Proposta da ABC para o ensino superior é discutida junto aos professores universitários

No dia 14 de março, sexta-feira, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi convidada pelo Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina (Apufsc) para um debate sobre o documento “Um Olhar sobre o Ensino Superior no Brasil”, lançado pela Academia em novembro de 2024 (leia mais). O evento aconteceu no Centro de Cultura e Eventos Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e foi a primeira vez que o novo documento foi discutido dentro de uma universidade.

A presidente da ABC, Helena Bonciani Nader, afirmou ser muito importante fazer esse debate com uma associação sindical. “Se não tivermos o apoio dos professores e não pressionarmos o Ministério da Educação (MEC), não conseguiremos resultado”. Ela também lamentou a ausência do MEC no debate e criticou o que chamou de “zona de conforto” em que as universidades se encontram, resistindo a repetidas tentativas de adaptação. “Enquanto as universidades não se preocuparem com a empregabilidade, elas vão continuar perdendo seu papel”, refletiu.

Responsável por coordenador o grupo de trabalho que desenvolveu o documento, o Acadêmico Alvaro Prata fez uma breve apresentação e sumarizou os objetivos da reunião: “O convite que o documento faz é para que as universidades se preocupem com a percepção pública e não neguem os problemas”.

O documento pede uma reestruturação da educação superior brasileira, trazendo números que atestam o crescente desinteresse da juventude pela universidade e propondo mudanças que dinamizem os cursos superiores. As ideias incluem a criação de faculdades federais com foco único em ensino; centros de formação específico para setores estratégicos; expansão e qualificação do ensino técnico e do Ensino à Distância (EaD) público para atender a uma demanda imposta pela população.

Neste último ponto, o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o Acadêmico Renato Janine Ribeiro, criticou a forma atual como as instituições públicas vêm implementando o EaD, onde cada universidade tende a criar seu próprio modelo. “EaD, por definição, é à distância, não pode ser geograficamente determinado. (…) O EaD deveria ser nacional”, afirmou ele, sugerindo um curso nacional à distância para cada disciplina.

Críticas e sugestões dos docentes

O público presente foi constituído majoritariamente por professores universitários, muitos dos quais expressaram preocupações com algumas das propostas. Nas palavras do reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, “é preciso ter sensibilidade de não validar os ataques que as universidades públicas vêm sofrendo”. Já o professor Jacques Mick, pró-reitor de Pesquisa e Inovação da UFSC, mostrou-se cético quanto a obtenção de recursos para um novo tipo institucional. “Temos uma noção unitária de carreira. De todo professor na universidade parece ser exigido que dedique a maior parte de seu tempo à pesquisa e extensão. Não é razoável que aceitemos que uma parcela dos professores se dedique à formar mais pessoas?”, sugeriu.

Em resposta, Renato Janine abordou o difícil dilema do orçamento. “O orçamento público estagnou desde 2015 e eu não vejo uma solução no curto prazo. (…) Por isso, um dos pontos fortes do documento é justamente buscar diminuir o custo por aluno. Não podemos depender apenas das universidades federais, pois elas já formam apenas 5% dos alunos de hoje”, alertou. Já Alvaro Prata, por sua vez, reiterou que as propostas da ABC devem ser entendidas como um direção geral, moldadas através da experiência e do debate. “Estamos em uma situação em que escolher não mudar é a pior coisa a se fazer”, sumarizou.

Leia também a matéria da Apufsc sobre a reunião.

Assista à reunião na íntegra:

Adicionar aos favoritos o Link permanente.