Skintech à brasileira: inovação nacional na dianteira do mercado de beleza

Maior que outros segmentos de consumo, como moda e o de bebidas, o mercado de beleza é um setor que todo mundo parece querer fazer parte. E cada vez mais: de celebridades, como Beyoncé e Sabrina Carpenter que lançaram recentemente suas marcas de cuidados com o cabelo e fragrâncias, respectivamente, até marcas de luxo, como Prada e Gucci, que depois de décadas apenas na perfumaria, ampliaram seu portfólio para maquiagem.

O desejo é explicado pela constante expansão e promessa de sucesso trazidas pelo segmento: só no Brasil, ele deve faturar até 2027 mais de 40 bilhões de dólares – globalmente, o valor aumenta para 580 bilhões de dólares, de acordo com a consultoria McKinsey Global Institute. 

Se destacar nesse cenário saturado, no entanto, não é tarefa fácil. As novidades ininterruptas podem sufocar o consumidor final, que muitas vezes não se impressiona com um produto apresentado, como aconteceu nos últimos anos com diferentes marcas encabeçadas por famosos que passaram longe de tornarem-se um hit. Para se guiar diante das múltiplas possibilidades nas prateleiras, muitos têm recorrido à ciência e a resultados comprovados.

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E o Brasil – segundo país no mundo que mais lança produtos de beleza, de acordo com a ABIHPEC – está atento a essa movimentação. Pesquisas científicas brasileiras norteiam o nascimento de marcas que, a partir destes mesmos estudos, oferecem soluções exclusivas nos cuidados com a pele.

Expertise importada

Quatro PhDs mineiras estão por trás da OneSkin, marca de skincare cujo foco é a longevidade celular. A empresa, radicada em São Francisco, na Califórnia, nasceu do desejo das bioquímicas Carolina Reis Oliveira, Alessandra Zonari, Mariana Boroni e Juliana Carvalho de transformar estudos acadêmicos em um empreendimento capaz de impactar positivamente a vida das pessoas. 

conheça marcas tecnológicas e científicas liderado por brasileiras, como OneSkin, que inovam o mercado de beleza

Da esquerda à direita: Juliana, Carolina, Alessandra e Mariana, fundadoras da OneSkin.
Foto: Divulgação

“Viemos aos Estados Unidos em 2016 para impulsionar um modelo de pele humana criado a partir de células-tronco que servia como alternativa para os testes em animais na liberação de novos medicamentos e produtos”, lembra Carolina. “Eventualmente, passamos a focar na avaliação de produtos anti-envelhecimento. É um mercado de milhões, mas no qual ainda existe bastante discussão sobre sua real eficácia, e nós tínhamos encontrado um método de quantificar o efeito anti-aging desses produtos”, revela. 

Foi a partir desses estudos em laboratório – que buscavam validar os produtos já existentes no mercado – que elas perceberam a importância da ação celular no rejuvenescimento. “Entendemos que certos tipos de células, chamadas de senescentes, impactam o envelhecimento, e se você reduz este tipo de célula, você consegue melhorar a biologia e a saúde da pele”, explica Alessandra. 

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Reverter a senescência celular é o objetivo da OneSkin.
Foto: Divulgação

Uma explicação rápida para você não se perder: senescente provém de senil. Ou seja, são células envelhecidas que, por diversas razões, já não estão funcionando como deveriam. Elas começam a secretar moléculas inflamatórias que impactam e deterioram até as células saudáveis que estão na sua proximidade.

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“Estudos mostram que se reduzirmos o número dessas células envelhecidas, que não oferecem mais nenhum benefício à pele e que geram inflamação, permitimos a proliferação de células jovens, que podem produzir colágeno”, continua. Mas nenhuma fórmula avaliada até então atuava neste mecanismo. “Elas se dedicavam apenas ao combate dos sinais de envelhecimento, mas não à sua causa primária”, reflete Carolina. 

As cientistas, então, se lançaram na jornada de encontrar uma substância capaz de diminuir o número de células senescentes. Foram cinco anos de estudo e mais de 700 moléculas analisadas até encontrar uma que pudesse reduzir entre 25% a 50% o acúmulo das células senis no organismo: o peptídeo OS-01.

“Não queríamos fazer um cosmético, o objetivo era vender o ingrediente para o mercado. Mas os resultados dos testes em laboratório desta molécula serviram de inspiração para que criássemos nosso próprio negócio”, conta Alessandra. Nasceu, daí, a One Skin, hoje com seis produtos no portfólio: um limpador, um hidratante facial, um hidratante corporal, um creme para a região dos olhos, um protetor para o rosto e outro para o corpo. 

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Quase todos, exceto o limpador, levam como ingrediente principal o peptídeo exclusivo. “Em um estudo de caso controlado, medimos a idade da pele antes e depois de tratada com o OS-01. No pós, observamos uma redução equivalente a algo como 2 anos e meio na idade da pele”, afirma Carolina. “O animador é que esse estudo está publicado em uma revista científica que é revisada por outros profissionais da área, então é um dado validado por outros pesquisadores renomados, e não algo gerado somente por nós”, salienta a PhD.

conheça marcas tecnológicas e científicas liderado por brasileiras, como OneSkin

Parte do portfólio da OneSkin.
Foto: Divulgação

Em outro estudo clínico – este ainda sem publicação – as pesquisadoras perceberam os efeitos do peptídeo em nível sistêmico. Durante 12 semanas, acompanharam o uso do hidratante corporal em pessoas acima dos 60 anos, e no fim do processo, observaram não apenas uma melhora da qualidade da pele e na estrutura da barreira cutânea, como uma redução global de inflamação no corpo. “Coletamos o sangue dos participantes um dia antes do início do tratamento e no dia final, e observamos uma queda nos marcadores de inflamação”, conta Alessandra. 

“É uma mudança de paradigma porque as pessoas olham para a pele apenas pelo viés da beleza ou da vaidade”, afirma Carolina. “Mas ela é um órgão que impacta nossa saúde geral, e a inflamação presente nela impacta o organismo e vice-versa.” Para reiterar tal conexão, novos estudos são realizados rotineiramente na empresa. “A nossa visão é continuar a pesquisa para entender o envelhecimento da pele, e, quem sabe, trazer novas moléculas que têm como alvo a diminuição das células senescentes”, declara Alessandra.

“A One Skin não vai ser uma marca com 40, 50 produtos. Queremos ter os essenciais para cobrir as necessidades da pele. O objetivo é fazer um update desses produtos de acordo com a ciência e a tecnologia que a gente continua desenvolvendo no laboratório”, finaliza a cientista. Por questões burocráticas, a marca ainda não está presente no Brasil, mas a expansão para o solo nacional é prioridade entre as fundadoras. 

Amazônia em foco

skincare tecnológico e brasileiro: olera, de virnigia weinberg, inova o mercado de beleza

Ciência amazônica é o berço da Olera, marca de Virginia Weinberg.
Foto: Divulgação

Para Virginia Weinberg, fundadora da Olera, a vontade de ter uma marca 100% brasileira focada em pesquisa nasceu durante uma imersão por recursos e ativos amazônicos no mercado. Formada em Economia, ela vivia na Austrália e trabalhava para uma empresa de biotecnologia que, na época, buscava novos ingredientes para sua rede de patenteados e licenciados. 

Um dossiê elaborado pelo CienP, um centro de pesquisa e inovação em Santa Catarina, caiu em suas mãos e um estudo ali apresentado a fez mudar totalmente de rumo. Extraído da semente do açaí, o ativo ali documentado (agora nomeado de T135) surpreendeu por sua multiplicidade de atuação. Com capacidades antioxidantes, regeneradoras e anti-inflamatórias, a molécula agrupa naturalmente 14 bioativos estabilizados, do ácido ferúlico à quercetina. 

“Chamamos o T135 de biorreator da beleza porque ele consegue estabilizar todos esses elementos de forma orgânica, algo que não dá para ser feito em laboratório por sua complexidade. A natureza oferece algo que é impossível de reproduzir”, explica Vivian. “Entendi então que havia uma oportunidade de criar uma nova história no Brasil”, relembra ela, que em 2019 começa a trabalhar no desenvolvimento de fórmulas e estabelecer parceiros e fornecedores para uma produção completamente nacional. 

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Primeiro produto lançado pela Olera, o Sérum molecular
Foto: Divulgação.

Em 2023, lança a marca com seu primeiro produto, o Sérum Molecular. Hoje, o portfólio é complementado pelo Complexo para Olhos e Lábios e o limpador Facial Cleansing Balm, que também carregam a molécula T135 como carro-chefe. Nas pesquisas realizadas por sua equipe, o ativo apresentou ação anti-oxidante 24% superior à da Vitamina C e poder sinérgico com o protetor solar, trabalhando contra os radicais livres produzidos por raios e danos solares. 

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Além disso, em janeiro deste ano, a Olera levou ao Congresso Internacional de Dermatologia e Cirurgia Plástica (IMCAS), realizado em Paris, um estudo que valida o poder regenerador e transformador do ativo em peles com sinais de envelhecimento. De forma resumida, ele se mostrou capaz de aumentar os precursores de colágeno e, assim, de renovar a estrutura da derme.

“Observamos dois pacientes com mais de 60 anos, com sinais de degradação na pele, e percebemos toda uma organização da matriz celular e um aumento da espessura da camada da pele”, comemora a fundadora. “O pilar número um da marca é a performance científica. Não se trata apenas de ter um feedback do cliente, que é muito importante, mas entender os resultados de forma analítica. Por isso, não tenho pressa para ter lançamentos constantes.” 

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Uma nova visão para a acne

Conheça as marcas brasileiras de skincare, como Functional Care, que inovam o mercado de beleza

Química e cientista Juliana Pegos está à frente da Functional Care.
Foto: Divulgação.

Juliana Pegos já havia passado por algumas séries de tratamento com a isotretinoína (que você deve conhecer pelo nome de Roacutan), mas a acne continuava a ser uma questão crônica. “Eu atuava no setor de pesquisa e desenvolvimento dentro de um player da cosmetologia e me incomodava em não conseguir entender minha própria pele”, lembra a química e cosmetóloga, que junto das crises de acne, lidava também com sensibilidade e quadros de rosácea. “Tentava equilibrar esses dois estados, com tratamentos quase opostos, e me surgiu o desejo de encontrar soluções mais eficazes”, conta.

Por isso, Juliana começou a estruturar um projeto de pesquisa independente, posteriormente abraçado pela biomédica e PhD em biologia molecular Vanessa Rodrigues, que obteve reconhecimento e um subsídio pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. “Notamos que tanto a acne quanto a rosácea estão relacionadas a um quadro inflamatório e questões relacionadas a um desequilíbrio no microbioma da pele, que são os microorganismos que populam nossa derme”, explica Juliana. “Essas similaridades fizeram com que tentássemos encontrar um tratamento único para ambas as condições, geralmente tratadas de formas divergentes.” 

Conheça as marcas brasileiras de skincare, como Functional Care, que inovam o mercado de beleza

Sérum da Functional Care cuida da acne e da barreira de proteção da pele.
Foto: Divulgação.

Para ir da teoria à prática, a dupla foi em busca de ativos que combatessem a inflamação sem sensibilizar a pele e que trouxessem uma ação sinérgica a outras preocupações comuns aos pacientes com acne, como pigmentação e ação seborreguladora. Entraram para a formulação final a glabridina, o chá verde, a niacinamida e o bakuchiol – ingredientes com alto poder anti-inflamatório –, um complexo de probióticos e prebióticos para controlar o microbioma, e ainda neste quesito, um ativo biotecnológico, chamado Dendriclear, capaz de reduzir especificamente as cepas da bactéria C. Acne, a principal causadora da doença. 

Para validar os resultados da fórmula inédita, fizeram um estudo comparativo com o peróxido de benzoíla, medicamento usado com frequência no tratamento da acne. Com a supervisão de um médico dermatologista, dois grupos fizeram o uso de cada uma das composições por 45 dias. “No resultado final, nossa fórmula obteve um resultado anti-acne equivalente ao peróxido de benzoíla, mas uma ação global superior ao remédio”, comenta Juliana.

“Conseguimos oferecer benefícios adicionais como a recuperação da barreira cutânea, melhora da hiperpigmentação e hidratação da pele, que não ocorreram no grupo da benzoíla”, relata sobre o Sérum Antiacne e Antivermelhidão, lançado oficialmente em agosto de 2024. O produto é primeiro do catálogo da Functional Care, marca encabeçada por Juliana, que pretende seguir no nicho da pele acneica. “Já estamos com novos projetos no pós-doutorado, mas não posso dar muitos spoilers. Posso dizer que sempre buscaremos ativos inovadores e, quem sabe, patenteados para o cuidado global desse tipo de pele.” Fica a dica.

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