
Durante participação no programa BM&C News, o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, comentou a recente fala da ministra do Planejamento, Simone Tebet, que sugeriu a possibilidade de corte na Selic ainda em 2025. O tema provocou debates entre analistas e reacendeu questionamentos sobre a condução da política monetária em um ano de crescimento fraco e pressões políticas crescentes.
De acordo com Cruz, a chance de o Banco Central reduzir a Selic antes do fim do ano não se sustenta apenas por fundamentos econômicos. Para ele, o cenário inflacionário ainda não permitiria uma decisão técnica de flexibilização da política monetária no curto prazo.
“Se a resposta for puramente econômica, não vai ter corte. Não dá para atingir a meta de inflação de 3% nos próximos anos se já começarmos a cortar no fim de 2024”, avaliou o estrategista.
Pressão política pode antecipar corte da Selic
Apesar disso, Cruz aponta que há sim espaço para um corte dos juros se fatores políticos forem considerados. A expectativa de uma economia fraca em 2025, combinada ao calendário eleitoral que se aproxima, deve aumentar a pressão sobre o Banco Central para estimular a atividade já neste ano, mesmo que os efeitos da política monetária demorem a aparecer.
“Há uma pressão muito grande para que o Banco Central ajude a criar um ambiente melhor no ano que vem. E isso só seria possível se os cortes começassem já no final deste ano, porque política monetária tem defasagem”, explicou.
Na prática, isso significa que a discussão sobre juros pode ser menos técnica e mais política nos próximos meses, especialmente com figuras como Gabriel Galípolo ganhando destaque na condução do Comitê de Política Monetária (Copom).
Corte na Selic sem espaço real pode afetar credibilidade do BC
Ao mesmo tempo, Cruz chama atenção para um risco relevante: o de um “arranhão” na credibilidade da autoridade monetária. O Banco Central vem acumulando dificuldades para trazer a inflação para o centro da meta nos últimos anos, o que já acende um alerta nos agentes econômicos.
“O Banco Central está há um tempo sem conseguir entregar inflação no centro da meta. Isso não ajuda sua reputação. Se começar a cortar os juros sem ter espaço real para isso, a credibilidade pode piorar ainda mais”, afirmou.
O estrategista citou como contraste o período em que Alexandre Tombini esteve à frente da autoridade monetária, quando havia maior previsibilidade no comportamento inflacionário, mesmo em cenários adversos.
Comparações internacionais não se aplicam
Durante a conversa, Cruz também analisou o momento dos Estados Unidos, onde os mercados já discutem o fim do ciclo de aperto monetário e possíveis cortes em breve. Mas, segundo ele, a realidade brasileira não permite comparações diretas.
“Nos EUA, talvez faça sentido começar a discutir cortes. Aqui, não. A inflação ainda está acima do ideal, e a resposta da economia aos juros é mais lenta. Além disso, a percepção de risco é muito maior”, ponderou.
Para Cruz, o investidor deve manter cautela e entender que as decisões do Copom ao longo de 2024 podem variar conforme o peso dado à política versus a técnica, o que traz volatilidade ao cenário.
Selic: olho nas próximas reuniões
Por fim, Gustavo Cruz reforça que cada reunião do Copom será decisiva e que não há mais espaço para decisões “mornas” ou unânimes. Ele afirma que, diferente de momentos anteriores em que o mercado já antecipava a decisão do Comitê, agora o jogo está mais imprevisível.
“Não dá mais para dizer que uma reunião é igual à outra. A disputa entre o que é técnico e o que é político deve crescer”, concluiu.
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