Núcleo de Estudos Avançados do IOC discute Inteligência Artificial

No dia 9 de abril, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) realizou uma nova edição de seu Núcleo de Estudos Avançados, dessa com o tema Inteligência Artificial. O debate abordou o desafio imposto pela revolução da IA e como o Brasil pode se inserir num cenário global de inovação cada vez mais restrito. Também passou por aplicações da IA na área da saúde e os riscos que ela pode oferecer à ordem democrática.

Foram convidados como palestrantes o cientista da computação Virgílio Almeida, titular da Academia Brasileira de Ciências e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); a engenheira Claudia Chamas, pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (CDTS/Fiocruz); e o diplomata Eugênio Vargas Garcia, diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Propriedade Intelectual do Itamaraty. O debate foi mediado pelo Acadêmico Renato Cordeiro.

Virgílio Almeida começou lembrando de uma fala de 2011 do célebre naturalista Edward Wilson, que afirmava “termos emoções da idade da pedra, instituições medievais e tecnologia dos deuses”. A fala retrata os riscos de revoluções tecnológicas que acontecem mais rapidamente do que a sociedade consegue se adaptar, dificultando uma aplicação voltada ao bem-estar social. “A IA não está sob controle da sociedade, mas sim de quatro ou cinco grandes empresas”, afirmou.

Para o Acadêmico, os países em desenvolvimento não podem se limitar a serem consumidores de IA, mas, se quiserem avançar no setor, precisarão encontrar colaborações com os líderes mundiais. Ele apontou uma vantagem potencial do Brasil: uma população muito diversa – excelente para treinar bases de dados – e com uma cultura de adoção rápida de inovações tecnológicas. Entretanto, o país não tem recursos humanos qualificados na quantidade necessária; infraestrutura ou disponibilidade de recursos para aportar em centros de ponta; nem um arcabouço regulatório específico para IA.

“O Brasil precisará buscar parceiros para conseguir uma soberania estratégica em IA, são poucos os países que conseguirão uma soberania absoluta. De preferência, devemos nos aliar à países que compartilhem valores democráticos. Precisamos começar o mais rápido possível a formar nossos jovens para um futuro que irá incorporar a IA no mercado de trabalho”, resumiu Almeida.

Um dos usos mais inovadores da IA até o momento está na área da saúde. Trata-se da identificação de novos alvos terapêuticos e desenho de novas moléculas. A pesquisadora Claudia Chamas trouxe o exemplo de um recente artigo publicado na Nature Biotechnology, onde os autores tiveram sucesso em projetar uma nova molécula para o tratamento de fibrose pulmonar, que atualmente já está em fase clínica, utilizando IA.

Outros exemplos são o uso de assistentes virtuais para o processo de registro de pesquisas clínicas e, sugere ela, o uso da IA na prevenção de pandemias. “Espera-se que com o auxílio da IA possamos prever melhor os surtos e a trajetória das doenças. Mas esse tipo de abordagem requer uma grande colaboração internacional com compartilhamento de dados de vigilância sanitária, algo em que estamos indo na direção contrária”, aponta.

Nessa linha, o diplomata Eugênio Garcia alertou que o mundo vive uma tendência de desliberalização, com o fechamento de mercados; desdemocratização, com o surgimento de novos líderes autoritários até em democracias consolidadas; e desmultilaterização, com o enfraquecimento de organismos internacionais, como as Nações Unidas.

Garcia lembrou também do impacto que a IA chinesa Deepseek teve nos mercados globais, que se deu, segundo aponta, pela tecnologia quebrar com um dos paradigmas em vigor no campo da IA: o de que qualidade vem necessariamente de maior poder computacional e maior gasto energético. “A Deepseek foi a fagulha que despertou um novo paradigma: o da eficiência algorítmica em contraposição à força bruta. Não se pode escalar ao infinito, É possível ser mais eficiente e acessível, permitindo que mais atores participem e mais pessoas possam se beneficiar?”, indagou.

As apresentações se seguiram a um debate da qual participaram Claudine Baduê, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes); Heloyse Pereira Rodrigues, bacharel em IA pela Universidade Federal de Goiás (UFG); Jonice de Oliveira Sampaio, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Luiz Vianna Sobrinho, doutor em bioética pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz); e Marcus Oliveira, professor da UFRJ. Os debatedores focaram nos impactos da IA no mercado de trabalho e a necessidade de preparar a população para as novas possibilidades que estão por vir.

Assista ao debate na íntegra:

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