‘Pecadores’ impressiona com ótima mistura de terror e conflitos raciais; g1 já viu


Filme que estreia nesta quinta-feira (17) é dirigido por Ryan Coogler, de ‘Pantera Negra’ e ‘Creed’. Michael B. Jordan, habitual parceiro do cineasta, é o destaque do elenco com papel duplo de irmãos gêmeos “Pecadores”, filme que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (17), oferece ao público um dos melhores exemplos de longas “2 por 1”.
Ele traz um interessante e envolvente drama racial protagonizado por dois irmãos que buscam superar as dificuldades para ter uma vida melhor e, também, uma história de suspense e terror da melhor qualidade. Algo que vai agradar aos fãs e mesmo aos que não se interessam tanto por esses gêneros.
A inusitada mistura de estilos narrativos consegue a proeza de jamais parecer mal feita ou desequilibrada durante toda a duração do filme e faz com que os espectadores fiquem completamente absorvidos por tudo o que acontece na tela.
Isso se deve ao fato de seus realizadores levarem sua proposta bastante a sério (mesmo que tenham inesperados momentos de humor), que é defendida por um elenco afiado e uma direção que sabe exatamente onde quer chegar.
Assista ao trailer do filme “Pecadores”
A trama é ambientada em 1932 e focada nos irmãos gêmeos conhecidos como Fumaça e Fuligem (ambos interpretados por Michael B. Jordan). Após uma temporada longe de casa, os dois voltam para sua cidade natal, Clarksville, no estado da Louisiana, em 1932.
O plano deles é deixar o passado para trás e começar um novo negócio, com uma casa de blues. Com a ajuda de seu primo Sammie (Miles Caton) e de alguns amigos, os irmãos buscam trazer diversão para os habitantes do local e, no processo, lucrar com a venda de bebidas.
Só que, na noite da inauguração do clube, Fumaça e Fuligem recebem a inesperada visita do misterioso Remmick (Jack O’Connell, de “Ferrari” e “Back to Black”), que tem intenções sombrias sobre a casa e todos que estão nela. Uma série de acontecimentos sinistros faz com que o laço que une os irmãos seja testado, ao mesmo tempo em que começa uma sangrenta batalha pela vida contra forças além da compreensão humana.
Além da escuridão
Quem está acostumado a ver filmes de terror e suspense poderá notar semelhanças entre a trama de “Pecadores” e “Um drink no inferno” (algo que o próprio diretor, Ryan Coogler, já confessou em entrevistas). Mas, ao contrário do filme de 1996 dirigido por Robert Rodriguez, o longa de Coogler busca fazer algo mais profundo, que vai além da ação convencional e sustos fáceis. O cineasta, também autor do roteiro, procurou fazer um melhor desenvolvimento dos personagens e da região onde vivem.
Michael B. Jordan (em dose dupla), Omar Miller, Wunmi Mosaku, Hailee Steinfeld e Miles Caton numa cena de ‘Pecadores’
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Assim, a primeira parte do filme se dedica a mostrar como vive a comunidade negra do Sul dos Estados Unidos, suas dificuldades e, principalmente, a segregação racial a que seus habitantes são forçados a se submeter. Desta forma, o longa destaca, entre outras coisas, a luta das pessoas para sobreviver com muito trabalho e pouco dinheiro, sem condições de poderem viver suas vidas da melhor maneira possível.
Outro ponto curioso está no relacionamento conturbado entre Fuligem e Mary (Hailee Steinfeld, de “Bumblebee”), que precisam esconder o que sentem por causa da cor da pele. Essas subtramas dão mais camadas para os personagens e fazem com o que o público crie maior empatia por eles e tema por seus destinos à medida que a trama avança.
Além disso, o filme conta com uma incrível trilha sonora assinada por Ludwig Göransson (vencedor do Oscar por seus trabalhos em “Pantera Negra” e “Oppenheimer”), que utiliza elementos do blues e que, aos poucos, muda para composições que contribuem para criar a atmosfera tensa que circula os personagens, seja pelo racismo ou pelo sobrenatural.
Sammie (Miles Caton) toca uma música num clube de blues no filme ‘Pecadores’
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A música, aliás, é um dos maiores méritos de “Pecadores”. Um dos melhores momentos do filme acontece num plano-sequência (sem cortes aparentes), quando o primo Sammie toca uma música e a sua performance apaixonada “conversa” com artistas do passado e do futuro (no caso, nosso presente), como se fosse uma inspiração para todos. Foi uma bela maneira encontrada pelo filme para mostrar a força da música negra americana sobre a vida de todos e a cena ficou belíssima.
Show de horrores (no bom sentido)
O maior capricho nos elementos dramáticos não enfraquece, de forma nenhuma, o terror proposto em “Pecadores”. Coogler, que ficou famoso depois dos hits “Pantera Negra” e “Creed: Nascido Para Lutar”, prova mais uma vez ser um dos mais interessantes diretores que surgiram em Hollywood nos últimos anos. Ele demonstra firmeza nas cenas de terror e faz ótimos “jump scares” (sequências de sustos rápidos que pegam o público de surpresa) que nunca soam gratuitos ou desnecessários.
Desta forma, quando chega a sua segunda parte, o filme acelera o seu ritmo, mas sem perder sua cadência, e proporciona um grande espetáculo de tensão e suspense que pode deixar os mais sensíveis com um frio na espinha. Mesmo que a real ameaça do longa tenha algumas regras bem conhecidas dos monstros do terror, o resultado é simplesmente fascinante.
Hailee Steinfeld interpreta Mary no filme ‘Pecadores’, de Ryan Coogler
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Outra coisa que vale destacar é a parte técnica do filme. “Pecadores” foi pensado para ser exibido na maior tela possível. Um bom exemplo disso estão nas sequências onde os irmãos protagonistas passam por campos de algodão, que são filmados de uma maneira esplêndida.
Além disso, os figurinos criados por Ruth E. Carter (que também levou o Oscar por suas criações para “Pantera Negra” e “Pantera Negra: Wakanda para sempre”), chamam a atenção. Em especial pela forma encontrada para diferenciar os irmãos gêmeos, tanto nos estilos distintos, como no uso das cores: um sempre usa roupas azuladas e o outro, avermelhadas. Isso facilita ao público saber quem é quem na trama.
Duplo impacto
Além de ter ótimos direção e roteiro, “Pecadores” também conta com um ótimo elenco, encabeçado pelo astro Michael B. Jordan, habitual colaborador do cineasta Ryan Coogler. Em seu quinto filme ao lado do realizador dos dois longas do “Pantera Negra”, Jordan consegue tirar de letra o desafio de interpretar irmãos gêmeos pela primeira vez no cinema. O ator dá características específicas para cada personagem, o que ajuda o público a distinguir quem é quem, além do figurino.
Além disso, Jordan acerta na intensidade e, principalmente, na forma que encontrou para mostrar o sentimento que um irmão tem pelo outro, especialmente nos momentos mais tensos do filme, o que faz com que o espectador se compadeça de seus personagens nas cenas dramáticas. Seu entrosamento com seus colegas de elenco também se destaca no filme.
Em especial com Hailee Steinfeld, que interpreta Mary, interesse amoroso de Fuligem. Os dois atores mostram uma ótima química na tela, como numa sequência em que dançam juntos no clube. É uma pena, no entanto, que Steinfeld, em seu primeiro papel mais maduro, não apareça tanto quanto deveria, já que ela é uma peça essencial em alguns dos acontecimentos da história. Mesmo assim, quando ela surge, chama muito a atenção.
Também merece destaque a atuação de Wunmi Mosaku, que interpreta Annie, ligada ao passado de Fumaça e a única que compreende os estranhos fenômenos que surgem diante de todos.
Uma grata surpresa é a participação de Miles Caton, estreante no cinema. O jovem ator, além de tocar e cantar blues muito bem, segura bem a responsabilidade de interpretar um personagem que tem um grau de importância bem grande para a trama. Ele acaba se tornando o coração do filme e não decepciona. Já o veterano Delroy Lindo, como o músico Delta Slim, mostra sua habitual competência como um inesperado alívio cômico na segunda parte do longa.
Jack O’Connell interpreta o perigoso Remmick no filme ‘Pecadores’
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Quanto a Jack O’Connell, a composição dele para o vilão Remmick é interessante porque, incialmente, ele se mostra uma pessoa frágil e até simpática, mas que, aos poucos, vai ficando cada vez mais ameaçador não só pelos seus ataques ferozes às suas vítimas, mas também por manipulação através de seus medos, o que desencadeia um desfecho realmente explosivo. O trabalho do ator, visto em filmes como “Jogo do Dinheiro” e “Invencível”, é realmente muito bom.
Emocionante e assustador na medida certa, “Pecadores” tem grandes chances de ser um dos melhores filmes lançados em 2025. Com uma história que tem várias camadas sociais e muitas cenas impactantes, o longa certamente vai ficar na memória de muita gente ao final da sessão.
Uma dica: não deixe o cinema assim que surgirem os créditos. Entre eles, surgirá uma sequência importante para o desfecho da trama e uma cena curtinha para encerrar de vez essa grande experiência. Ao final, fica uma certeza: que venham mais parcerias entre Coogler e Jordan. O cinema agradece.
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