Cesta básica fica 132% mais cara em 10 anos e pesa no custo de vida em Florianópolis

Custo da cesta básica em Florianópolis cresce 30% acima do salário mínimo

Gasto mensal com a cesta básica em Florianópolis cresceu cerca de 30% a mais que salário mínimo na última década – Foto: Joédson Alves/Agência Brasil/ND

O salário mínimo não acompanhou a alta no custo de vida nos últimos dez anos. A cesta básica em Florianópolis ficou 132,29% mais cara, passando de R$ 358,14 em março de 2015 para R$ 831,92 em março deste ano.

Dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) apontam que o tempo de trabalho necessário para adquirir uma cesta básica em Florianópolis, conforme o salário mínimo nacional, aumentou 20 horas e 35 minutos na última década.

“O que a gente pode perceber é que a inflação dos alimentos e bebidas, há pouco mais de dez anos, vêm sendo recorrentemente maior do que o índice geral de inflação. Isso por si só gera uma pressão a mais para que os salários consigam acompanhar esses aumentos dos preços”, avalia Crystiane Peres, supervisora do Dieese/SC.

Segundo a calculadora do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), disponibilizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o atual valor da cesta corrigido pela inflação no período deveria ser de R$ 623,51, com variação de 74,15%.

“Nós estamos percebendo, não só no Brasil como no mundo todo, um aumento maior da inflação dos alimentos em relação à média da inflação geral. Isso tem várias motivações, como a disponibilidade e oferta de determinados produtos”, explica a supervisora do Dieese/SC.

“As questões climáticas são importantes para determinar o aumento do preço dos alimentos de forma mais intensa do que outros itens que compõem a inflação. Questões geopolíticas também, como conflitos internacionais e guerras. A gente percebe isso com a guerra da Ucrânia e da Rússia, que trouxe impactos na oferta de muitos grãos internacionalmente”, observa.

Café foi um dos itens da cesta básica cujo preço mais aumentou

Capital catarinense tem a terceira cesta básica mais cara do Brasil – Foto: Beatriz Rohde/ND

O Dieese calcula que o salário mínimo necessário para sustentar uma família de dois adultos e quatro crianças no Brasil era de R$ 3.186,92 em março de 2015, valor que passou para R$ 7.398,94 em março deste ano.

“Pela pesquisa do orçamento familiar, para famílias que recebem entre um e três salários mínimos, o custo com alimentação representa 35% dos gastos mensais. O salário mínimo necessário representa justamente uma renda capaz de manter uma família com acesso a bens mínimos”, destaca Crystiane Peres.

Valor da cesta básica em Florianópolis sobe acima do salário mínimo

Em março de 2015, o gasto com a cesta básica em Florianópolis consumia 45,46% do salário mínimo de R$ 788. Dez anos depois, os itens representam 54,8% do novo piso nacional de R$ 1.518.

O custo da alimentação representava 39,44% do salário mínimo regional de Santa Catarina, de R$ 908 em 2015, e 48% dos R$ 1.730 reajustados em 2025.

“O custo da cesta básica aumentou significativamente, e certamente, nesse período, os salários não acompanharam esse movimento”, ressalta a representante do Dieese/SC.

Salário mínimo foi reajustado em 2025 para R$ 1.518

Salário mínimo brasileiro aumentou 92% desde 2015, enquanto preço da cesta básica em Florianópolis subiu 132% – Foto: Reprodução/Internet

Ambos os salários mínimos não acompanharam o aumento no custo da cesta básica em Florianópolis. Em março de 2025, a defasagem do reajuste do piso nacional era de 29,97% e do regional de 31,57% em relação à alta no preço dos alimentos.

Crystiane Peres destaca que o ano de 2020 registrou a maior elevação. Aliada à crise econômica durante a pandemia, a interrupção da política de valorização do salário mínimo suspendeu o reajuste real e fez os custos com alimentação subirem acima da renda.

“A gente não teve medidas, por parte do governo federal, que pudessem mitigar ou amenizar esse impacto do preço dos alimentos. Foi nesse período, justamente, que a gente teve a interrupção da política de valorização do salário mínimo, inclusive nos anos seguintes, de 2021 e 2022”, lembra.

Para comprar cesta básica é preciso trabalhar 20 horas e 35 minutos a mais do que em 2015

É preciso trabalhar em média 120 horas e 34 minutos para adquirir uma cesta básica em Florianópolis – Foto: Divulgação/TJSC/ND

A supervisora do Dieese/SC afirma que houve redução no preço dos alimentos em 2023 e 2024, contudo, a queda ainda não compensou o aumento registrado na pandemia. O valor da cesta básica voltou a subir no fim do ano passado, devido à alta do dólar e questões climáticas.

“No entanto, a gente tem outro cenário hoje, de taxa de desemprego baixa e políticas de valorização do salário mínimo. Essas são algumas formas de mitigar esse problema da elevação do preço dos alimentos, além de outras tantas medidas, como política públicas que dizem respeito diretamente à oferta e ao preço dos produtos”, constata.

Veja evolução do gasto mensal com cesta básica em Florianópolis

Dados do Dieese revelam quanto custava uma cesta básica em Florianópolis no mês de março, entre 2015 e 2025:

 

Cesta básica em Florianópolis é terceira mais cara do país

O último levantamento do Dieese classificou o custo da cesta básica em Florianópolis em terceiro lugar entre as capitais, perdendo apenas para São Paulo (R$ 880,72) e Rio de Janeiro (R$ 835,50).

Crystiane Peres esclarece, porém, que a posição da capital catarinense no topo da lista pode ser explicada pela diferença no cálculo de cada cidade.

Tomate puxa alta no custo da cesta básica em Florianópolis

Florianópolis registrou a maior inflação do tomate do país no mês de março, com alta de 61% nos preços – Foto: Leo Munhoz/ND

“A composição da cesta básica na região Sul é diferente, por exemplo, dos estados do Nordeste. Aqui, a gente tem um peso maior da carne, que já é um item mais caro por si só. Então isso faz com que o preço dos alimentos em Florianópolis sejam mais caros”, aponta.

A supervisora do Dieese/SC ainda destaca que o aumento da demanda pelo turismo sazonal também pode afetar o preço da cesta básica em Florianópolis. A alta foi de 3% em março, puxada pelo preço do tomate, que aumentou 61,13% em relação ao mês anterior.

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