Novo favorito de Trump, Bukele é acusado de violar direitos humanos ao reduzir criminalidade em El Salvador e virou exemplo para a extrema direita dos EUA

Modelo autoritário de salvadorenho, que se consolida no poder com popularidade, agrada ao presidente americano. Nayib Bukele, o controverso presidente linha-dura de El Salvador, se gaba de ser o ditador mais legal do mundo e comandar o país com a taxa de encarceramento per capita mais alta.
Nesta segunda-feira, ele ganhou lugar de honra no Salão Oval da Casa Branca, ao lado de Donald Trump, com quem partilhou princípios comuns, como associar falsamente o autoritarismo à liberdade.
“Presidente, o senhor tem 350 milhões de pessoas para libertar. Mas para libertar 350 milhões de pessoas, o senhor precisa prender algumas delas. É assim que funciona, certo? Somos um país pequeno, mas podemos ajudar.”
O modelo de Bukele para se manter no poder como um presidente popular agrada a Trump, sobretudo nas artimanhas utilizadas para burlar o sistema legal. No comando do país desde 2019, o presidente salvadorenho reduziu a taxa de homicídios com métodos específicos, que incluem prisões arbitrárias, encarceramentos em massa e restrições à liberdade de expressão, entre outros.
Somam-se a eles nomeações de juízes alinhados ao governo e manobras para abolir os limites de mandatos, que permitiram a reeleição do presidente, no ano passado.
De acordo com o Índice de Democracia publicado pela revista britânica “The Economist”, o país caiu 24 posições desde que Bukele assumiu o poder, ocupando a 95ª posição, e passou da classificação de democracia falha para regime híbrido.
Se as medidas aplicadas pelo presidente são condenadas pelas entidades de direitos humanos como abuso de poder, parecem agradar à boa parte dos salvadorenhos, que aceitaram a troca das liberdades civis por mais segurança. Um estado de emergência “temporário”, que concede poderes autoritários de detenção, está em vigor há três anos.
Isso tudo explica o prestígio de Bukele no Salão Oval, como o primeiro líder latino-americano a visitar a Casa Branca, diferentemente do que ocorreu em março com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que foi humilhado público e enxotado da sede do governo americano.
Trump aposta nos métodos de Bukele e, num raro gesto, cedeu gentilmente a palavra a ele. Assim, partiu do presidente salvadorenho a decisão de não devolver o conterrâneo Kilmar Abrego Garcia, deportado por engano de Maryland, nos EUA, para El Salvador, apesar da ordem contrária da Justiça americana.
“Como posso contrabandear um terrorista para os Estados Unidos?” questionou Bukele. Sob a alegação de que é membro da gangue MS-13, Abrego Garcia foi transferido para o Centro de Confinamento de Terrorismo — a megaprisão de alta segurança construída por Bukele.
A certa altura, empolgado pela colaboração do colega salvadorenho, Trump admitiu a possibilidade de enviar cidadãos americanos para a prisão de El Salvador: “Se for um criminoso local, não tenho problema com isso”, atestou. Cidadãos americanos não podem ser deportados ou ter a entrada barrada nos EUA.
A aliança entre o presidente dos EUA com o autoritário Bukele seria considerada improvável por seus antecessores. “Ele é um presidente e tanto”, resumiu Trump sobre o salvadorenho. A parceria abriu caminhos para Bukele, que interage livremente com expoentes do movimento MAGA e serve como modelo para a extrema direita.
El Salvador recebe suporte financeiro para receber os rejeitados do governo americano e teve o status elevado de acordo com os parâmetros da atual administração. Subiu, por exemplo, para o Nível 1, o melhor na classificação de recomendação de viagem do Departamento de Estado dos EUA, mais seguro do que França, Reino Unido (ambos no Nível 2) e Brasil (Nível 3).
A cordialidade entre os dois presidentes era evidente. Sob o governo Trump, que terceiriza os imigrantes deportados, o autoritário Bukele também escapa livremente do escrutínio de suas políticas internas. Mais vantajoso para ambos, impossível.
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