Após perder 99% do valor, 23andMe pede recuperação judicial

A empresa de testes genéticos norte-americana 23andMe entrou com pedido de Capítulo 11 (algo semelhante à recuperação judicial aqui no Brasil), uma medida que visa facilitar um processo de venda e garantir a continuidade das operações. O pedido foi anunciado neste domingo, em meio a incertezas sobre seu modelo de negócio e crescentes preocupações com a segurança dos dados genéticos de seus clientes.

Em comunicado oficial, a empresa destacou que o pedido permitirá “maximizar o valor do negócio” e implementar novas medidas de redução de custos. Anne Wojcicki, cofundadora e então CEO da 23andMe, também anunciou sua renúncia ao cargo e afirmou que pretende participar do processo de aquisição da empresa como uma investidora independente.

Apesar do processo, a 23andMe garantiu que continuará operando normalmente durante o processo de venda, sem alterações na forma como os dados dos clientes são armazenados, gerenciados ou protegidos.

Fundada em 2006 por Anne Wojcicki, a 23andMe foi uma das pioneiras na popularização dos testes genéticos diretos ao consumidor, e surgiu de um desafio de Anne para ajudar em um diagnóstico de predisposição genética de seu parceiro (e futuro esposo) Sergey Brin – isso mesmo, o fundador e ex-CEO do Google.

A empresa oferecia um serviço acessível e fácil de usar: os clientes enviavam uma amostra de saliva para análise e recebiam relatórios detalhados sobre ancestralidade, características familiares e riscos potenciais à saúde baseados no DNA. O modelo de negócio também envolvia a venda de dados anonimizados para pesquisas farmacêuticas e médicas, uma estratégia que gerava receitas adicionais para a companhia.

Queda no mercado

Em 2021, a 23andMe abriu seu capital na bolsa de valores e atingiu um valor de mercado superior a US$ 6 bilhões, surfando a onda de popularidade destes serviços ao lado de outras startups como a AncestryDNA.

Entretanto, nos últimos anos, a empresa sofreu uma drástica desvalorização, chegando a menos de US$ 50 milhões na última semana antes da falência, uma desvalorização de 99%. Nos primeiros nove meses do atual ano fiscal, a startup registrou uma queda de 7% na receita e prejuízos acumulados de US$ 174 milhões.

Uma das principais razões para a crise enfrentada pela 23andMe foi a queda na demanda por seus kits de testes genéticos. Esse declínio ocorreu, em parte, devido a um vazamento massivo de dados ocorrido em 2023. Hackers conseguiram acessar informações pessoais de quase sete milhões de usuários, com foco específico em perfis de clientes judeus e chineses.

O incidente gerou grande repercussão e resultou em uma ação coletiva contra a empresa, que foi acusada de não notificar devidamente os clientes afetados pelo ataque. Em resposta à crise, a 23andMe anunciou medidas adicionais para reforçar a segurança de seus dados e, segundo analistas, teve mais de US$ 30 milhões em prejuízos em decorrência da falha.

Em meio a essa crise financeira, Anne propôs, no ano passado, recomprar a empresa por US$ 74,7 milhões, avaliando cada ação a US$ 2,53. No entanto, o conselho de administração rejeitou a oferta, alegando que o valor não oferecia um prêmio justo aos acionistas. Em setembro, sete diretores independentes do conselho renunciaram, citando insatisfação com os rumos da empresa.

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