação, filtragem e infiltração da água da chuva no solo, proveniente de diversas superfícies impermeáveis, como telhados, pátios, gramados, calçadas e ruas. Elas geralmente se valem de depressões em terrenos e calçadas onde a água já tende a se acumular naturalmente. Sua composição difere de um jardim convencional, ajudando até mesmo a filtrar poluentes, promovendo a recarga de aquíferos e contribuindo para o equilíbrio ecológico nas cidades.

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squema de biovaleta – Imagem de Nathaniel S Cormier em Revistas USP reproduzida de eCycle

Então, os jardins de chuva seriam indicados para combater alagamentos urbanos, especialmente em grandes centros, onde o concreto e o asfalto impedem a filtração natural da água no subsolo. A ideia é que funcione como uma verdadeira “esponja” – muito além de um jardim aquático, um lago ou pântano. No dia a dia, precisa permanecer seco e oferecer rápida drenagem durante e após eventos de chuva (período de aproximadamente de 12 a 48 horas). E durante esse tempo, deve impedir a proliferação de mosquitos, um problema comum em áreas com acúmulo de água parada.

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Diferença entre jardins de chuva e jardins convencionais

A principal diferença entre a engenharia de um jardim de chuva e um jardim convencional está na preparação do solo. Claro que a composição exata da mistura de preparação dessa terra vai depender das características do solo original, inclusive tornando a análise de solo uma etapa importante do processo de construção deste jardim. Ademais, deve-se fazer a incorporação de vegetação nativa e realizar manutenção periódica para eliminar a necessidade de fertilizantes.

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Jardim de chuva no parque municipal Lagoa do Nado, em Belo Horizonte (MG) – Imagem de Nereu Jr., divulgação via Um Só Planeta

Biovaletas versus jardins de chuva

Estruturas de biovaletas utilizadas em jardins convencionais até que compartilham princípios semelhantes aos jardins de chuva, como a biorretenção. Mas estamos falando de estruturas de tamanho e aplicação diferentes. As biovaletas são menores e com formato de depressões lineares – vemos muito sua utilização em escoamento de ruas e estacionamentos. Já os jardins de chuva oferecem áreas permeáveis maiores, sendo mais eficazes na infiltração de um volume mais significativo de água no solo.

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Imagem reproduzida via Paisagismo em Foco

Funcionamento básico dos jardins de chuva

O funcionamento dos jardins de chuva é bastante simples! Para funcionarem realmente como “esponjas” urbanas, sua camada superior deve ser preparada com matéria orgânica e plantas nativas. Assim, quando chove e a água escoa por superfícies impermeáveis, o líquido chega até esse jardim e é parcialmente absorvido, enquanto o restante vai infiltrando lentamente no subsolo.

Importância e benefícios dos jardins de chuva para as cidades

  • Reduzem o escoamento superficial.
  • Recarregam os lençóis freáticos.
  • Reduzem a temperatura local por evapotranspiração.
  • Melhoram a qualidade da água ao remover poluentes.
  • Diminuem o efeito das ilhas de calor nas cidades.
  • Estimulam a biodiversidade urbana.
  • Reduzem a erosão do solo durante chuvas fortes.
  • Substituem sumidouros artificiais com eficácia.
  • Têm implantação estratégica, captando água nas partes mais altas.
  • São soluções de baixo custo para drenagem urbana.
  • Contribuem para a criação de corredores ecológicos urbanos.
  • Podem ser adaptados para melhorar a drenagem em solos pouco permeáveis.

Como são projetados e construídos os jardins de chuva

Para que um jardim de chuva possa ser integrado à infraestrutura de uma cidade, é preciso que antes sejam realizadas instalações de canos em meio-fio, para direcionar adequadamente o fluxo de água. Pode-se dizer que o momento ideal para a construção desse tipo de jardim seria no período em que o solo já está suficientemente seco para ser trabalhado e não compactado – geralmente no início da primavera ou do outono -, favorecendo o estabelecimento das plantas.

Quer montar o seu próprio jardim de chuva? Então, siga o passo a passo a seguir:

Passo 1

Escolher o local de implantação do jardim de chuva, como partes mais baixas de um terreno ou próximo a calhas e sarjetas. Deve-se evitar locais próximos a fundações de casas, tubulações ou redes elétricas subterrâneas.

Passo 2

Delimitar o formato do jardim através de mangueiras ou estacas, seguido da retirada de toda a vegetação existente – se a área for gramada, será preciso aplicar previamente um herbicida para facilitar a remoção da grama.

Passo 3

Escavar a área marcada até uma profundidade de 20 a 30 cm, conforme o tipo de solo e a intensidade das chuvas na região. O solo retirado pode ser utilizado para construir uma berma, ou seja, um cômoro ao redor de três lados do jardim; essa borda pode ter cerca de 30 cm de largura e 10 de altura, e deve ser bem compactada para reter a água da chuva.

Passo 4

Criar um sistema de drenagem de emergência, que pode ser um pequeno entalhe em um dos lados da berma, preenchido com cascalho, formando um canal. Esse canal deve direcionar a água excedente para um sistema de escape, evitando transbordamento e erosão.

Passo 5

Enriquecer o solo com matéria orgânica e a areia para aumentar a capacidade de drenagem e retenção de nutrientes. Misture bem composto caseiro, bolor de folhas ou esterco bem curtido com a terra retirada e devolva-a à cavidade até alcançar o nível original do solo.

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Imagem reproduzida de usegreenco

Passo 6

Escolher as espécies de plantas do jardim dentre as opções capazes de suportar excesso ou falta de água – melhor dar preferência às espécies nativas e resistentes. Como exemplo, podemos citar as flores perenes, as gramíneas ornamentais e os arbustos de pequeno porte. Aliás, no momento do plantio, respeite a profundidade original dos recipientes em que as mudas estavam para evitar choque de adaptação e melhorar o desenvolvimento das raízes.

Passo 7

Cobrir o solo com casca de árvore, palha ou pedrinhas decorativas para manter a umidade do solo e evitar o crescimento de ervas daninhas.

Passo 8

Realizar a regra regular, principalmente no verão e em períodos de seca, e a manutenção periódica, incluindo poda das plantas e verificação da limpeza do canal de drenagem.

Exemplos de jardins de chuva pelo Brasil

Nos últimos anos, com a intensificação das mudanças no clima, diversas cidades brasileiras têm adotado os jardins de chuva como parte de políticas públicas de gestão hídrica e adaptação ambiental. O caso de Belo Horizonte é um exemplo, especialmente com os jardins inaugurados nas bacias dos córregos Nado e Vilarinho, áreas historicamente afetadas por enchentes. Assim, os jardins são uma tentativa de garantia de ação preventiva. Sem contar que assume uma função ornamental, contribuindo para o embelezamento urbano.

Outro caso é em São Paulo, onde os jardins de chuva fazem parte de um amplo plano de transformação da cidade em uma “cidade esponja”. Atualmente, há mais de 400 unidades espalhadas pela metrópole, muitas delas utilizando agregados reciclados provenientes de reformas de guias e sarjetas. A cidade ainda lançou um programa de participação popular incentivando a adoção de jardins para isenções fiscais aos moradores que assumirem a manutenção desses espaços.

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Fontes: Estado de Minas, Um Só Planeta, eCycle,

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