OPINIÃO. Transição tributária exigirá força-tarefa nas empresas

A aprovação da reforma tributária sobre o consumo — um marco histórico no sistema tributário brasileiro — traz consigo uma transição complexa que exige atenção redobrada das lideranças empresariais.

Embora o desenho técnico da reforma tenha sido amplamente discutido por especialistas, chegou o momento dos CEOs e conselhos assumirem o protagonismo na condução estratégica desse processo dentro das empresas.

O motivo é simples: a transição para o novo modelo de tributação — com a substituição de cinco tributos por dois (IBS e CBS) e a mudança para o regime de crédito financeiro — não será neutra nos curto e médio prazos. Pelo contrário, a forma como as regras serão aplicadas durante os próximos anos pode afetar diretamente o resultado das empresas, o fluxo de caixa, a estrutura de preços e até a competitividade de produtos e serviços.

As novas regras exigem uma revisão profunda de processos, sistemas, cadeias de suprimento, contratos e precificação. O risco de decisões mal calibradas ou de inércia diante das mudanças é alto: créditos acumulados, distorções entre custos e receitas, impactos no EBITDA, divergências contábeis e riscos de reputação estão no radar. Portanto, não se trata apenas de um ajuste tributário, mas de uma reengenharia de gestão.

As implicações também se estendem ao mercado de fusões e aquisições. Em muitos casos, transações foram estruturadas com base em valores de mercado com premissas tributárias do modelo atual, sem considerar os efeitos da reforma. Cláusulas de earn-out e mecanismos de ajuste de preço podem ser significativamente afetados pela nova realidade tributária, gerando disputas e perdas não antecipadas para compradores e vendedores.

A liderança executiva precisa estar à frente desse movimento. A reforma exige integração entre áreas: fiscal, contábil, financeira, comercial, compras, tecnologia e jurídico. É a partir dessa governança transversal que será possível antecipar impactos, modelar cenários, planejar ações corretivas e aproveitar oportunidades.

Empresas que iniciarem desde já seus projetos de transição, com apoio técnico e envolvimento do alto comando, terão mais chances de transformar a reforma em vantagem competitiva. Não basta cumprir a lei — é preciso compreender seus efeitos estratégicos e agir com visão de longo prazo.

A reforma é, sim, tema de CEO. E quanto antes essa compreensão estiver incorporada à pauta da alta liderança, maior será a capacidade das empresas de atravessarem esse período de mudança com segurança, eficiência e resiliência.

Luiz Roberto Peroba é sócio da área tributária do Pinheiro Neto.

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