Naomi Ackie fala sobre “Mickey 17”, novo filme do diretor de “Parasita”

Depois do sucesso maiúsculo de Parasita (2019), que faturou quatro Oscars e a Palma de Ouro, Bong Joon-ho está de volta e mais uma vez discutindo diferenças de classes. Após estrear no Festival de Berlim em fevereiro, Mickey 17 chegou aos cinemas brasileiros.

O longa, baseado no romance Mickey7 (2022), de Edward Ashton, é ambientado na década de 2050. Robert Pattinson é Mickey Barnes, que, atolado em dívidas, decide deixar a Terra para participar da missão espacial de colonização de um planeta gelado. Ele é um trabalhador “descartável”, que é clonado toda vez que morre para fins de pesquisa – daí o Mickey 17 do título ou sua 17ª encarnação.

Também no elenco, Steven Yeun, Toni Collette, Mark Ruffalo e Naomi Ackie, que interpreta Nasha, a namorada de Mickey. “Eu me apaixonei por sua confiança e sua impulsividade. Havia algo tão livre sobre a maneira como ela se comporta e é tão feroz sobre o quanto ela ama Mickey… E não sente vergonha de nada ou de si mesma. Isso foi muito, muito, divertido”, conta Naomi.

A atriz estadunidenese, que protagonizou Whitney Houston: I wanna dance with somebody (2022), a cinebiografia da cantora, e o suspense Pisque duas vezes (2024), falou sobre sua personagem, trabalhar com Joon-ho e Pattinson.

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Naomi Ackie em cena de Mickey 17

Como foi seu primeiro encontro com Bong Joon-ho? Você tinha alguma expectativa?
Nenhuma. Estava em Boston na época, tinha um dia de folga das filmagens da cinebiografia de Whitney Houston, e fiquei surpresa que ele quis falar comigo. Tivemos uma conversa muito boa, muito enriquecedora sobre arte e como gostamos de trabalhar. Foi um papo honesto. Tive uma nova percepção de como gosto de trabalhar e como queria fazer daqui para frente. Adorei compartilhar com ele meu amor pelo teatro e como cresci nos palcos. E ele tem um amor pelo teatro também, e acho que foi assim que começou. Só esperava que ele me deixasse fazer um teste. Fiquei tipo, “talvez não esse trabalho, mas no futuro ele veja que não sou uma atriz tão ruim e ele possa me colocar em outra coisa que seja mais administrável.” Estou tão feliz que foi esse (filme).

Como é estar nesse set enorme, com todas essas pessoas e Joon-ho no comando? Alguém falou que esperava ficar nervoso, mas foi bem cuidado.
Não poderia dizer melhor. A última vez que estive em um set tão grande foi em Star wars (A ascensão Skywalker, 2019). Me senti muito segura, mas era bem jovem e foi minha primeira experiência com isso. Então, estava preparada para o rolo compressor que é um grande filme de estúdio, para as longas horas. O que não estava necessariamente preparada era para o quão divertido e seguro seria, como todos estavam animados para estar lá todos os dias. Bong, como pessoa, consegue fazer com que todos se sintam importantes e artísticos. Havia muito espaço para a criatividade. Foi realmente muito divertido de fazer. E olha, sou britânica, posso reclamar, mas não houve um dia em que acordei e pensei: “Não quero ir trabalhar”. Acordava antes do meu alarme tocar, pulava no chuveiro, no carro, animada para ir trabalhar. E isso é por causa da atmosfera que ele criou.

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Robert Pattinson como Mickey 18 e 17

Quando leu o roteiro de Mickey 17 pela primeira vez, o que você pensou?
Por favor, por favor, deixe-me estar neste filme! (Risos)

Nos conte um pouco sobre sua personagem, Nasha.
Sempre há a pergunta: por que você escolheria embarcar em um navio indo para um lugar completamente diferente? A Terra não estava mais fazendo muito por ela. Nasha é altamente habilidosa, especialmente quando se trata de lutar, ela é uma campeã. É um ser aventureiro e uma pessoa que assume riscos. Ela trabalha na segurança da nave espacial, certificando-se de que todos fiquem na linha e protegidos. Há muitas pessoas que estão acima dela, mas ela não se deixa enganar pelos líderes que estão se preparando para criar este novo mundo. Ela não os coloca em um pedestal, e está apenas usando isso como um veículo para recomeçar em algum lugar novo.

O que você acha que há nos filmes de Joon-ho que atrai os espectadores ao redor do mundo?
Ele está tão em contato consigo mesmo, com sua humanidade, seus medos, suas esperanças, como ele se sente no mundo e o que ele vê. E há uma especificidade tão grande na maneira como ele comunica isso, que parece universal. Ele equilibra humor, profundidade, calor e medo – às vezes, tudo em uma cena – e isso exige muita preparação e atenção aos detalhes. Mas também muita consciência sobre o mundo ao seu redor, como você e as pessoas se sentem. Acho que viver dentro da mente daquele homem por um dia seria maravilhoso, ele é um grande contador de histórias. E ele está no auge. Seu trabalho anterior (Parasita) foi incrível, e ele está continuando esse legado. Parecia que eu estava ficando mais inteligente só de falar com ele, então poder trabalhar com ele foi uma vibração totalmente diferente e incrível.

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Naomi e Bong Joon-ho nos bastidores da filmagem

Tanto Joon-ho quanto Robert Pattinson comentaram sobre o quão feroz você é neste papel. Onde você encontrou isso em você?
Quando perguntaram ao Mark Ruffalo como ele se transformava em Hulk (o ator estreou o papel em 2012 em Os vingadores), ele disse: “Quer saber meu segredo? Estou sempre bravo.” Não estou sempre brava, mas tem uma parte de mim que fica até que eu precise – esse pequeno pacote de ferocidade que só uso quando a situação exige. Felizmente, na vida real, nunca preciso usá-lo. Então, geralmente o guardo apenas para atuar.

No filme, você passa muito tempo ao lado não só do Mickey 17, mas também do Mickey 18. Como é ser o oposto de Pattinson em dois papéis?
Isso seria uma tarefa difícil para qualquer um, mas vê-lo lidar com isso com tanta facilidade e um sorriso no rosto foi incrível. As escolhas que ele fez são tão específicas e tão certas para o tom, e ele é um ator tão bom. Estava apenas assistindo com admiração. Tem que ser um processo metódico, porque você está interpretando dois personagens diferentes. Realmente, tenho muito respeito pelo trabalho dele.

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