País tem quase 2 mil cidades em situação de seca e especialistas alertam para risco no Pantanal


Depois de enfrentar a pior seca da história, o país teve uma temporada de chuvas irregular e o cenário de seca “mudou de lugar”, amenizando no Norte e intensificando no Centro-Sul. Jacarés mortos em período de seca no Pantanal
José Medeiros/Divulgação
O Brasil vai enfrentar uma nova temporada de seca em 2025, segundo análise do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden). Ela é uma continuação do que vivemos em 2024: após o Norte viver uma situação crítica no ano passado, o cenário da seca “mudou de lugar”, já que estados da Amazônia agora enfrentam enchentes, mas o Centro-Sul do país pode ter uma temporada crítica.
A análise ainda lança um alerta para o Pantanal, que viveu a pior crise da história em 2024. Agora, ainda sem entrarmos no auge da estação com menos chuvas no Centro-Sul, os dados indicam que já há 1,9 mil cidades pelo país em situação de seca mais intensa. (Abaixo, veja a situação na sua cidade)

Os especialistas alertam que a estação chuvosa acaba de começar e que o cenário pode piorar ao longo do período mais seco que o país enfrenta agora. Com isso, há uma área de cerca de 1 milhão de km² em situação de alerta para a seca.
Ana Paula Cunha, especialista em secas do Cemaden, explica que a seca passou por uma transição: saiu da região Norte, que deverá ter alívio este ano após registrar níveis históricos baixos nos rios, e se deslocou para o outro lado do mapa do país.
De forma geral, isso ocorreu porque a estação chuvosa, que terminou em março, ficou abaixo do esperado em algumas regiões do país. Para se ter uma noção, antes da estação chuvosa, havia 2.954 cidades em condição de seca de moderada a extrema. Ou seja, houve uma redução, mas o número ainda é considerado alto.
“Tirando-se o Norte, o restante do país não está em uma situação muito confortável. Foram registradas chuvas abaixo da média em muitas regiões, embora não de forma generalizada. Isso pode amenizar o impacto, mas o cenário ainda é de seca”, explica.
Isso significa que, nos locais onde já havia déficit devido à seca de 2023 e 2024, a situação pode se agravar ao longo da estação mais seca, que acaba de começar. A previsão é de impactos como:
Sequências de dias sem chuva – como no ano passado, quando cidades acumularam mais de 100 dias sem precipitações, principalmente em Minas Gerais e Bahia;
Déficit hídrico nas bacias que abastecem o setor energético, sendo a bacia do Paraguai, que corta o Pantanal, a mais afetada;
Aumento da vulnerabilidade ao fogo, principalmente no Pantanal.
Pantanal em risco e região árida afetada
2024 é o 2º ano mais seco no Pantanal desde o começo da medição em 1985, segundo MapBiomas
Entre os pontos de atenção está o Pantanal. Parte do bioma encontra-se em uma área classificada como seca. O rio Paraguai, que banha o bioma, está em situação considerada extremamente crítica, com níveis abaixo dos registrados em 2023.
No ano de 2024, o bioma viveu seu pior momento. Em meio à estiagem e com as águas em níveis de baixa recorde, o Pantanal sofreu incêndios.
Os incêndios, desencadeados por ação humana, atingiram proporções históricas.
Em meio à crise, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, chegou a avaliar que o bioma poderia desaparecer se continuasse assim.
O prognóstico, segundo a análise do Cemaden, aponta para um cenário ainda desafiador no Pantanal. Neste ano, o governo tentou se antecipar. Em fevereiro, o Ministério do Meio Ambiente assinou uma portaria declarando emergência ambiental em áreas vulneráveis a incêndios florestais, como o Pantanal, e anunciou o reforço das ações para evitar que a crise de 2024 se repetisse.
“O que os dados demonstram é que podemos esperar, novamente, um cenário crítico neste ano. Esse déficit, somado aos incêndios, pode repetir o que vivemos no ano passado”, explica Ana Cunha.
Outro ponto vulnerável é a região da Bahia, onde pesquisadores identificaram a primeira ocorrência de clima árido no país. A região já é considerada seca, mas deverá enfrentar uma estiagem ainda mais severa.
“Essa região registrou chuva muito abaixo do esperado. Embora já seja considerada seca, a situação deverá se agravar ainda mais neste ano. Observam-se impactos e a população demonstra vulnerabilidade diante dessa realidade”, explica.
Situação no Rio Paraguai e no Rio Paraná
No rio Paraguai, os níveis registrados nas estações fluviométricas de Ladário e Porto Murtinho, ambas no Mato Grosso do Sul, encerraram a estação chuvosa com valores cerca de 40% abaixo da média histórica para o mês de março. A situação é considerada “particularmente grave” por apresentar secagem de intensidade excepcional, a mais alta no ranking.
A situação crítica também se verifica na porção baixa da bacia do rio Paraná, onde persiste um déficit de chuvas nos últimos 24 meses, conforme indicado pelo Índice Padronizado de Precipitação (SPI) para esse período. No trecho entre as usinas hidrelétricas de Porto Primavera (SP) e Itaipu (PR), a seca hidrológica permanece em situação crítica, variando entre intensidade extrema e excepcional.
A bacia do rio Paraná é uma das de maior potencial hidroelétrico do país. De acordo com a nota, a seca prolongada tem provocado uma “drástica redução nas vazões dos rios” que alimentam Itaipu. No ano passado, houve seis quebras de recordes mínimos de vazão durante o mesmo período de 2024, e o cenário se repete em março de 2025, com vazões abaixo do mínimo registrado em 2024.
A nota destaca que a situação evidencia “a gravidade e a continuidade da crise hídrica nesta porção da bacia, com impactos diretos na geração de energia e na estabilidade do sistema hidrelétrico.”
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