Adolescência: a série que pais e mães precisam ver

Um soco no estômago. Essa foi a sensação após maratonar a nova série da Netflix, Adolescência.

Com apenas quatro capítulos, a série conta a história de Jamie Miller, um jovem de 13 anos que é preso sob a acusação de matar uma colega de escola. Os episódios foram gravados no formato plano sequência (sem edições), o que deixa tudo mais cru e angustiante. As interpretações magnéticas de um elenco desconhecido do grande público garantem um ar realista e inédito à obra, que a crítica já reputa como um dos melhores shows de TV da história. O fato de a série ter sido a mais vista da Netflix em 71 países e acumular mais de 24 milhões de visualizações na primeira semana mostram a urgência e a universalidade do tema. 

O mistério não gira em torno de quem cometeu o crime – isso é esclarecido no começo – mas do porquê. A problemática começa com a comunicação (ou a falta dela) com os jovens. O seriado escancara a completa falta de habilidade de falar e compreender dos pais, da escola, dos professores –  como se de fato fossem línguas distintas entre os adolescentes e os adultos. 

Uma das pistas mais importantes da série é dada ao investigador do caso por seu filho adolescente, que interpreta as mensagens do Instagram, através de emojis e siglas, de uma forma que os adultos nunca compreenderiam. 

A conversa mais profunda que Jamie teve na trama aconteceu no terceiro e melhor episódio, durante a visita de uma psicóloga (que já era a terceira que tentava fazer um relatório) no centro de reclusão. No episódio, a psicóloga precisa averiguar o nível de compreensão do menino e as motivações do crime. Em um duelo tenso entre o menino e a psicóloga, o espectador não sabe ao certo quem está no controle. A interpretação do jovem ator é assombrosa. 

Há um aprendizado grande para quem não conhece os influenciadores dos adolescentes de hoje, suas expressões e códigos. Jamie menciona os irmãos Tate (Andrew e Tristan são acusados de crimes envolvendo exploração sexual e tráfico de seres humanos), símbolos da chamada “manosfera”, comunidade que compartilha misoginia e ideias sobre masculinidade tóxica.

Eles inclusive foram banidos de várias redes sociais devido à violação das políticas dessas plataformas sobre discurso de ódio e comportamento abusivo, mas não são mais só eles.

Outro termo mencionado é “incel” que é a abreviação de celibatário involuntário, homens que não conseguem encontrar parceiras românticas ou sexuais apesar de desejarem, gerando raiva e grande frustração.

Frustração essa que escancara o grande paradoxo da atualidade: apesar de o ambiente digital possibilitar muitas conexões e parecer uma alternativa para jovens inseguros, tímidos e em busca de pertencimento, nunca houve tanto isolamento e exposição. Os nocivos “nudes” usados pelos adolescentes nas relações virtuais podem ser disseminados infinitamente através de compartilhamentos causando humilhação e vergonha.

Jonathan Haight, autor do best-seller A Geração Ansiosa, afirma que meninos e meninas têm pontos distintos de atenção no ambiente digital. Para os meninos é a violência e a pornografia, e para as meninas, as questões relacionadas à autoestima. Um ponto une os dois sexos: a deterioração da saúde mental evidenciada através de aumentos das taxas de ansiedade, depressão, mutilação e suicídio. 

A grande questão que fica no final é: de quem é a culpa? Obviamente não há resposta certa ou simples. Em uma entrevista que deu nessa semana, o ator e co-criador da série Stephen Graham respondeu: “Somos todos responsáveis. Pais, escola, políticos, o sistema educacional, sociedade…e a internet.”

Os jovens têm dificuldades de expressar seus sentimentos e o que eles consomem digitalmente podem ser excelentes fios condutores para suas mentes. O algoritmo de seus celulares e tablets deixam rastros; os vídeos e posts que são mostrados dão dicas do que eles têm curtido.

 A juíza carioca Vanessa Cavalieri mantém um perfil no Instagram chamado “Protocolo Eu te vejo”, e faz um alerta aos pais de que a rua do passado é a internet de hoje, ou seja, não se pode deixá-los caminhar sozinhos, eles precisam de monitoramento e aconselhamento. 

A família retratada na história é “normal”: pais carinhosos, irmã acolhedora e não há abuso ou violência dentro de casa. Em uma das cenas que mais me marcaram, o pai Eddie afirma: “Ele ficava muito no quarto, achei que estava seguro.”

Nunca a calma e o silêncio foram tão perigosos.

Alessandra Levy é economista e palestrante de atualidades.

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