Quindim: veja a origem e como esse doce se popularizou

Com raízes portuguesas e nome africano, um saboroso doce à base de ovos e coco ralado se expandiu pelo Brasil. Trata-se do quindim, que foi baseado a partir de uma outra guloseima de Portugal, mas que adquiriu um aspecto único em solo verde e amarelo.
O surgimento desse doce popular não tem uma data precisa, porém apareceu pela primeira vez nos conventos de Portugal, por volta da época da colonização do Brasil.
As freiras lusitanas de Leiria, entre a Beira Litoral e a Estremadura, usavam claras de ovos como base para engomar suas roupas. Isso gerava muitas gemas, que poderiam ser desperdiçadas, algo que as incomodava.
A partir disso, as freiras foram para a cozinha e criaram receitas diversas com as gemas, entre elas o Brisa-do-Lis, conhecido como um doce conventual.
Os portugueses apreciaram o novo doce das freiras, que era feito de uma receita à base de gemas (ou ovos inteiros), açúcar e amêndoas.
Quando os portugueses vieram colonizar o Brasil trouxeram as receitas que mais gostavam. No entanto, eles não contavam com a ausência de alguns ingredientes para prepará-las, como as amêndoas.
Com toda a sua criatividade para a gastronomia, as africanas decidiram aproveitar outro ingrediente que existia em abundância nas terras brasileiras: o coco.
Desse modo, a mudança de ingrediente transformou a receita em um novo doce. A substituição das amêndoas pelo coco ralado trouxe à tona a criação do quindim.
As escravas africanas o batizaram de quindim, que significa encanto ou dengo, uma alusão ao fato de ser delicado, e vem do quimbundo, que era falada por povos de Angola
O quindim, como todo bom brasileiro, é uma grande miscigenação. Ele tem raízes portuguesas, porém foi elaborado e batizado por africanas em solo brasileiro.
Quindim, portanto, é um doce que tem como ingredientes gema de ovo, açúcar e coco ralado e se tornou popular em diversas regiões do Brasil, sobretudo no Nordeste.
Normalmente, o doce pode ser preparado em formas pequenas como as de empadinhas e se apresenta da gema de um ovo, tendo um sabor adocicado e característico.
No entanto, esse doce também pode ser preparado em formas grandes de pudim. Quando são utilizadas formas com um comprimento maior, ele se transforma em quindão.
Tanto o quindim, quanto o quindão, tem o mesmo sabor acentuado de ovos e coco e a coloração amarelada. O que muda é justamente o tamanho do doce, que irá depender da forma.
Em seu preparo, a mistura é batida até ficar homogênea, sendo assada em banho-maria. Dependendo do tamanho da forma, a quantidade dos ingredientes pode mudar.
O quindim agora também pode ser comercializada em lata, assim como outros doces como a goiabada. O consumidor só terá o trabalho de cortar o pedaço que deseja e saboreá-lo.
O quindim não foi a única receita lusitana adaptada no Brasil. Afinal, logo que desembarcaram no solo em que se plantando, tudo dá, eles escravizaram índios e entregaram as cozinhas às mulheres nativas, as cunhãs.
Com a escravização, os portugueses trouxeram escravos da África Ocidental, ampla região dominada pelo grupo étnico e linguístico dos iorubanos. No Brasil, eles foram distribuídos nos engenhos e plantações, O controle da cozinha foi para as escravas, as mucamas.
Antigamente, chamava-se também quindim de iaiá. Isso porque Íaiá era o tratamento que os escravos davam às meninas e às moças da casa grande.
Existe um samba clássico do célebre Ary Barroso intitulado “Os Quindins de Iaiá”. A canção fez sucesso internacional na década de 1940, cantado por Aurora Miranda no filme da “The Three Caballeros”, da Walt Disney Productions.

Assim, o surgimento deste doce coincidiu com o período no qual as instituições religiosas lusitanas tiveram a disponibilidade de açúcar. Na época, as plantações e engenhos de cana no Arquipélago da Madeira.
A maioria das mucamas eram filhas dos orixás (divindades cultuadas pelos iorubás (da atual Nigéria, Benin e Togo), trazidas ao Brasil pelos escravos
Nos terreiros das religiões de matriz africana, o quindim foi oferecido a Oxum, orixá feminino da beleza, amor, prosperidade, riqueza, das águas doces, rios e cachoeiras, cultuada no candomblé e na umbanda.
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