Casa de passagem para indígenas não sai do papel e novo capítulo se arrasta em Florianópolis

Antigo Tisac, no Saco dos Limões, onde será construída casa de passagem para indígenas

Casa de passagem para indígenas será construída no local do antigo Tisac, no Saco dos Limões- Foto: Germano Rorato/NDUm ano após o acordo entre a União e o município de Florianópolis para a construção da casa de passagem para indígenas, o projeto em nada avançou. A estrutura prevista terá espaço para 200 pessoas e será erguida no antigo Tisac (Terminal de Integração do Saco dos Limões).

Atualmente, a edificação abandonada abriga famílias que fazem parte do povo Kaingang, da região Sul do país. O local é ocupado desde 2016, quando algumas pessoas chegaram à cidade para vender artesanato e lá permanecem desde então.

Na sexta-feira (11), a 6ª Vara da Justiça Federal em Florianópolis realizou inspeção judicial e audiência de conciliação sobre o processo para construção da Casa de Passagem para Indígenas. No local, foram verificadas as condições atuais do Tisac e foram estabelecidos prazos para as próximas providências a serem tomadas pelo município.

Na audiência, ficou estabelecido novo prazo de 60 dias para que a administração municipal apresente o projeto executivo e as propostas de execução da obra por etapas.

Nesse mesmo período de 60 dias, a Funai e o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) devem apresentar uma proposta de manutenção e administração da casa de passagem para indígenas. A nova audiência está marcada para 8 de julho.

Um ano após audiência definitiva, casa de passagem para indígenas ainda não saiu do papel

Em fevereiro de 2024, o município de Florianópolis se comprometeu a coordenar um grupo de trabalho técnico para apresentar um estudo preliminar de construção da Casa de Passagem para Indígenas na área do Tisac e não mais no terreno ao lado, doado pela União. Esse terreno, inclusive, será devolvido à União.

A promessa era entregar o projeto em definitivo após dois meses, no dia 19 de abril, Dia dos Povos Indígenas. A partir dali, as obras para construção da casa de passagem para indígenas seriam iniciadas e a estrutura atual do Tisac deixaria de existir.

Manifestação de indígenas durante audiência de conciliação em 2024

Audiência de conciliação foi realizada na tarde de quarta (7), na sede da Justiça Federal – Foto: Arquivo/Leo Munhoz/ND

Foi definido, entre todos os envolvidos, que o espaço terá capacidade para abrigar, no máximo, 200 indígenas simultaneamente. Atualmente, cerca de 120 pessoas vivem no terminal desativado. Em princípio, o município investirá cerca de R$ 2 milhões na construção, enquanto órgãos federais se comprometeram a buscar mais recursos para aportar a obra.

Habitação é novela antiga em Florianópolis

  • A determinação para a construção da casa de passagem para indígenas foi emitida, originalmente, em setembro de 2017. À época, a Justiça Federal atendeu pedido de ação civil pública contra administração municipal.
  • Em outubro de 2018, o município assinou um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) junto ao MPF e à União, determinando a construção da casa de passagem, com recursos do município.
  • Um ano depois, o então prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, prometeu destinar R$ 1,5 milhão para construção da casa de passagem para indígenas e, em 30 dias, deixar o espaço em condições dignas para abrigar provisoriamente os indígenas.
  • O planejamento, no entanto, não saiu do papel.
Audiência de conciliação

Justiça Federal, prefeitura e população interessada já participaram de inúmeras reuniões a respeito da construção da casa de passagem para indígenas em Florianópolis – Foto: Arquivo/ND

  • Em 2020, com o início da pandemia, os alojados no Tisac deixaram o local e o espaço foi fechado pela administração municipal.
  • No mesmo ano, o TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) suspendeu o uso do Tisac como alojamento para os indígenas. Mesmo assim, no ano seguinte, as famílias voltaram para o local.

Desde então, houve inúmeras decisões contrárias e favoráveis a construção da casa de passagem para indígenas no Tisac, até que o parecer final, de 2023, a Justiça Federal determinou que o município iniciasse as obras no antigo Tisac.

Como as obras nunca iniciaram, a audiência de conciliação, de janeiro de 2024, determinou novo prazo para aprovação do projeto. A novela, contudo, ainda se arrasta.

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