“Somos super bullish com o futuro”, diz Kaszek

Juros nas alturas, instabilidade política, conflitos globais e aversão a risco entre os investidores não parecem compor o melhor cenário para o venture capital, mas, para a Kaszek, é tempo de oportunidades. Em coletiva de imprensa nesta terça-feira (29) no Web Summit Rio, fundador da Kaszek, Hernan Kazah, disse que a gestora é “bullish com o futuro”, mas reconheceu que as tarifas implementadas por Donald Trump para as importações “mudaram um pouco o cenário” esperado para este ano.

“Isso certamente criou um pouco de incerteza. E o Fed, que estava a caminho de cortar as taxas porque a inflação estava caindo, agora está mais em uma posição de esperar para ver antes de reagir. Então a queda nas taxas de juros está demorando mais do que esperávamos, o que também atrasa a volta dos IPOs”, explicou Hernan.

No entanto, o investidor destacou que a guerra comercial entre Estados Unidos e China pode acabar favorecendo o Brasil e a América Latina, que passam a absorver não apenas investimentos dos dois países, como a própria demanda por produtos e matérias-primas.

“No curto prazo, a queda nas taxas de juros está demorando mais que o esperado, e precisamos dessa queda para que o mercado volte. Mas, para a região, acho que estamos em uma boa posição”, avaliou.

IA e B2B

Uma das principais firmas de venture capital da América Latina, a Kaszek já investiu em empresas como Nubank, QuintoAndar, Guiabolso e Creditas. Mas se os casos de sucesso do passado foram principalmente no segmento de B2C, o futuro é das soluções voltadas para empresas.

Segundo Hernan, enquanto 95% dos investimentos da Kaszek nos primeiros fundos foram em companhias voltadas para o consumidor, hoje cerca de 80% dos aportes da gestora estão no B2B.

“Quando você vê ondas de inovação, os consumidores geralmente as captam muito mais rápido. E as empresas demoram muito tempo. Nós, desde o início, desde 2011, quando iniciamos a Kaszek, éramos agnósticos em relação ao consumidor ou ao negócio, ao tipo de tecnologia. Mas realmente, nos primeiros fundos, 95% das nossas companhias eram para o consumidor, que é onde estavam as oportunidades. Hoje, é o contrário”, apontou.

Entre as tendências para o futuro, Hernan também destacou a inteligência artificial, mas afirmou que o mercado está “concentrado” na tecnologia atualmente.

“O nível de atividade no mercado atualmente é bom. Não é o nível mais alto, poderia ser mais alto, mas não é um mercado quebrado que não existe. Por outro lado, se você observar para onde vão os investimentos, eles estão em projetos de IA ao redor do mundo. Sem dúvidas, a mudança de paradigmas com a IA está gerando também uma concentração”, disse.

Santiago Fossatti, partner da Kaszek, acrescentou que a tecnologia está desenhando novos negócios que não seriam possíveis há três ou quatro anos, o que ajuda a criar um terreno fértil para os investimentos.

Além disso, ele destacou a maturidade do ecossistema, especialmente na América Latina, que hoje conta com founders mais experientes, que em muitos casos já estão no segundo empreendimento ou já passaram por grandes players.

“Essa combinação de um ecossistema mais evoluído, melhores matérias-primas – que são, em última análise, empreendedores – com novas tecnologias que permitem a criação de novos negócios que antes não eram possíveis. Estamos realmente vendo um terreno muito fértil e encontrando muitas novas empresas para investir”, disse.

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