Onda de inovação! França aposta em turbinas subaquáticas

A França está prestes a dar um salto audacioso no campo das energias renováveis com o lançamento do projeto NH1, uma das primeiras iniciativas comerciais de energia das marés do país. Com previsão para começar a fornecer eletricidade até 2028, a fazenda de turbinas subaquáticas, que será instalada ao largo da costa da Normandia, tem o potencial de alimentar milhares de residências com energia renovável e sem emissões de carbono.

Localizada no Canal da Mancha, uma das correntes marítimas mais poderosas do mundo, a fazenda será alimentada pela força das marés, um recurso natural previsível e abundante, mas ainda subexplorado em escala comercial. As turbinas subaquáticas, invisíveis à superfície, irão transformar o movimento das águas em eletricidade. A grande questão, no entanto, é: até onde essa tecnologia pode realmente nos conduzir? Mais importante ainda: quais serão os impactos sobre os ecossistemas marinhos? 

França investe em inovação com turbinas subaquáticas

Desenvolvido pela Normandie Hydroliennes, o NH1 foi selecionado para receber uma parte significativa dos 4,8 bilhões de euros do Fundo de Inovação da União Europeia, criado para financiar iniciativas de descarbonização. Esses recursos, provenientes do Sistema de Comércio de Emissões da União Europeia, reforçam o impulso para o desenvolvimento de tecnologias limpas e sustentáveis. 

Além de sua contribuição ambiental, o projeto NH1 também trará benefícios econômicos significativos para a França, com a geração de aproximadamente 400 empregos diretos e indiretos. Cerca de 80% do investimento destinado à construção será alocado dentro do país, fortalecendo a economia local. 

Potencial energético do Canal de Raz Blanchard

turbinas subaquáticas
Foto: CatherineLProd/ Shutterstock

A corrente marítima do Canal de Raz Blanchard, localizada na costa da Normandia, é considerada uma das mais poderosas do mundo, com um grande potencial energético. A Normandie Hydroliennes estima que a área tenha capacidade para desenvolver entre 5 a 6 gigawatts (GW) de energia, o que poderia gerar entre 15 e 18 terawatts-hora (TWh) anualmente, uma quantidade suficiente para abastecer até 8 milhões de pessoas.

Atualmente em construção na cidade portuária de Cherbourg, as turbinas subaquáticas projetadas para aproveitar essa potente corrente marítima terão uma capacidade de geração de 3 megawatts (MW) por unidade. Com quatro turbinas instaladas, incluindo o modelo Proteus AR3000, o mais potente do mundo, o projeto totalizará 12 MW de capacidade instalada, gerando 34 GWh de energia por ano. O volume é suficiente para atender às necessidades de aproximadamente 15 mil moradores locais, contribuindo para a oferta de energia renovável na região e para a transição energética da França.

Caso o projeto seja bem sucedido, a Normandie Hydroliennes já contempla a expansão da iniciativa, com planos de instalar até 85 turbinas anualmente, o que não só ampliará a produção de energia renovável, mas também impulsionará a criação de novos postos de trabalho, solidificando ainda mais a economia azul no país.

Turbinas subquáticas podem impactar o ecossistema?

Foto: Breedfoto/ Shutterstock

Instalado a uma profundidade mínima de 38 metros, o projeto NH1 garante que seu parque piloto de turbinas subaquáticas não representará riscos à navegação nem à segurança marítima. De acordo com informações da Euro News, estudos realizados em projetos semelhantes indicam que as turbinas podem até favorecer o retorno de espécies marinhas, como peixes e megafauna. 

O exemplo do projeto MeyGen, na Escócia, revela que as fundações das turbinas e os cabos de conexão podem se tornar “espaços de assentamento” para diversas espécies, promovendo a biodiversidade local.

Além disso, pesquisas sobre o impacto sonoro das turbinas de maré indicam que os níveis de pressão sonora são bem abaixo dos limites que poderiam perturbar a megafauna marinha, minimizando possíveis danos ao ecossistema. O projeto também trará benefícios significativos para a redução das emissões de carbono, com uma estimativa de economia de 57.878 toneladas de CO2 equivalente por ano.

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Em um contexto mais amplo, o NH1 faz parte de uma iniciativa global para apoiar tecnologias limpas, com 85 projetos financiados pelo Fundo de Inovação da União Europeia em outubro passado. Esses projetos abrangem uma variedade de setores, desde armazenamento de energia até transporte e construção de edifícios com emissões líquidas zero, reforçando o compromisso com a descarbonização e a transição energética mundial.

Tecnologia de turbinas subaquáticas chega ao Brasil

Foto: Divulgação/ Tidalwatt

No Brasil, a tecnologia de turbinas subaquáticas já chegou, embora em uma escala menor. A startup TidalWatt desenvolveu uma turbina subaquática com dimensões 60 vezes menores que as tradicionais turbinas eólicas, mas com capacidade de gerar três vezes mais energia. Criadas especificamente para aproveitar a energia do mar, essas turbinas têm como diferencial sua capacidade de operar em ambientes marinhos de forma mais eficiente e sustentável.

A turbina de 3 metros de diâmetro da TidalWatt gera a mesma potência de uma turbina eólica de 180 metros, cerca de 5 MW, a uma velocidade de corrente de 1,87 nós. Essa eficiência é possível graças à estabilidade das correntes marítimas, um fator que, segundo Maurício Queiroz, criador da empresa, garante maior segurança energética. A tecnologia pode abastecer cerca de 22,8 mil famílias com base no consumo médio de energia brasileiro, mostrando seu potencial para gerar energia limpa e constante.

Além da alta eficiência, a turbina é projetada para ser compacta, de fácil manutenção e flexível o suficiente para ser instalada em rios, sem causar danos aos ecossistemas. A TidalWatt tem planos de instalar suas turbinas em locais onde a velocidade da corrente marinha seja superior a 1 nó, garantindo que a energia gerada seja não apenas limpa, mas também economicamente viável e sustentável.

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