Rossieli Soares deixa a Secretaria de Educação do Pará; governo não anunciou substituto

Saída ocorre após meses de protestos, ocupações e críticas a políticas consideradas autoritárias e excludentes; governo ainda não anunciou substituto O secretário de Estado de Educação do Pará, Rossieli Soares, entregou o cargo ao governador Helder Barbalho na sexta-feira (13). A saída, confirmada neste sábado (14) por meio de uma postagem nas redes sociais, encerra uma gestão marcada por embates com lideranças indígenas, professores e sindicatos, além de protestos e ocupações que pressionavam pela sua exoneração.
Em nota publicada no Instagram, o agora ex-secretário disse sair com “sentimento de dever cumprido” e agradeceu à equipe da Seduc, ao governador Helder Barbalho e à vice-governadora Hana Ghassan. “Foi uma honra servir à educação paraense. O trabalho continua – e a estrela do Pará vai seguir brilhando cada vez mais alto”, escreveu.
A gestão de Rossieli foi alvo de críticas desde o início, com destaque para a aprovação da Lei 10.820/2024, que extinguiu os modelos SOME e SOMEI – programas de ensino presencial voltados para comunidades indígenas, quilombolas e rurais – e os substituiu por aulas a distância transmitidas por TV e internet via satélite. A medida foi duramente criticada por ignorar a falta de infraestrutura tecnológica em muitas aldeias e regiões isoladas.
A reação foi imediata: lideranças indígenas, como Alessandra Korap Munduruku, classificaram a decisão como “violação da cultura” e “abandono da educação indígena”. No início de 2025, cerca de 300 indígenas de 22 etnias, além de quilombolas e representantes de movimentos populares, ocuparam a sede da Seduc em Belém. A ocupação durou quase um mês e terminou sob denúncias de repressão policial, incluindo corte de energia e alimentos.
A crise também teve repercussão nacional, com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) levando o caso ao Supremo Tribunal Federal, apontando inconstitucionalidade na nova lei. Apesar de uma reunião entre os manifestantes e o governador Helder Barbalho, com presença da ministra Sônia Guajajara, o impasse não foi resolvido.
Rossieli também enfrentou uma greve dos professores, deflagrada em janeiro pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp). A categoria protestava contra cortes salariais, precarização das condições de trabalho e a condução da reforma curricular, que resultou em falhas de lotação e ausência de profissionais em diversas escolas.
A gestão ainda foi marcada por denúncias envolvendo contratos milionários com empresas privadas, como a compra de kits de livros e acordos com a empresa de internet Starlink, levantando suspeitas de superfaturamento e conflitos de interesse. A compra de 1,43 milhão de kits para uma rede com 600 mil estudantes foi questionada por sua viabilidade e impacto.
Antes de assumir a Seduc no Pará, Rossieli já havia ocupado cargos de destaque na área: foi ministro da Educação no governo Michel Temer (2018), secretário de Educação de São Paulo (2019-2022) e do Amazonas (2012-2016). Sua passagem pelo Pará foi marcada tanto por iniciativas como a expansão do ensino integral e a criação do Centro de Mídias da Educação Paraense (Cemep), quanto pela dificuldade de diálogo com as comunidades escolares.
A exoneração ocorre em um momento delicado para o governo estadual, às vésperas da COP 30, quando Belém sediará um dos principais eventos globais sobre clima e sustentabilidade. O novo titular da Secretaria de Educação ainda não foi anunciado, mas terá o desafio de recompor pontes com as comunidades tradicionais e garantir que as políticas educacionais respeitem a diversidade cultural do estado.
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