Por que a 3G comprou a Skechers

A 3G Capital anunciou hoje a aquisição da Skechers, um negócio familiar, bem tocado, e que cresce consistentemente mais que Nike e Adidas – repetindo a fórmula que usou na compra da Hunter Douglas três anos atrás. 

A gestora — que tem Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles como seus maiores investidores — está tirando a Skechers da Bolsa com um prêmio de 30% sobre a média dos últimos 15 pregões. 

A 3G vai pagar US$ 63 por ação, avaliando a empresa a um equity value de cerca de US$ 10 bilhões. (A Skechers praticamente não tinha dívida). 

A transação é estruturada como um club deal, em que a 3G chama suas famílias investidoras para levantar o cheque. Além disso, a gestora está tomando uma linha de crédito com o JP Morgan para alavancar um pouco a aquisição. 

A Skechers foi fundada 30 anos atrás por Robert Greenberg, que apostou em criar calçados de qualidade, confortáveis e com preços acessíveis.

Robert Greenberg ok

Por causa disso, a Skechers construiu um público fiel entre profissionais que precisam passar o dia inteiro de pé (como enfermeiras, socorristas e funcionários de restaurantes), bem como pessoas idosas. A marca também tem um preço acessível se comparado com seus rivais. Enquanto um tênis Nike e Adidas sai em média por US$ 160, um Skechers custa em torno de US$ 60. 

Greenberg — que tem 85 anos e ainda é o CEO e chairman da companhia — continuará à frente do negócio e manterá uma participação ainda não revelada. 

Uma fonte próxima à 3G disse ao Brazil Journal que a Skechers é um negócio muito bem gerido, e o plano é manter o management e acelerar em quatro frentes estratégicas: lançar produtos inovadores, aumentar sua penetração internacional, expandir no direct-to-consumer (D2C), e crescer no atacado americano. 

“É um negócio de crescimento incrível e que continua crescendo mais rápido que a Nike e a Adidas há anos,” disse a fonte. “E eles crescem em todas as frentes: no ecommerce, no varejo e no atacado. E com tênis para homens, mulheres, crianças, idosos, tênis casual, fashion, e de corrida.” 

Isso faz com que a companhia não seja vulnerável a um ‘hype cycle’, como aquele que aconteceu há alguns anos com a Adidas, por exemplo. A marca alemã fez uma parceria com o rapper Kanye West, que virou muito grande mas depois explodiu. 

A Skechers tem mais de 5.300 lojas espalhadas em 180 países (apenas 15 no Brasil). A empresa faturou US$ 9 bilhões no ano passado com a venda de mais de 300 milhões de pares de tênis.

Nos últimos dez anos, a companhia cresceu a uma taxa anual entre 10% e 15%, e hoje apenas 30% das vendas vêm dos Estados Unidos. 

Os números posicionam a Skechers como a terceira maior marca de calçados do mundo, atrás apenas da Adidas e da Nike. A quarta maior é a chinesa Anta, que só opera na China, seguida da Puma. 

A Skechers não está imune à guerra tarifária de Donald Trump, mas o price point de seus produtos pode tornar o negócio resiliente quando comparado aos concorrentes. 

“Se o preço subir um pouco, ainda vai ser um preço atrativo. E a venda é muito diversificada, o que também mitiga isso,” disse a fonte próxima à 3G.

A Skechers será a terceira empresa do portfólio da 3G, que também tem participação na Restaurant Brands International, dona do Burger King e Popeyes, e na Hunter Douglas, a líder mundial em cortinas e persianas que a 3G comprou em 2021 por US$ 7 bilhões

A 3G investiu na Kraft Heinz junto com a Berkshire Hathaway em 2015, mas diz não ter ingerência sobre o ativo desde 2022. 

A compra da Skechers remete a outro investimento bem sucedido de Lemann, Telles e Sicupira: a participação de 25% na On Holding AG, a empresa suíça dona da marca homônima de tênis de performance. O investimento – de algumas dezenas de milhões de dólares – começou a partir de uma relação pessoal de Jorge Paulo com um vizinho em Zurique e desembocou num IPO. Hoje a ON vale US$ 15,8 bilhões na Bolsa.

Os acionistas da Skechers terão a opção de receber o valor em dinheiro ou receber US$ 57 por ação – e a diferença em ações da nova empresa que será criada para controlar o negócio. 

O JP Morgan assessorou a 3G, que trabalhou com o Paul Weiss  e o Kirkland & Ellis.

A Greenhill & Co assessorou o board da Skechers, que usou o Latham & Watkins.

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