Protestos em Gaza: autênticos ou manipulados?

Palestinos usam carroças para transportar seus pertences, enquanto fogem de Beit Lahia, no norte da Faixa de GazaBashar TALEB

Os protestos contra a guerra entre Israel e o Hamas ocorridos nas últimas semanas na Faixa de Gaza provocaram uma onda de comoção e esperança no mundo ocidental. Essa reação faz sentido: afinal, a paz é um objetivo primordial em sociedades livres.

Simultaneamente, eles provocaram uma nova onda de críticas contra Israel, que retomou os ataques após semanas de negociação sem sucesso pela libertação de 59 israelenses reféns que estão sendo mantidos em Gaza desde o dia 7 de outubro de 2023.

Este cenário, quando avaliado superficialmente, parece óbvio: Israel desrespeita o cessar-fogo e isso leva a população civil sofredora a sair às ruas exigindo paz. No entanto, nada é o que parece ser quando se trata do Oriente Médio, especialmente quando ele é observado à luz dos valores ocidentais, completamente diferentes dos de sociedades islâmicas fundamentalistas.

Assim, convido você, leitor, a observar alguns aspectos que talvez o ajudem – e a mim também – a entender quem são esses manifestantes, o que eles pedem e por que somente agora, um ano e meio depois do início da guerra, eles saíram às ruas exigindo o seu fim.

1. A paz é o tema dos protestos?

A palavra “paz” não é mencionada nas manifestações. Nelas, exige-se apenas o fim dos ataques israelenses e da guerra. O que não está sendo pedido, e é condição sine qua non para que Israel interrompa a ofensiva, é a libertação dos 59 reféns israelenses até agora mantidos nos túneis do Hamas. Entre eles, 22 ainda estariam vivos.

Não há nenhuma indicação de que os manifestantes palestinos acreditem na coexistência entre árabes e judeus na região; não há indicação nem mesmo de que eles possam vir a aceitar a existência de Israel: a única reivindicação é o fim do seu sofrimento nesse momento. Assim, esses eventos não indicam que eles estejam agora em busca de paz.

2. Quem são os manifestantes?

A mídia tem afirmado que os manifestantes são civis palestinos sem ligação com o Hamas, mas essa afirmação se tornou polêmica após os eventos de 7 de outubro. Afinal, há provas (fotos, vídeos, depoimentos etc.) de que a população civil participou presencialmente do ataque a Israel, sequestrou e manteve reféns israelenses em suas casas, e também celebrou nas ruas a invasão e o assassinato de 1,2 mil israelenses.

Além disso, há relatos de que membros do Hamas já identificados pela inteligência israelense lideraram ou participaram de algumas manifestações.

3. É de conhecimento público que o Hamas não permite manifestações contra seu governo. Por que o teria feito dessa vez?

Essa é a “pergunta de um milhão de dólares” e, para ela, não há resposta convincente – o que aumenta a desconfiança israelense a respeito da autenticidade dessa onda de protestos.

A reação da polícia do Hamas aos protestos está sendo comedida como nunca antes. A violência com que age contra a população civil sempre foi apontada como o motivo pelo qual os cidadãos de Gaza não agem ou se levantam contra o governo que os conduz à miséria e à guerra desde 2006. Nem mesmo a oferta feita pelo governo israelense (5 milhões de dólares e salvo-conduto para quem fornecesse informações sobre o paradeiro dos reféns) convenceu um único palestino a se pronunciar.

4. Por que muitos israelenses desconfiam que os protestos estejam sendo organizados pelo próprio Hamas?

Em primeiro lugar, porque a dissimulação é uma arma conhecida desse grupo terrorista. Vale lembrar que Israel foi pego de surpresa no dia 7 de outubro de 2023 justamente porque, ao longo dos últimos anos, o Hamas afirmou repetidamente que não estava interessado em uma nova guerra.

Da mesma forma que usou a opinião pública internacional contra Israel ao longo do atual conflito, hoje o Hamas, enfraquecido militarmente, busca convencer a opinião pública mundial da existência de uma “revolta interna” em curso. Além disso, essa seria uma forma de mais uma vez minar a legitimidade da guerra travada por Israel, levando o mundo externo a culpá-lo pela crise humanitária e econômica na Faixa de Gaza.

O Hamas espera que o mundo acredite que estes são “civis inocentes” que protestam pacificamente e vítimas de seu próprio governo, esquecendo que, no dia 7 de outubro, eles celebraram publicamente o sequestro e a morte de israelenses.

Em resumo, mais uma vez o Hamas dá uma aula sobre como o algoz pode assumir o papel de vítima com o apoio internacional.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG.

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