Entre sonhos e pliés: Conheça a trajetória da bailarina alagoana que chegou aos palcos de Nova York


Em entrevista exclusiva ao g1 AL, a jovem bailarina fala sobre sua experiência morando fora, dança, saudades e sua carreira na arte. Bailarina alagoana fala sobre sua experiência morando em Nova york
“Saí de casa faltando um mês para o fim do meu ensino médio e sem nem maioridade.” Aos 19 anos, a alagoana Júlia Torres dança nos palcos de Nova York. Em entrevista exclusiva ao g1 AL, a jovem bailarina fala sobre sua experiência morando fora, dança, saudades e sua carreira na arte.
Natural de Maceió, Júlia começou a dançar aos quatro anos e não parou desde então. Atualmente, está realizando sonhos, conhecendo novos lugares e morando na cidade que nunca dorme, nos Estados Unidos.
“Aos 4 anos entrei no balé clássico depois de muita insistência da minha parte – meu pai trabalha com luta e minha mãe foi obrigada a fazer balé quando criança, então a situação não pendia tanto para o meu lado. Cresci num ambiente de muita arte e atividade física, mas não só isso. Fui muito influenciada por músicas, filmes, livros e o estudo na escola. Acredito que tudo isso me ajudou muito a abrir bem os olhos e ouvidos para nunca parar de aprender”.
Além do balé clássico, a alagoana treinou ginástica rítmica, fez jazz dance, dança moderna e contemporânea, fez cursos e workshops e participou de festivais importantes na dança. Para ela, a dança é uma forma de entender o mundo.
“A minha preparação foi a vida. Desde muito nova, quase que por instinto, sabia que queria trabalhar com dança. Também sempre quis conhecer novos lugares e sabia que – infelizmente – o cenário de dança em Maceió não é tão desenvolvido”, conta.
Veja fotos de Júlia Torres
✅Clique aqui para seguir o canal do g1 AL no WhatsApp
Na escola, Júlia desenvolveu projetos ligados a dança e conquistou o segundo lugar na Feira Brasileira de Iniciação Científica. Hoje faz graduação em filosofia de forma online e enxerga o curso como uma possibilidade de ampliar sua visão de mundo.
“O estudo em dança está no estúdio e se expande para tudo que é vivo. Existe uma potência muito grande em se movimentar que carrega a história de quem dança. E aí essa dança não se limita ao profissional, mas vai para o samba de carnaval, para o forrozinho no bar, para todas as cirandas das crianças, porque por ser sobre tudo o que é vivo é também muito viva e não deve nunca ser colocada em caixinhas limitantes e excludentes”, disse a dançarina.
🩰🎖️A trajetória até a cidade onde os sonhos não dormem
Júlia morou em outros lugares antes de pousar em Nova York. No Brasil, além de ter passado a maior parte da vida na capital alagoana, teve aulas em Osasco, em São Paulo, onde morou por três meses. De lá, foi convidada para o programa de treinamento pré-profissional do Sanctuary of The Arts em Miami, onde morou por um ano.
“Agora estou como treinee da companhia José Limón (NY), um dos nomes mais importantes da dança moderna. É de uma honra gigantesca estar aprendendo essa técnica no melhor lugar do mundo para isso – sem exageros. Estar aqui tem sido perceber que as minhas vivências têm formado um caminho com bastante sentido”, fala Júlia.
Quanto a isso, não há dúvidas quanto a potência do corpo e da dança, bem como a ousadia e inspiração de viver esse momento.
“Acho que estar onde estou, vindo de onde vim e sendo quem sou, significa que a arte não está só no sul do Brasil ou no norte global. Espero que se eu possa inspirar alguém, que seja também a olhar não apenas para os caminhos óbvios. A ousadia costuma cair bem”, fala.
A bailarina também falou do espaço dos festivais de dança na sua carreira. Júlia participou do Passo de Arte, SP, Festival de Dança de Joinville, SC, Festival Internacional de Goiás, GO, e do YAGP Brasil, também em Santa Catarina. Ela também conquistou vaga para as finais mundiais do Valentina Kozlova (NY) e YAGP (NY), a maior competição em oferta de bolsas de estudos do mundo.
“Para mim, os festivais sempre foram uma oportunidade de buscar informações fora do estado fazendo cursos e assistindo outras escolas, além de ganhar visibilidade e tentar oportunidades. A partir deles ganhei bolsas para cursos de verão, outras competições e convites para programas no Brasil, Europa e Estados Unidos. Hoje entendo que eles não são o único caminho, mas que foram o meu e que com certeza colaboram para o intercâmbio de artistas no país”, disse.
💌Casa, saudades e família
Fã de comida nordestina, e com medo de ficar sem o que adora comer no café da manhã, Júlia disse que levou vários pacotes de flocão de milho. “Na segunda ida à Miami metade da minha mala de mão era de cuscuz”, brincou.
“Além de estar longe das minhas pessoas favoritas, estou longe da minha língua materna, da mata atlântica, do mar, do sol de torrar… Saí de casa faltando um mês para o fim do meu ensino médio e sem nem maioridade. Não é fácil. Tenho aprendido a lidar com a saudade. Fui dando cada vez mais valor às coisas cada vez mais simples.”
Além de ressaltar que a saudade se faz presente na sua vida, a bailarina também reconhece a importância da família na sua caminhada.
“Minha família é uma parte da minha vida na qual tenho muito apego, muita conexão. Eles contribuem com o meu crescimento nos sentidos óbvios de apoio financeiro e orientação, mas também nas conversas com cafezinho, nas receitas que adapto, em todas as músicas que lembro deles… Tive a sorte de crescer com um pai, uma mãe e um irmão que além de me incentivarem sempre – por vezes sem nem perceber – deixaram afeto no cotidiano. É com esse afeto que eu caminho. Um amor atento, cuidadoso e atencioso. É por essa lente que enxergo a arte”, conta ela.
Em maio, Júlia estará de volta à Maceió, onde dançará na terceira edição do Festival Guerreiro de Dança, no dia 24, onde também vai ministrar um workshop de dança contemporânea.
“Estou super feliz em poder dançar em Maceió mês que vem. Subir no palco é sempre uma responsabilidade misturada com prazer. Estando lá em cima nós temos a honra de manipular a energia do ambiente, de afetar o público de alguma forma. Reconheço que mudei um bocado depois de quase dois anos sem dançar em casa. Espero que quem assistir se conecte com esse movimento de mudança e que seja um momento de muito amor”, finaliza.
Curso de Férias Estúdio Movimento em Foco, 2023
Bruna Pozelli/Arquivo pessoal
Assista aos vídeos mais recentes do g1 AL
Veja mais notícias da região no g1 AL
Adicionar aos favoritos o Link permanente.