Tipo exportação: a moda de rua brasileira está bombando fora do país

Houve um tempo em que as exportações mais famosas da moda brasileira eram beachwear e sandálias de tiras. Não mais. Com o crescente interesse por streetwear e um mercado cada vez mais aquecido, etiquetas nacionais do segmento estão ganhando espaço fora do país. 

O sucesso da Je M’Appelle Brasil é um bom exemplo. Realizado durante a semana de moda masculina de Paris, em 2023, o evento reuniu seis expoentes locais em um showroom na capital francesa. A segunda edição, no ano seguinte, cresceu 1000% em patrocínio e arrecadação de verba. 

Streetwear exportação: Piet

Desfile da Piet na SPFW N59.
Foto: Agência Fotosite

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“Rolou um salto muito grande. A gente conseguiu casar com este momento do Brasil entrando no hype”, diz o stylist Samir Bertoli, idealizador do projeto. “As pessoas passavam não acreditavam que as marcas eram brasileiras. Muita gente achava que por aqui só tinha futebol, Rio de Janeiro e praias bonitas.”

As movimentações para além das fronteiras, contudo, vêm de antes. Em 2019, a Piet começou a vender suas peças na multimarcas Luisa Via Roma, em Florença, na Itália. “Também tinha um showroom em Los Angeles, mas quando veio a pandemia, dei uns passos para trás”, diz Pedro Andrade, designer e fundador da label. “Nunca quis ter uma estratégia internacional que fosse só para awareness interno.”

Streetwear exportação: P_Andrade

P_Andrade, verão 2025.
Foto: Divulgação

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Em 2022, ele escolheu a Hypebeast, empresa baseada em Hong Kong e com grande penetração na Ásia, para ser sua representante comercial. Hoje, a grife está mais presente fora do que dentro do Brasil. Por aqui, são apenas 26 lojas. Na China, são 30. Há ainda outras 44 espalhadas pelo mundo. Sua segunda marca, a P_Andrade, nasceu em 2021 já focada no exterior e está presente e em 36 multimarcas, inclusive na Comme des Garçons de Seul.

Felipe e Juliana Matayoshi lançaram a Pace Company em 2017. Dois anos depois, foram morar em Portugal, passaram a produzir e vender algumas peças por lá. Durante a covid-19, voltaram para o Brasil e também precisaram recalcular a rota. A retomada da internacionalização foi em 2022. Desde então, a dupla faz showrooms solo durante as semanas de moda de Paris e tem um representante no Japão. Atualmente, 30 endereços carregam produtos Pace ao redor do globo – incluindo a Dover Street Market de Singapura.

Streetwear exportação: pace

Coleção Patafísica, da Pace.
Foto: Divulgação

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Os desafios

A logística para comercializar as peças no exterior é enorme. Como as coleções são produzidas no Brasil, fatores como frete, estações do ano invertidas e taxas pesam na hora de montar uma operação internacional. “Existem vários desafios nessa operação, o primeiro deles é geográfico. O frete é caro, os impostos são gigantescos, temos uma demora para a entrega”, pontua Pedro. Apesar da forte presença na Ásia, as coleções da Piet e da P_Andrade são todas feitas aqui. 

Para facilitar algumas burocracias e ampliar os acessos, é comum o trabalho de agentes intermediários, como representantes, importadoras e/ou transportadoras. “Algo que todo mundo fala lá é: queremos te ver aqui pelo menos três estações seguidas”, diz Felipe. Constância é essencial. “Os buyers querem criar relações a longo prazo para se sentirem mais seguros”, completa. 

Streetwear exportação: Carnan

Colaboração da Carnan com a Umbro.
Foto: Divulgação

A Carnan, que tem dois pontos de venda fora do país (um no Qatar e outro nos Estados Unidos), optou por não ter representação em showrooms por enquanto. “Estamos dando tempo ao tempo. É uma responsabilidade muito grande. Quem está querendo começar tem que tomar cuidado, porque você pode prejudicar o mercado brasileiro inteiro se der algo errado”, explica Paulo Carneiro, cofundador e diretor criativo.

Suas peças chegam às lojas gringas dois meses depois do lançamento no Brasil, uma maneira de evitar atrasos na produção e no frete. A gerente de marketing, comunicação e wholesale internacional, Lauren Fontes, conta que a meta é de que o faturamento do internacional ultrapasse o nacional em até dez anos. 

Streetwear exportação: Pace

A flagship da Pace, em São Paulo.
Foto: Divulgação

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Empurrõezinhos

Comuns no meio do streetwear, as colaborações ajudam a difundir as etiquetas brasileiras. Coleções com a Umbro, Asics e Oakley fortaleceram respectivamente os nomes da Carnan, Pace e Piet ao redor do globo. O fato das três terem endereços físicos em São Paulo também ajuda. 

“Quando você tem uma loja própria, o comprador de fora tem uma segurança de que a marca não vai fechar em um mês”, explica Paulo. Esse movimento ajuda a fortalecer a comunidade e a criar uma experiência completa, o que faz brilhar os olhos dos compradores. “Primeiro você precisa que as pessoas olhem para o mercado brasileiro para estarem dispostas a levar as marcas para o exterior”, finaliza ele.

Streetwear exportação: Carnan

Coleção Standart, da Carnan.
Foto: Divulgação

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