Opinião: “os exilados de direita”

Entre o final dos aos 1970 e o início da década de 1980, “anistia” e “exílio” eram palavras utilizadas por militantes de esquerda. O país ainda vivia sob a ditadura militar e muitos indivíduos tinham sido presos ou moravam no exterior para evitar o cárcere — ou coisa pior.

Ao anunciar que iria pedir licença de seu mandato como deputado federal, Eduardo Bolsonaro consolidou uma tendência deste Século 21: o exílio dos militantes de direita. Além disso, esse mesmo grupo clama por anistia aos presos devido aos acontecimentos de 8 de janeiro de 2023.

Curiosamente, uma bandeira e uma prática da esquerda migraram para o quadrante direitista nestes tempos digitais. Isso já havia acontecido antes com as discussões em torno da liberdade de expressão. Blogueiros e comunicadores conservadores vinham sendo cancelados pela Justiça brasileira e isso gerou uma discussão sobre uma possível censura vinda dos magistrados do Supremo Tribunal Federal.

Mais de quarenta anos depois, a direita vive uma parte do cotidiano experimentado pela esquerda no passado – embora hoje não tenhamos uma estrutura do Estado voltada para a captura e tortura dos opositores ao regime, como ocorreu principalmente entre 1968 e 1977.

Há, porém, uma diferença básica entre Eduardo Bolsonaro e os exilados de esquerda. Quem saiu do país durante a ditadura miliar o fez para preservar a própria vida e integridade física. Já Bolsonaro diz que sua decisão de morar nos Estados Unidos é para lutar pela liberdade – e pensa inclusive em pedir asilo político ao governo americano, em função daquilo que chama de “falta de liberdade” em solo brasileiro.

O filho do ex-presidente tem ambições políticas e considera ser candidato ao Senado em 2026. Sua decisão pode ter impacto sobre as eleições do ano que vem, pois a esquerda pretende colocar nele a pecha de “covarde”, o que é um evidente exagero.

No entanto, uma militância à distância, sem que o STF tenha condições de cancelar suas publicações, pode gerar uma exposição enorme nas redes sociais para o atual deputado. Eduardo Bolsonaro, assim, tem um mote interessante a trabalhar, pois a liberdade de expressão é um direito importante e sua defesa é algo que sensibiliza muitas pessoas.

Como reagirá o ministro Alexandre de Moraes à decisão do deputado?

Ele deve utilizar as ferramentas de praxe para trazer Eduardo Bolsonaro de volta ao Brasil. Mas, devido à proximidade da família Bolsonaro com o presidente americano Donald Trump, a possibilidade de isso acontecer é nula.

Moraes e seus defensores precisam entender que eventuais críticas à atuação do Supremo não são necessariamente ataques à democracia. Por estarmos em um regime democrático, inclusive, opiniões contrárias precisam ser permitidas e até estimuladas por quem possui ideais igualitários. Essa é a base de qualquer sociedade que pretende se sintonizar com os valores do Século 21.

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