Lula pede ajuda a Xi Jinping para intervir no TikTok no Brasil e Janja diz que o algoritmo favorece à direita

Durante visita oficial à China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou ter solicitado pessoalmente ao líder chinês Xi Jinping o envio de um representante de confiança para tratar de temas relacionados ao ambiente digital, com ênfase especial no TikTok. A declaração veio após um jantar reservado, mas acabou ganhando repercussão pública e tensionou bastidores diplomáticos.‍

Perguntei ao companheiro Xi se ele poderia enviar alguém de confiança para discutirmos a questão digital, sobretudo o TikTok”, afirmou Lula em entrevista coletiva em Pequim. Na ocasião, a primeira-dama, Janja da Silva, também expôs preocupações sobre os impactos das redes sociais, especialmente no que diz respeito a conteúdos nocivos voltados a mulheres e crianças.

A reação de Xi Jinping, segundo o presidente brasileiro, foi direta: o Brasil tem plena autonomia para regulamentar o funcionamento das plataformas digitais dentro de seu território. Para Lula, a resposta foi “óbvia”, mas simbólica. 

Um pedido com repercussões inesperadas‍

Apesar do tom informal do encontro, relatos de bastidores indicam que a fala de Janja, durante o jantar, teria causado certo desconforto entre representantes chineses. Pessoas próximas à comitiva brasileira informaram que a primeira-dama questionou o papel do algoritmo do TikTok, sugerindo um possível viés político alinhado à direita, o que surpreendeu os anfitriões.

A situação se agravou com o vazamento da conversa. Irritado, Lula criticou o fato de informações confidenciais terem sido repassadas à imprensa. “Como isso chegou aos jornais? Estávamos em um ambiente restrito, com ministros e parlamentares. Alguém se deu ao trabalho de vazar o conteúdo de um jantar particular”, lamentou.

Tentando minimizar o ocorrido, o presidente reforçou que foi ele quem conduziu a abordagem com Xi, e que Janja apenas pediu a palavra para contextualizar o cenário brasileiro. Minha mulher não é uma cidadã de segunda classe. Ela entende mais de rede digital do que eu”, declarou.

Debate sobre regulação volta ao centro do palco político‍

Desde o engavetamento do chamado “PL das Fake News” em 2023, o tema sobre o controle das redes sociais vem sendo tratado com hesitação no Congresso. Lula, por sua vez, tem insistido na urgência de estabelecer regras claras para a atuação de plataformas como o TikTok e o Instagram no Brasil.‍

Em janeiro, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, chegou a afirmar que o governo prepararia um novo projeto de regulação a ser enviado ao Parlamento no início do ano legislativo. O texto, no entanto, nunca foi apresentado.

Sem avanços concretos no Legislativo, o Executivo cogita apoiar projetos em tramitação, mesmo que originados pela oposição. Entre os textos analisados estão propostas do deputado Silas Câmara (Republicanos-AM) e da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), ambos nomes ligados à base bolsonarista. Ainda assim, nenhuma dessas iniciativas prosperou até o momento. 

A disputa geopolítica por trás da plataforma‍

O TikTok, pertencente à empresa chinesa ByteDance, tornou-se nos últimos anos um dos principais pontos de atrito entre Estados Unidos e China. O governo americano pressiona pela venda da plataforma dentro de seu território, sob a justificativa de riscos à segurança nacional.

Neste contexto internacional delicado, a tentativa do Brasil de dialogar diretamente com a China sobre o aplicativo insere o país em uma disputa sensível entre potências, reacendendo discussões sobre soberania digital, liberdade de expressão e responsabilidade das empresas de tecnologia.

Para Lula, no entanto, o objetivo é claro: garantir que o Brasil tenha condições de proteger sua população dos efeitos mais tóxicos da internet. “Não para continuar assistindo às redes cometerem absurdos sem que tenhamos ferramentas legais para reagir”, concluiu.

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