Milícia em Rio das Pedras instala portões e cobra taxas por chaves para moradores

Cobrança se soma a outras taxas já conhecidas, como as de segurança, gás, internet e água. Milícia em Rio das Pedras instala portões e cobra taxas por chaves para moradores
Além das já conhecidas taxas de segurança, gás, internet e água, a milícia que domina Rio das Pedras, na Zona Oeste da cidade, encontrou uma nova fonte de renda: a instalação de portões nas ruas da comunidade e a cobrança pela entrega das chaves aos moradores.
A quadrilha começou a instalar portões há quase dois meses. Hoje, já existem cerca de 15 portões, e o objetivo dos milicianos é chegar a 80 em breve.
Com medo de represálias, moradores conversaram com RJ2 sobre as novas práticas da milícia através de mensagem de texto, sem qualquer identificação.
“Mais um absurdo em Rio das Pedras, a milícia local agora cria condomínios em ruas, colocando portões”, escreveu um morador.
Os moradores passaram a ser cobrados pela chave do portão, no valor de R$ 400. O fechamento dos portões facilita a cobrança de uma taxa de R$ 50 por mês, imposta há pouco mais de trinta dias a todos os moradores da comunidade, onde atualmente vivem 50 mil pessoas.
“O pagamento precisa ser em espécie para não deixar rastro. A taxa precisa ser paga entre o dia primeiro e o dia 10 de cada mês”, relatou um morador.
Quando questionado sobre o que acontece com quem não paga, a resposta foi: “Ainda está na base da ameaça, até porque é recente. De forma truculenta, com arma na cara e humilhação na frente da família.”
Taxa até sobre mercadoria vendida
Rio das Pedras é a quinta comunidade mais populosa do país e a segunda em número de residências, de acordo com o IBGE. No fim dos anos 70, imigrantes nordestinos que trabalhavam na construção civil foram os primeiros a ocupar essa área.
Há mais de 30 anos, a milícia controla este território. Com a ausência do poder público, criminosos tomam conta e impõem suas próprias regras. A milícia de Rio das Pedras não só diversifica os negócios, como também explora e ameaça cada vez mais os moradores para obter mais lucros e poder.
A taxa que os moradores pagam hoje já vem sendo cobrada há muitos anos de comerciantes e prestadores de serviço. “É a lei. Ou paga ou fecha”, afirmou um comerciante.
O botijão de gás é vendido a R$ 150, dos quais R$ 35 vão para a milícia. O garrafão de água mineral de 20 litros sai por R$ 15, sendo que quase metade do valor vai para o crime (R$ 7).
O “gato” de energia é obrigatório. O morador desembolsa R$ 400 pela instalação e R$ 100 por mês pelo consumo. O comerciante paga mais caro: R$ 1 mil pelo “gato” e entre R$ 100 e R$ 3 mil por mês.
Além disso, o comerciante ainda paga a chamada taxa sobre produtos – 10% sobre cada mercadoria vendida, além da antiga taxa de segurança, que varia entre R$ 50 e R$ 350 por semana. Rio das Pedras tem mais de quatro mil pontos comerciais de pequeno, médio e grande porte.
“O comerciante que não pagou tem que fechar o comércio. Comerciantes pagam para manter o negócio aberto e também um percentual sobre cada produto”, escreveu outro morador.
“A comunidade vive com centenas de comércios fechando, muitos já voltaram para o Nordeste”, relatou um morador. “À noite, se vê dezenas de homens armados impondo medo e terror. E a lei da mordaça impera sobre todos.”
“Rio das Pedras pede socorro”, concluiu um morador.
O que diz a polícia
A Polícia Militar disse que trabalha em parceria com a Polícia Civil pra levantar dados e ajudar nas investigações e que tem intensificado o policiamento na região.
A Polícia Civil declarou que faz operações contínuas pra combater o crime em Rio das Pedras e que o chefe da quadrilha foi preso no fim do mês passado.
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