Relembre 8 produtos da Microsoft que hoje estão mortos e enterrados

No mundo da tecnologia, poucas empresas possuem uma história tão rica e duradoura quanto a Microsoft. Fundada em 1975, a gigante de Redmond construiu um império que a transformou em uma das corporações mais valiosas do planeta. Mas o que muitos não percebem é que, por trás desse sucesso monumental, existe um vasto cemitério de produtos que custaram bilhões de dólares e acabaram fracassando retumbantemente no mercado.

Para cada Windows ou Office bem-sucedido, há dezenas de apostas que não deram certo. Produtos que foram concebidos nos laboratórios da empresa, receberam investimentos massivos em desenvolvimento e marketing, mas que acabaram sendo rejeitados pelos consumidores ou superados por concorrentes mais ágeis. Alguns deles chegaram a ter momentos de glória, enquanto outros mal saíram do papel antes de serem enterrados.

O que é mais fascinante nessa história de fracassos é que muitas dessas apostas eram tecnicamente competentes e, em alguns casos, até estavam à frente de seu tempo. Mas como qualquer empresa que arrisca e inova constantemente, a Microsoft acumulou diversos tombos ao longo de sua jornada de quase meio século – alguns tão espetaculares que entraram para a história da tecnologia como exemplos de como até mesmo os maiores gigantes podem errar feio.

Neste artigo, vamos revisitar oito projetos ambiciosos da Microsoft que, por diversos motivos, acabaram descontinuados e hoje fazem parte apenas da memória dos usuários mais saudosistas. Do assistente virtual Cortana ao outrora onipresente Internet Explorer, estas são histórias que nos mostram como até mesmo as melhores ideias podem falhar quando não conseguem conquistar o coração (e os bolsos) dos consumidores.

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01. Cortana

Cortana

A assistente virtual da Microsoft nasceu em 2014 com grandes ambições. Inspirada na personagem de inteligência artificial da série de jogos Halo, a Cortana foi criada para competir diretamente com Siri (Apple), Google Assistente e Alexa (Amazon), chegando a ser promovida como um dos grandes diferenciais do Windows 10 e do falecido Windows Phone.

Por que falhou

Apesar das boas intenções, a assistente nunca conseguiu estabelecer uma base de usuários sólida. Entre os fatores que contribuíram para seu fracasso estão a falta de integração com outros ecossistemas além dos produtos Microsoft, funcionalidades limitadas quando comparada às concorrentes e a ausência de dispositivos dedicados como os smart speakers que popularizaram a Alexa.

Além disso, é importante ressaltar que em 2014 e nos anos seguintes, as tecnologias que compõem a inteligência artificial como a conhecemos hoje ainda estavam em estágios embrionários. Ou seja, a Cortana não dispunha de tecnologia suficiente para ser uma verdadeira assistente digital. Até mesmo hoje a Alexa e a Siri pecam em vários aspectos.

A assistente foi gradualmente perdendo relevância ao longo dos anos. Em 2019, a Microsoft começou a remover Cortana de diversos produtos, como o Xbox, e em julho de 2023, anunciou oficialmente o fim do aplicativo autônomo para Windows. Atualmente, ela sobrevive apenas como parte de alguns produtos empresariais da empresa, como o Microsoft 365.

Legado e aprendizados

O fracasso da Cortana ensinou à Microsoft uma lição valiosa sobre o mercado de assistentes virtuais: não basta ter uma boa tecnologia se ela não estiver presente nos dispositivos que os consumidores realmente usam no dia a dia. Esse aprendizado ajudou a empresa a aprimorar sua estratégia para serviços baseados em IA, focando mais no mercado corporativo e menos no consumidor final.

02. Groove Music

 Groove

O serviço de streaming musical da Microsoft iniciou sua vida como Xbox Music em 2012, sendo rebatizado como Groove Music em 2015. A plataforma oferecia recursos similares aos concorrentes: streaming ilimitado por assinatura, compra de músicas, armazenamento em nuvem e aplicativos para diferentes plataformas.

Por que falhou

O Groove Music nunca conseguiu decolar em um mercado já dominado por Spotify e Apple Music. Entre os problemas que selaram seu destino estava um catálogo inferior ao dos concorrentes, especialmente em mercados fora dos EUA, experiência de usuário menos intuitiva e falta de recursos sociais que faziam sucesso em outras plataformas.

Em 2017, a Microsoft anunciou o fim do serviço, fechando uma parceria com o Spotify para que seus usuários transferissem suas bibliotecas e playlists. Foi um raro momento em que a empresa admitiu publicamente sua derrota e recomendou que seus clientes migrassem para um concorrente.

Legado e aprendizados

O fracasso do Groove Music foi um ponto de virada para a Microsoft no mercado de consumo. A partir desse momento, a empresa começou a ser mais pragmática sobre quais batalhas valia a pena lutar, preferindo fazer parcerias estratégicas em mercados onde não conseguia dominar em vez de queimar dinheiro em causa perdida.

03. Internet Explorer

Internet Explorer

Lançado em 1995, o Internet Explorer se tornou o navegador mais popular do mundo durante muitos anos, chegando a deter 95% do mercado em seu auge no início dos anos 2000. Essa dominância, porém, não veio apenas por mérito próprio, mas também por sua integração ao Windows e práticas anticompetitivas que levaram a Microsoft a enfrentar processos antitruste.

Por que falhou

Após conquistar o mercado, a Microsoft reduziu os investimentos no desenvolvimento do navegador, o que abriu espaço para concorrentes como Firefox e Chrome. O Internet Explorer ganhou fama de ser lento, inseguro e não aderente aos padrões web, tornando-se alvo de piadas entre usuários e desenvolvedores.

A Microsoft tentou revitalizar o navegador com o Internet Explorer 9 e versões posteriores, mas o dano à reputação já estava feito. Em 2015, a empresa lançou o Microsoft Edge como substituto, e em 2022, o Internet Explorer foi oficialmente descontinuado após 27 anos de existência.

Legado e aprendizados

O caso do Internet Explorer é um estudo sobre como a complacência pode destruir um produto dominante. Ao se acomodar com o sucesso e parar de inovar, a Microsoft permitiu que concorrentes a ultrapassassem. Essa lição foi fundamental para a transformação da empresa sob a liderança de Satya Nadella, que preconiza a inovação constante mesmo em áreas onde a empresa já é líder.

04. Microsoft Band

 Band

Lançada em 2014, a pulseira inteligente da Microsoft era um dispositivo vestível focado em fitness e saúde. O Band contava com sensores avançados para monitoramento cardíaco, qualidade do sono, exposição UV e até mesmo altímetro barométrico. Integrava-se com smartphones Android, iOS e Windows Phone.

Por que falhou

Apesar da tecnologia avançada, o Microsoft Band sofreu com problemas fundamentais. O design era considerado desconfortável para uso prolongado, a durabilidade deixava a desejar, com muitos usuários relatando desgaste excessivo da pulseira e quebra da tela, e o software apresentava bugs frequentes.

A Microsoft lançou uma segunda versão em 2015 com melhorias no design e recursos, mas não foi suficiente. Em 2016, a empresa descontinuou a linha e encerrou os serviços relacionados em 2019.

Legado e aprendizados

O fracasso do Band mostrou à Microsoft que hardware é difícil, especialmente em categorias novas onde a experiência do usuário precisa ser perfeita desde a primeira versão. A empresa aplicou essas lições ao desenvolver produtos como o Surface, garantindo que conforto, durabilidade e design fossem prioridades desde o início.

05. Microsoft Kin

Microsoft Kin

Os telefones Kin One e Kin Two foram lançados em 2010 como dispositivos focados em redes sociais, mirando especificamente o público adolescente. Desenvolvidos pela equipe que a Microsoft adquiriu da Danger (criadora do famoso Sidekick), os aparelhos tinham características únicas como o “Spot”, uma área onde os usuários podiam arrastar conteúdo para compartilhamento rápido.

Por que falhou

O Microsoft Kin talvez seja o maior fracasso da história recente da empresa, sendo descontinuado apenas seis semanas após seu lançamento. Os motivos para o fiasco incluem preços altos (especialmente considerando os planos de dados obrigatórios), hardware subequipado, software incompleto e timing terrível, lançado quando a Microsoft já estava preparando o Windows Phone.

Estima-se que a Microsoft vendeu apenas algumas milhares de unidades, com relatórios sugerindo que a Verizon (operadora exclusiva nos EUA) devolveu a maioria dos aparelhos não vendidos para a empresa. O prejuízo total do projeto foi estimado entre 1 e 1,5 bilhão de dólares.

Legado e aprendizados

O Kin ensinou à Microsoft uma dura lição sobre foco e coesão de estratégia. Lançar um dispositivo que competia com seu próprio sistema operacional móvel foi uma decisão desastrosa que diluiu recursos e confundiu consumidores. A experiência provavelmente contribuiu para que a empresa evitasse fragmentação semelhante em iniciativas futuras.

06. Skype

Microsoft

O Skype foi pioneiro nas chamadas de voz e vídeo pela internet, sendo fundado em 2003 e adquirido pela Microsoft em 2011 por 8,5 bilhões de dólares. Durante muitos anos, o nome “Skype” era praticamente sinônimo de videochamadas, dominando o mercado corporativo e pessoal.

Por que falhou

Após a aquisição, a Microsoft fez mudanças controversas na interface e funcionamento do Skype, alienando usuários fiéis. O surgimento de concorrentes como WhatsApp, Zoom e Google Meet, com experiências mais simples e modernas, gradualmente corroeu a base de usuários do Skype.

A pandemia de COVID-19 deveria ter sido o momento de glória do Skype, mas a plataforma perdeu terreno para o Zoom, que se tornou o padrão para videochamadas durante o isolamento social. Em 2023, a Microsoft anunciou que iria encerrar o Skype, consolidando o Teams como sua principal ferramenta de comunicação.

Legado e aprendizados

O declínio do Skype é um caso clássico de como mesmo produtos estabelecidos podem perder relevância quando não conseguem se adaptar às mudanças no comportamento dos usuários. A Microsoft aprendeu essa lição e aplicou-a ao Teams, uma plataforma que evolui constantemente e se adapta rapidamente às necessidades do mercado.

07. Windows Phone

Windows Phone

 

O sistema móvel da Microsoft foi lançado em 2010 como sucessor do Windows Mobile, trazendo uma interface totalmente repensada com os característicos “Live Tiles” (blocos vivos). A Microsoft formou uma parceria estratégica com a Nokia, que se tornou a principal fabricante de aparelhos com Windows Phone.

Por que falhou

Apesar do visual distintivo e da experiência de usuário elogiada, o Windows Phone nunca conseguiu superar a barreira crítica de adoção. O principal problema foi o “paradoxo do ovo e da galinha” com os aplicativos: desenvolvedores não criavam apps para uma plataforma com poucos usuários, e os usuários não adotavam uma plataforma com poucos apps.

A Microsoft chegou tarde ao mercado, quando Android e iOS já estavam estabelecidos. Em 2014, a empresa comprou a divisão de celulares da Nokia por 7,2 bilhões de dólares, mas já era tarde demais. O sistema foi descontinuado oficialmente em 2017, marcando a saída da Microsoft do mercado de sistemas operacionais móveis.

Legado e aprendizados

O fracasso do Windows Phone ensinou à Microsoft que mesmo com recursos financeiros abundantes, é extremamente difícil entrar em um mercado dominado por dois players estabelecidos. A empresa redirecionou sua estratégia móvel para desenvolver aplicativos excelentes para Android e iOS, em vez de tentar competir com um sistema próprio.

08. Zune

 Zune

Lançado em 2006, o Zune foi a resposta da Microsoft ao domínio do iPod da Apple no mercado de reprodutores de música digital. O dispositivo tinha recursos competitivos e algumas inovações interessantes, como a capacidade de compartilhar músicas sem fio entre usuários (limitado a três reproduções) e uma tela colorida maior que a do iPod.

Por que falhou

O Zune chegou tarde ao mercado, quando o iPod já era dominante e os smartphones começavam a surgir como alternativa para ouvir música. A linha sofreu com marketing inconsistente, disponibilidade limitada (foi lançado apenas nos EUA inicialmente) e falta de um ecossistema forte como o iTunes da Apple.

Embora a Microsoft tenha lançado modelos atualizados como o Zune HD em 2009, que recebeu críticas positivas pelo hardware e interface, a linha nunca ganhou tração significativa. Em 2011, a Microsoft descontinuou o hardware Zune, e em 2015, encerrou todos os serviços relacionados.

Legado e aprendizados

O fracasso do Zune mostrou que mesmo um produto tecnicamente competitivo pode falhar se não oferecer uma vantagem clara sobre os concorrentes. A experiência influenciou abordagens futuras da Microsoft em hardware de consumo, como a linha Surface, onde a empresa buscou criar categorias novas em vez de apenas imitar concorrentes estabelecidos.

Os fracassos que moldaram o futuro da Microsoft

Olhando para este cemitério de produtos, podemos observar padrões interessantes sobre os erros que a Microsoft cometeu ao longo dos anos. Em muitos casos, a empresa chegou tarde a mercados já estabelecidos, não conseguiu criar ecossistemas completos e atraentes, ou falhou em manter a inovação após conquistar dominância.

Esses fracassos, no entanto, não foram em vão. Cada produto descontinuado trouxe lições valiosas que ajudaram a moldar a Microsoft que conhecemos hoje — uma empresa mais focada, colaborativa e adaptável. Sob a liderança de Satya Nadella, que assumiu o cargo de CEO em 2014, a empresa abraçou uma mentalidade de “crescimento”, reconhecendo que falhar faz parte do processo de inovação.

A Microsoft atual parece ter aprendido que não precisa vencer em todas as frentes. Em vez de competir diretamente em mercados onde outras empresas já dominam, busca criar valor através de parcerias estratégicas e foco em áreas onde tem vantagens competitivas reais, como nuvem, produtividade corporativa e videogames.

E você, já usou algum desses produtos que hoje estão “descansando em paz” no cemitério digital da Microsoft? Qual deles você acha que poderia ter sido salvo com uma estratégia diferente? Compartilhe suas memórias e opiniões nos comentários abaixo e ajude a preservar a história desses produtos que, apesar dos fracassos, contribuíram para moldar o panorama tecnológico atual.

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