Moody’s tira o ‘triple A’ dos EUA, citando déficit e dívida nas alturas

Excepcionalismo americano? Pense duas vezes.

A Moody’s rebaixou o crédito dos EUA agora à tarde, depois do fechamento dos mercados.

O país já não ostenta mais a nota triple-A na agência de classificação de risco; a Moody’s é a terceira das três principais firmas de rating a retirar a nota máxima dos EUA. 

A Moody’s justificou o downgrade citando o desequilíbrio nas contas públicas e a alta no custo da dívida num cenário de aumento nas taxas de juros.  

“Sucessivos governos e legislaturas falharam em chegar a um acordo sobre medidas para reverter a tendência de grandes déficits fiscais e custo dos juros crescentes,” disse a agência em seu comunicado

“Não acreditamos que, sob as atuais propostas em consideração, haverá reduções significativas nos próximos anos dos gastos obrigatórios nem dos déficits,” afirmou a Moody’s. 

Após a notícia, os Treasuries caíram nos mercados futuros, e o yield de 10 anos foi a 4,49%. O índice S&P 500 caiu 0,5% no after market. 

Os EUA já não tinham o ‘AAA’ nas duas outras grandes agências de rating. A Fitch deu o downgrade em 2023, e a S&P Global Rating, em 2011. 

Na escala da Moody’s, com 21 notas, a classificação americana caiu de ‘AAA’ para ‘Aa1’. 

“Reconhecemos as qualidades expressivas da economia e das finanças dos EUA, mas acreditamos que isso não é mais suficiente para contrabalançar totalmente o declínio nas métricas fiscais,” disseram os analistas no relatório

O déficit federal dos EUA está ao redor de US$ 2 trilhões ao ano – o equivalente a 6% do PIB. 

A Moody’s havia colocado um viés negativo no rating soberano em novembro. 

As promessas de cortes nas despesas de Donald Trump – incluindo o Departament of Government Efficiency (DOGE) – não demoveram os analistas da Moody’s.    

De acordo com agência, se não houver ajustes na tributação e nos gastos, “a flexibilidade orçamentária permaneça limitada, com os gastos obrigatórios, incluindo despesas com juros, projetados para aumentar para cerca de 78% do total de gastos até 2035, ante cerca de 73% em 2024”. 

Ainda de acordo com a Moody’s, se a Lei de Cortes de Impostos e Empregos de 2017 for prorrogada – “que é o nosso cenário base” –, haverá haverá um aumento de cerca de US$ 4 trilhões ao déficit fiscal primário federal (excluindo o pagamento de juros) na próxima década. 

“Como resultado, esperamos que os déficits federais aumentem, atingindo quase 9% do PIB até 2035, ante 6,4% em 2024, impulsionados principalmente pelo aumento do pagamento de juros sobre a dívida, aumento dos gastos com direitos e geração de receita relativamente baixa,” afirma a agência. 

Segundo a Moody’s, a dívida pública federal aumentará para cerca de 134% do PIB até 2035, em comparação com 98% em 2024. 

 “Apesar da alta demanda por ativos do Tesouro dos EUA, os rendimentos mais altos dos títulos do Tesouro desde 2021 contribuíram para um declínio na capacidade de pagamento da dívida,” destaca o relatório. 

Pelas projeções da agência, os pagamentos de juros federais devem absorver cerca de 30% da receita até 2035, acima dos cerca de 18% em 2024 e 9% em 2021. 

A carga de juros do governo geral dos EUA, que leva em conta a dívida federal, estadual e local, absorveu 12% da receita em 2024, em comparação com 1,6% para títulos soberanos com classificação AAA. 

Na avaliação de Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital, o rebaixamento reflete uma elevação nas incertezas quanto à sustentabilidade fiscal dos EUA, o que reforça a cautela em relação à trajetória dos ativos de risco.

“Essa revisão pode contribuir para a narrativa de repatriação externa que foi um dos principais motores para o recente enfraquecimento do dólar globalmente,” comentou.

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