SPFW N59: Normando, inverno 2025 

A Normando, de Emídio Contente e Marco Normando, abriu o terceiro dia da SPFW N59, nesta terça-feira (08.04), com a sua coleção de inverno 2025.

Normando, inverno 2025
Foto: Agência Fotosite

Leia mais: Normando abre loja física 

Quando a dupla de designers paraenses estreou na temporada passada da São Paulo Fashion Week, o trabalho de alfaiataria com materiais provenientes da Amazônia brasileira impressionou.

Na ocasião, o pano de fundo da coleção foi a riqueza cultural histórica de Belém. Eles acenaram principalmente para a influência da primeira geração de modernistas da região, os chamados Vândalos do Apocalipse, do início do século 20, antes e paralelamente às manifestações antropofágicas de São Paulo, em 1922. 

Nesta temporada, outro modernista entra em cena, da segunda geração de artistas: Dalcídio Jurandir, o romancista da Amazônia. Os designers resgatam a obra Chove nos Campos de Cachoeira, escrita na década de 1920 e publicada em 1941, que é parte da série Ciclo do Extremo-Norte. 

Normando, inverno 2025
Foto: Agência Fotosite

Normando, inverno 2025
Foto: Agência Fotosite

Leia mais: O inverno/primavera 2025 da Herchcovitch;Alexandre

No livro, os irmãos Alfredo e Eutanázio são protagonistas em contraste. Um deles é criança e o outro um homem adulto. A narrativa, de forma geral, aborda a dualidade provocada pelo amadurecimento. Há o olhar de esperança do mais novo e a visão cética, desacreditada, do mais velho. 

Nos 30 looks, 18 deles femininos e 12 masculinos, tal ideia é recriada com outras oposições: leve e pesado, corpo à mostra e corpo coberto, nascimento e morte.

Normando, inverno 2025
Foto: Agência Fotosite

Normando, inverno 2025
Foto: Agência Fotosite

Há continuidade em processos vistos antes, como o uso de materiais amazônicos de forma contemporânea. A juta e a malva, em uma trama crua como aquelas das sacas de café da cidade de Castanhal (de onde a fibra é proveniente), aparecem em um blazer com mangas arredondadas e em um vestido de ombros marcados e laterais vazadas. 

O látex, presente desde as primeiras coleções da Normando, agora é trabalhado de forma delicada, fina e quase transparente. Está em camisetas justas e em um vestido camisola soltinho, com detalhes de rendas e pegada sensual, fetichista até. Característica muito bem-vinda para o repertório da dupla.

Normando, inverno 2025
Foto: Agência Fotosite

Leia mais: O desfile da Aluf na SPFW N59

Em outro look, o material é sobreposto a uma estampa floral kitsch, meio papel de parede. Segundo Emídio e Marco, é uma lembrança das casas de madeira em Marajó que moradores decoram com papéis de embrulho de presente. 

O olhar é de quem é local e mantém um nível de respeito, admiração e compreensão que passa longe de caricaturas. O resultado é sensível quando o jacquard verde intenso, nas cores da floresta, anda ao lado do costume azul e rosa nas tonalidades do céu, do boto e da arquitetura do Ciclo da Borracha.

Destaque também para a alfaiataria que evolui, principalmente aquela com aberturas que funcionam para a nossa temperatura. Os paletós tem fendas abaixo do braço e a calça de cintura alta é também de cintura baixa. Existe um exercício de tornar essas peças mais leves. Afinal, é um inverno amazônico, um inverno dos trópicos. 

Leia também: Normando e suas raízes modernistas do Pará