Infraestrutura científica, tecnológica e educacional na Amazônia

“A Amazônia é um sucesso de retórica e um fracasso de política pública”. Com essas palavras, o ex-reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA) Emmanuel Tourinho sumarizou sua crítica ao histórico baixo fomento à pesquisa no norte do país. “Fazer ciência na Amazônia continua sendo um ato de resistência. Nunca nos faltaram boas propostas, mas vontade política para fazer acontecer. (…) A ausência das condições não impediu o crescimento da pesquisa, mas a manteve contida em um limite que poderia ter sido ultrapassado”.

Tourinho participou da última sessão plenária da Reunião Magna ABC 2025, que foi coordenada pela bióloga Maria Olivia Simão, ex-secretária estadual e ex-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam). Em sua fala de abertura, a professora mostrou que a estruturação de um sistema de CT&I na Amazônia é obra do século 21. Traçando um breve histórico dos últimos vinte anos, destacou a importância de aliar criação de infraestrutura física e formação de pessoal.

Simão citou o Instituto Mamirauá, em Tefé, cidade a 521 km de Manaus. Criado em 1999, o Instituto se consolidou como centro produtor de pesquisa de ponta na região. Ao longo do tempo, sua existência serviu como atrativo para novas instituições de ensino, seja através da expansão das redes municipal e estadual ou pela atração de instituições privadas e institutos de P&D. “Muitos disseram ‘como assim um instituto dessa magnitude na Amazônia?’, mas, por vezes, a artificialização é necessária para criar força e mostrar que é possível”, afirmou.

Uma solução encontrada na região foi o modelo de universidades multicampi. Ao criar novos campi no interior dá-se início à essa dinâmica de atração de instituições e capacitação de pessoas. Para enfrentar o gargalo da formação de professores, a primeira coisa que esses campi oferecem são cursos de licenciatura. Mas essas novas instalações ainda sofrem com um investimento aquém do necessário. “Há, além da assimetria nacional, uma assimetria intra-regional. Mesmo as universidades com melhores estruturas só estão razoavelmente bem equipadas no campus sede, sendo muito carentes em seus campi do interior”, afirmou Tourinho.

Maria Olivia Simão, Emmanuel Tourinho, Bradley Olsen e Carlos Alfredo Joly

Outro ponto abordado na sessão foi a crescente institucionalização da ciência dentro dos governos estaduais. Em 2007, numa reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realizada em Belém, a discussão principal foi a necessidade concreta de um estado do tamanho do Pará ter uma FAP. Desde então as fundações se espalharam pela região e em 2023, com a criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Roraima (FAPERR), temos, finalmente, uma FAP para cada estado do país.

Essas fundações são fundamentais para manter um nível de investimento científico regional que evite pontos cegos. No Amazonas, por exemplo, a Fapeam já é a maior financiadora de bolsas de pós-graduação, ficando à frente de instituições federais. Esse tipo de fomento é particularmente importante numa região com dificuldades históricas de fixação de cientistas.

As FAPs amazônicas também foram responsáveis por articular junto à Fapesp o programa Amazônia+10, que desde 2021 vem agregando outras fundações estaduais e agências, federais e internacionais, no financiamento de projetos colaborativos liderados por pesquisadores da Amazônia. O programa foi apresentado na sessão por um de seus idealizadores, o Acadêmico Carlos Alfredo Joly. Em suas duas chamadas até o momento, o Amazônia+10 aportou cerca de R$ 150 milhões em projetos com foco em sustentabilidade.

Joly adiantou que uma nova chamada deve sair ainda esse ano, focando nas questão de como escalonar atividades bioeconômicas sustentáveis. Para o futuro, o Acadêmico enfatizou a necessidade de computação de alto desempenho que permita enfrentar o desafio da alta fragmentação de dados para a região. “Precisamos também de chamadas para jovens pesquisadores, o número de jovens entrando no sistema ainda é abaixo do necessário, precisamos dar apoio para que se fixem na região”, refletiu.

A região amazônica também atrai o interesse estrangeiro para investimento em pesquisa. Como último palestrante, a sessão recebeu o engenheiro Bradley Olsen, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), diretor do programa de colaboração do MIT com o Brasil e fundador de um programa específico de colaboração com a Amazônia. Nos últimos anos, Olsen têm visitado constantemente a Amazônia e desenvolvido novos materiais sustentáveis de embalagens para os produtos da bioeconomia.

Ele compartilhou experiências no intercâmbio entre pesquisadores brasileiros e americanos, enfatizando o aprendizado mútuo que vem com o conhecimento de novas realidades. “A ideia de agrofloresta é algo radicalmente novo para os EUA. Trabalhamos muito com biotecnologia e biorecursos, mas não temos experiências significativas em bioeconomia”, exemplificou.

Assista à sessão plenária a partir de 1h15m30s no vídeo abaixo:

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