Nanotecnologia no agro: lições oriundas da Índia para um agro de alta rentabilidade e sustentabilidade no Brasil

Nanotecnologia no agronegócio (Foto: Canva)
Nanotecnologia no agronegócio (Foto: Canva)

*Por Gabriel Nunes, co-founder da Revella, startup membro do Cubo Itaú

A adoção da nanotecnologia no agro não deve ser novidade para nossos leitores, isso, principalmente por ter sido tão estudada e discutida globalmente após a Índia ter passado por um longo período crítico em seu agronegócio. É comum ouvirmos sobre o uso intensivo e às vezes irresponsável de químicos por este setor, e na Índia, o país mais populoso do mundo não foi diferente. Entretanto, o país viu sua produtividade estagnar ao longo dos anos, os solos se degradarem e os níveis de contaminação aumentaram consideravelmente. Diante do tema, muitas universidades indianas passaram a investir no estudo da nanotecnologia, e com isso, buscar maior eficiência de campo com menor impacto ambiental. 

O resultado foi um reposicionamento tecnológico que colocou a nanotecnologia no centro de uma agricultura regenerativa — tema que atualmente é alvo de grandes países agrícolas, inclusive no Brasil. 

Por que a nanotecnologia no agro muda o jogo 

A aplicação de nanopartículas ou nanomoléculas revoluciona literalmente qualquer aplicação que a mesma seja endereçada. A manipulação de átomos (ápice da nanotecnologia) permite a entrega precisa de ingredientes ativos em diferentes meios, como por exemplo em cosméticos, fármacos, químicos e claro que também é visível tal efeito quando aplicados em plantas, solo ou até sementes. Tal verdade, permite uma evidente ampliação da eficiência, redução de doses comumente necessárias para promoção de benefícios, além de prolongar o efeito dos ingredientes ativos presentes em insumos agrícolas.

As formulações mais presentes em nosso dia a dia operam majoritariamente com bases aquosas, o que favorece o manejo de preparo de caldas, isso devido a alta miscibilidade com os principais insumos já utilizados em campo, como fertilizantes foliares, defensivos e biológicos. 

Já é visível uma considerável variedade de “nano produtos” no mercado europeu e brasileiro que contenham tais tecnologias, neste contexto é relevante se atentar para que todos os ingredientes utilizados sejam permitidos pelo Ministério da Agricultura (MAPA). Algumas tecnologias nano ou micro estruturadas já reconhecidas e em uso vasto no Brasil já seguem tal prerrogativa, listei abaixo para que possam conhecer e eventualmente identificar se por ventura os leitores já se depararam com as mesmas em seus manejos: 

Zinco e cobre: naturalmente conhecidas por ação nutricionais e efeito residual fungistático; 

Selênio: promotor biofortificação, crescimento radicular e redutor de estresse oxidativo; 

Ácidos orgânicos como cítrico e fúlvico: estabilizantes naturais e indutores fisiológicos; 

Óleos essenciais como melaleuca, citronela, eugenol e neem: aplicados no campo em forma de microcápsulas como promotores de melhoria da ação desalojante e combate natural à diferentes doenças; 

Poliflavonóides: bioestimulantes e antioxidantes com efeito sobre a fotossíntese que geram saúde do baixeiro das lavouras. 

Cápsulas verdes versus encapsulantes poliméricos 

Embora empresas e principalmente as asiáticas ainda utilizem encapsulantes/estabilizantes poliméricos sintéticos, frequentemente derivados de plásticos, essa prática levanta preocupações ambientais relevantes, especialmente em relação à disseminação de microplásticos no solo ao longo do tempo. Esses resíduos não são facilmente degradados e certamente já conhecemos os impactos dos mesmos em relação a microbiota benéfica do solo, além de representar riscos à cadeia alimentar. 

Felizmente e em contrapartida, diferentes empresas que buscam protagonismo no setor e ainda destaco algumas startups que já estão em prototipagem ou escala no mercado, têm demonstrado responsabilidade e atuado com cápsulas verdes, essas que são baseadas em biopolímeros naturais e biodegradáveis. Felizmente o Brasil tem se mostrado como um excelente celeiro de empresas de base tecnológica, essas que normalmente são formadas por excelentes pesquisadores que são oriundos de universidades e centros de pesquisas como a

própria Embrapa. Neste contexto, agentes encapsulantes como gomas, celulose modificada, ácidos verdes e proteínas vegetais são preferência de grande parte dos usos por sua facilidade de atuação industrial, baixo custo e bom resultado no campo. Tais ingredientes se degradam no ambiente sem deixar resíduos tóxicos, tanto que boa parte dos mesmos estão presentes em nossas dietas diárias. 

Tais ingredientes aliados às técnicas de encapsulamento possibilitam, por exemplo: 

● A liberação gradual e controlada de ingredientes ativos mesmo quando os mesmos são voláteis; 

● A proteção térmica e fotoquímica dos ingredientes ativos encapsulados. Mesmo biológicos; 

● A miscibilidade com soluções nutritivas, caldas químicas e inclusive com formulações biológicas que sabidamente são sensíveis a outros ingredientes. 

Do excesso à precisão: o caminho da produtividade regenerativa 

Diferente do padrão de “ontem” conhecido como modelo tradicional que muito se baseia em excesso de insumos, a nanotecnologia no agro promove um paradigma de precisão, controle e menor impacto no equilíbrio da cadeia. Literalmente a nanotecnologia no agro tem se demonstrado transversal, ou seja, já a utilizamos em equipamentos eletrônicos, em roupas especiais para entrada de granjas e frigoríficos, em EPIs para aplicação de defensivos e agora, mais do que na hora, estamos acompanhando e fazendo parte de sua inserção nas formulações de adjuvantes, TSI, defensivos e fertilizantes. 

A abordagem de se fazer mais com menos, permite reduzir as perdas na aplicação, seja por deriva, seja por excesso, além de melhorar a performance de ingredientes já conhecidos e aprovados através da translocação dos mesmos pelo sistema da planta. Com isso é visível a contribuição da nanotecnologia para um manejo mais equilibrado da lavoura além de mais seguro para os profissionais do agro e meio ambiente. O resultado é uma agricultura mais resiliente, sustentável e lucrativa — do solo à folha.

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