O que é o Projeto Dune e por que ele pode mudar tudo o que sabemos sobre o universo?

Projeto DuneProjeto Dune

O ser humano sempre foi extremamente fascinado pela história da origem do universo – há tanto ainda para ser revelado, não é mesmo? Ainda estamos na busca por explicações sobre como são formados os buracos negros e também por que existimos. Pois foi pensando em obter tais respostas que surgiu o Deep Underground Neutrino Experiment.

O Projeto Dune reúne cerca de 1.400 cientistas de 36 países diferentes, incluindo o Brasil. Especialistas do setor dizem que este é o projeto mais ambicioso já concebido para estudar os neutrinos – partículas subatômicas que atravessam tudo e todos, mas interagem raramente com a matéria.

Projeto Dune
Imagem DUNE, Fermilab, reprodução VEJA

Considerando que o Brasil está dentro dessa revolução científica, ajudando a criar inovações tecnológicas essenciais para o sucesso do experimento, o Engenharia 360 resolveu explorar mais essa história e trazer todos os detalhes para você no artigo a seguir. Confira!

O que são neutrinos e por que eles são importantes para o Projeto Dune?

O Projeto Dune poderá ajudar a humanidade a desvendar os maiores mistérios do cosmos. Mas, como citamos no começo deste texto, tudo dependerá do entendimento dos neutrinos, partículas que são praticamente sem massa e sem carga elétrica.

O que sabemos até agora é que os neutrinos surgiram logo após o Big Bang; que eles são gerados em reações nucleares como as que ocorrem no Sol; que estiveram presentes em todos os eventos cósmicos extremos, como nas explosões de supernovas; e que são a segunda partícula mais abundante no universo, ficando atrás apenas dos fótons (partículas de luz). 

Projeto Dune
Imagem de FERMILAB reproduzida de FAPESP

De fato, o assunto é bem interessante! Os neutrinos estão por toda parte, passando pelos corpos, mas nunca interagindo com a matéria. E os cientistas acreditam que é a partir dessas partículas que vamos entender por que a matéria prevaleceu sobre a antimatéria após o Big Bang, como os buracos negros se formam e até o que compõem a misteriosa matéria escura que representa mais de 20% do universo.

Como irá funcionar o Projeto Dune, na prática?

Antes de tudo, vale esclarecer que a infraestrutura para condução do Projeto Dune já é considerada sem precedentes para estudar “o invisível”. Os estudos estão sendo liderados pelo Fermilab, que é o principal laboratório de física de partículas dos Estados Unidos, com destaque para duas de suas equipes: uma que fica em Illinois, onde se encontra um acelerador de partículas, e outra em Dakota do Sul, que explora caverna subterrâneas a 1,6 km de profundidade.

Na primeira unidade, os cientistas trabalham para a produção de neutrinos a partir da aceleração e colisão de prótons. Então, o feixe com trilhões dessas partículas é direcionado, de forma subterrânea, para os detectores localizados a 1.300 km de distância, no outro estado. O que acontece é que os neutrinos atravessam a crosta terrestre e chegam até os tanques cheios de argônio líquido puríssimo, onde, eventualmente, interagem com os átomos desse elemento. E dessa interação é gerada uma “cintilação de luz”, captada por sistemas de detecção avançados.

Projeto Dune
Imagem de Ryan Postel, Fermilab, reproduzida de G1
Projeto Dune
Imagem de FERMILAB reproduzida de FAPESP
Projeto Dune
Imagem de Ryan Postel, Fermilab, reproduzida de G1

Razões para uso de argônio líquido

Talvez você esteja se perguntando qual o papel do argônio líquido nessa história. Pois bem, o argônio é um gás nobre que, quando resfriado a menos de 184 graus Celsius, se torna líquido e oferece um ambiente ideal para detecção de neutrinos. Seu núcleo atômico relativamente pesado aumenta as chances de interação com essas partículas. Assim, quanto maior o volume de argônio, maior a probabilidade de captação de eventos raríssimos de interação.

Qual o papel do Brasil na captura de sinais dos neutrinos?

Os cientistas envolvidos no Projeto Dune explicam que, para a captura de sinais dos neutrinos, é preciso utilizar um argônio líquido praticamente livre de impurezas – estamos falando de partes por trilhão, o que é um tremendo desafio para a indústria de tecnologia. Isso porque contaminantes como oxigênio, água e nitrogênio podem comprometer a sensibilidade dos detectores. E é aí que entra uma inovação brasileira desenvolvida por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em parceria com empresas nacionais e apoio da FAPESP.

Peneira molecular porosa

Os brasileiros criaram um método diferente para retirada de impurezas do argônio líquido. O mesmo se vale da utilização de uma “peneira molecular porosa” (zeólita) à base de aluminossilicato e lítio. Testes realizados usando criostato apresentaram resultados surpreendentes. Parece que a contaminação caiu de 20-50 ppm para 0,1-1 ppm 20 em menos de 2 horas, mesmo em volumes de até 3 mil litros.

Sistema X-Arapuca

E como se não bastasse tudo isso, tem outra contribuição feita pelos brasileiros para o Projeto Dune. Trata-se do X-Arapuca, um sistema de detecção de fotos criado por físicos da Unicamp. Nesse caso, quando um neutrino interage com o argônio líquido, ele gera uma cintilação de luz ultravioleta invisível ao olho humano. A tecnologia seria capaz de capturar essa luz e transformá-la em dados, permitindo que os cientistas reconstruam a trajetória dos neutrinos em três dimensões.

A saber, o Brasil será responsável por fabricar e instalar 6 mil dessas armadilhas de luz em um dos módulos do Dune, além de produzir os componentes mecânicos e filtros ópticos essenciais para o funcionamento do sistema.

Projeto Dune
Imagem de Felipe Bezerra, Unicamp, Perfil Brasil, reproduzida por Terra

Qual o impacto do Projeto Dune e o legado para a ciência global?

A realização do Projeto Dune deve ajudar a estimular o desenvolvimento de tecnologias de ponta e fortalecer a indústria científica em diversos países, incluindo o Brasil. A experiência adquirida pelos pesquisadores poderá ser aplicada em outros setores da engenharia, como purificação de gases industriais e desenvolvimento de novos sensores. 

E especialmente falando do nosso país, a participação do Brasil deve ir além do fornecimento de equipamentos. É possível que nossos trabalhadores ajudem na criação de um hub de referência em física de partículas para toda a América Latina, com acesso direto aos dados produzidos pelo experimento. Isso significa, na prática, mais oportunidades de pesquisa, formação de novos cientistas e interação com as maiores colaborações científicas do mundo.

Veja Também: Astropolítica, Engenharia e a Corrida Espacial


Fontes: O Estadão, VEJA, G1, Terra, FAPESP.

Imagens: Todos os Créditos reservados aos respectivos proprietários (sem direitos autorais pretendidos). Caso eventualmente você se considere titular de direitos sobre algumas das imagens em questão, por favor entre em contato com [email protected] para que possa ser atribuído o respectivo crédito ou providenciada a sua remoção, conforme o caso.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.