Como funciona a mineração em alto-mar e quais são os riscos ambientais envolvidos?

mineração em alto-marmineração em alto-mar

Recentemente, o governo dos Estados Unidos tomou uma decisão bastante ousada e polêmica de assinar uma ordem executiva autorizando a exploração mineral em larga escala no fundo dos oceanos, ou seja, a mineração em alto-mar – até mesmo em águas internacionais. Essa ação tem desafiado organismos internacionais e alerta de ambientalistas, incluindo a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), órgão ligado à ONU, que alerta para as consequências para os ecossistemas marinhos.

Mas afinal, o que é a mineração em alto mar e como a engenharia está envolvida? Por que tantas nações estão interessadas nisso? E quais são os perigos reais para o meio ambiente? Confira as respostas para essas perguntas no artigo a seguir, do Engenharia 360!

O que é mineração em alto-mar?

A mineração em alto mar consiste na extração de minerais localizados no fundo dos oceanos, especialmente em profundidades superiores a 200 metros. Geralmente, essa atividade se concentra em depósitos como nódulos polimetálicos, crostas de ferro-manganês ricas em cobalto e sulfetos maciços formados por fontes hidrotermais. Esses elementos são essenciais para a indústria moderna, incluindo na fabricação de baterias, paineis solares, dispositivos eletrônicos e até armamentos militares.

mineração em alto-mar
Imagem de TSMarine Australia reproduzida de Inovação Tecnológica
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Imagem reproduzida de Mar Sem Fim

Atualmente, vários países costeiros praticam esse tipo de atividade em suas zonas econômicas exclusivas. Porém, o grande foco das potências do mundo está hoje nas águas internacionais, onde se encontra a maior quantidade desses recursos. O acordo inicial, segundo a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS), era de que isso se tratava de um “patrimônio comum da humanidade”. Porém, dá para ver que os Estados Unidos estão operando seus equipamentos indiscriminadamente, onde bem entendem, buscando aumentar as suas reservas mediante à crescente disputa econômica global.

E será que os norte-americanos estão considerando os fatores ‘ecologia’ e ‘sustentabilidade’? Fica a reflexão!

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Imagem reproduzida de World Resources Institute

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Aqui está uma lista resumida das principais (e verdadeiras) razões pelas quais as nações têm interesse em realizar mineração em alto-mar:

  • Demanda por minerais críticos
  • Redução de dependência de fornecedores específicos
  • Geração de empregos e crescimento econômico
  • Vantagem geopolítica
  • Oportunidade pioneira

A decisão dos Estados Unidos sobre a mineração em alto-mar

A decisão determinada pela secretaria de comércio dos Estados Unidos deve acelerar na sequência a revisão de pedidos de uma série de licenças para mineração além da jurisdição norte-americana – e é bem provável que deve inspirar medidas similares em águas territoriais.

Caso você esteja se perguntando, a América não faz parte da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (AIFM), pois nunca ratificou os tratados que regulam o leito marinho em alto-mar, o que permite que sua presidência possa agir independentemente das normas internacionais vigentes. E justamente se aproveitando disso, os americanos preveem extrair na próxima década bilhões de toneladas de minerais, aumentando o seu PIB na casa de US$ 300 bilhões.

Opinião dos países comprometidos com a ISA

Assim como citamos anteriormente, a mineração em alto mar é regulada pela ISA; o órgão foi criado pela ONU para administrar a exploração e proteger o meio ambiente nessas áreas internacionais do leito marinho. Então, existe, sim, um “código de mineração” para prospecção, pesquisa e exploração dos oceanos.

O próprio Brasil integrou uma coalizão global em 2021 para solicitar uma moratória de pelo menos dez anos para qualquer exploração comercial em alto mar, alegando que a ciência disponível ainda não permite avaliar os impactos com segurança. Países como Alemanha, França, Nova Zelândia, Panamá e Portugal também já manifestaram preocupação pública, e Portugal chegou a aprovar uma lei banindo a prática em suas águas por vinte e cinco anos. Mas até quando todos esses países vão manter essa posição diante dos interesses econômicos? Não sabemos!

A relação da engenharia com a mineração em alto-mar

Como se pode imaginar, a atividade de mineração em alto-mar envolve operações em ambientes extremos e depende diretamente de inovações tecnológicas e avanço em diversos setores da engenharia, como mecânica, naval e de automação. Até porque ela é extremamente desafiadora devido a questões como pressão, escuridão e fragilidade dos ecossistemas. Portanto, não seria possível sem o auxílio de equipamentos sofisticados, robótica subaquática, sensores de alta precisão e até sistemas de controle remoto. E a coisa vai muito além disso!

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Imagem reproduzida de UPS

É obrigação dos engenheiros, além de garantir a segurança das operações, também buscar alternativas para tentar mitigar danos ambientais. Por exemplo, desenvolvendo projetos para reduzir a eficiência da dispersão de sedimentos, controlar o ruído subaquático e melhorar a coleta de dados. Por fim, ajudar na elaboração de protocolos para monitoramento ambiental e recuperação de ecossistemas afetados.

No entanto, vale destacar que, independente de todos os avanços da engenharia, ainda há muita incerteza por parte da ciência sobre os efeitos de longo prazo dessas intervenções nos oceanos.

Os verdadeiros riscos ambientais da mineração em alto-mar

  • Destruição do habitat imediato: A remoção de estruturas do fundo marinho destrói habitats essenciais para várias espécies.
  • Plumas de sedimentos: A atividade gera partículas finas que sufocam organismos e alteram a química da água.
  • Poluição sonora: O ruído das operações afeta mamíferos marinhos, prejudicando sua comunicação, migração e reprodução.
  • Toxicidade e radiação: Nódulos e metais extraídos podem liberar substâncias tóxicas e radioativas, contaminando ecossistemas.
  • Conflitos por uso do espaço: A mineração compete com atividades como pesca, rotas de navegação e tradições culturais, causando disputas.
  • Impacto nas mudanças climáticas: Alterações nos ecossistemas marinhos podem prejudicar a capacidade do oceano de capturar CO₂, agravando as mudanças climáticas.
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Imagem de Greenpeace reproduzida de ClimaInfo

As perspectivas para o futuro da mineração em alto mar

Podemos concluir que a engenharia desempenha dois papeis nessa história: primeiro, impulsionar a exploração em alto mar através de inovação técnica, mas também de oferecer ferramentas para mitigar danos e preservar ecossistemas. Diz aí, será que vamos conseguir? 

Enquanto você pensa nessa questão, te contamos que empresas como a The Metals Company, baseada no Canadá, estão testando neste momento protótipos de colheitadeira subaquática e sistemas de monitoramento ambiental. Vários de seus projetos, baseados em Inteligência Artificial e drones marinhos, prometem tornar o processo mais eficiente e menos invasivo.

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Imagem divulgação reproduzida de Um só Planeta – Globo

No entanto, vários especialistas alertam que nenhum desses avanços pode proteger a natureza e muito menos justificar a sua destruição irreversível. Afinal, vale a pena o preço que vamos pagar no final? Escreva suas impressões na aba de comentários logo abaixo!


Fontes: G1, Greenpeace, Terra, Olhar Digital.

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