No Brasil, exits serão via vendas, e não IPO

Mike Packer, sócio da QED Investors, e Marcello Gonçalves, sócio e cofundador da DOMO.VC, durante painel no Web Summit Rio 2025
Mike Packer, sócio da QED Investors, e Marcello Gonçalves, sócio e cofundador da DOMO.VC, durante painel no Web Summit Rio 2025 (Foto: Reprodução YouTube/Web Summit)

Apesar de todo o desejo de ver startups e empresas de tecnologia brasileiras abrindo capital, a realidade é que o caminho mais provável para os exits no país continuará sendo a venda das empresas, e não as ofertas públicas iniciais (IPOs). 

“Sou bastante pessimista em relação a IPOs”, disparou Marcello Gonçalves, sócio e cofundador da DOMO.VC, durante painel no Web Summit Rio 2025.  “Se um fundador me diz que seu exit será um IPO, costumo descontar 20% da minha avaliação. Isso porque para uma empresa da América Latina abrir capital nos Estados Unidos, ela precisa ser internacional, ou seja, operar em vários países e ter boa parte da receita em dólares, além de um faturamento altíssimo. Infelizmente, pouquíssimas estão nesse estágio e no Brasil, infelizmente, não vejo muito espaço para IPOs de tecnologia”, completou.

O executivo pontuou que um dos principais desafios para o mercado de venture capital na América Latina é compreender as diferenças regionais. “Os Estados Unidos e a Europa têm mercados de capitais estáveis e desenvolvidos, onde as bolsas de valores funcionam como instrumentos de poupança. No Brasil e no México, a situação é outra: as bolsas são mais especulativas”, explicou. “Por aqui, as empresas tendem a permanecer privadas por mais tempo e precisam levantar rodadas de investimento em intervalos mais longos. Enquanto nos EUA é comum captar novamente em poucos meses, aqui pode levar de um ano e meio a dois anos. Isso exige que as startups latinas façam mais com menos e que investidores apoiem as empresas por períodos maiores.”

Por isso, ele avalia que, os exits mais realistas ocorrerão por meio de vendas estratégicas, e não via IPO. O que, segundo ele, não é um problema. Pelo contrário: Marcello destaca que a venda de uma startup pode ser até mais vantajosa para o empreendedor. “Costumo dizer que vender a empresa é ainda melhor do que fazer um IPO, pois muitos não imaginam a dor de cabeça que é fazer uma abertura de abrir o capital”, afirmou.

Mike Packer, sócio da QED Investors, compartilhou uma visão mais otimista. “Embora eu concorde que realmente é difícil, acredito que o talento, o mercado e os empreendedores no Brasil e no México têm capacidade para construir empresas grandes o suficiente para um IPO”, afirmou. Segundo ele, cerca de uma dúzia ou uma dúzia e meia de empresas latino-americanas têm potencial para se aproximar do estágio de IPO nos próximos anos.

“Não vemos nenhum IPO no curto prazo, mas realmente espero que, daqui a dois anos, possamos ter um ou dois concluídos”, disse. Ele acrescentou que, mesmo que isso não aconteça, construir empresas sustentáveis e lucrativas já será um grande avanço para o ecossistema. “Há empresas na região gerando centenas de milhões de dólares em lucros, e elas serão financiadas de alguma forma, seja mantendo o capital fechado ou abrindo o capital.”

O executivo também apontou alguns marcos que uma startup precisa atingir para buscar um IPO. Hoje, considerando as exigências da Nasdaq ou da NYSE, é necessário ter mais de US$ 500 milhões em receita, valuation acima de US$ 5 bilhões, além de apresentar modelos sustentáveis, previsíveis, escaláveis e, preferencialmente, rentáveis. “A ‘rule of 40’ (em que a soma da taxa de crescimento e da margem deve ser igual ou superior a 40%) é um bom parâmetro”, concluiu.

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