O melhor do Dragão Fashion Brasil 2025

“Existe uma falta de respeito com o Ceará, com a nossa moda. Mas o fundamento do Brasil está no Nordeste”, defende Cláudio Silveira, fundador do Dragão Fashion Brasil. A 26ª edição da semana de moda aconteceu entre os dias 14 e 17 de maio, no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza. Neste ano, o evento estabeleceu a inteligência autoral como tema. Trata-se de uma reflexão quanto à importância de ideias tidas e executadas por gente de verdade, em tempos de IA. “Nenhuma tecnologia substitui as artesanias da nossa região”, diz Cláudio.

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Handlace, DFB Festival 2025.
Foto: Eduardo Maranhão

A temática orientou os estilistas a uma vontade comum. Interessados em abordar o que torna seus trabalhos mais humanos e pessoais, muitos decidiram resgatar suas origens. “Cresci em uma casa bem simples, feita de taipa, no sertão”, lembra Edina Moreira, diretora criativa da Handlace. Na passarela, a construção rústica da moradia é traduzida em peças tramadas que vão da alfaiataria aos vestidos justinhos sem alça, enquanto as silhuetas ampulheta referenciam os potes de barro. 

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David Lee, DFB Festival 2025.
Foto: Eduardo Maranhão

As residências sertanejas também servem de inspiração para Celina Hissa, nome à frente da Catarina Mina, e para David Lee. A primeira olha especialmente para os alpendres. “São muros baixinhos que delimitam as casas e servem de banco para conversar e tomar café”, explica ela. Esse jeito interiorano de observar a vida pela janela, sem ver o tempo passar, aparece em linhas bordadas que formam cachorros caramelo, xícaras e cadeiras. As peças são uma parceria com o projeto Vai Maria, do IPREDE, que acolhe e capacita mulheres em situação de vulnerabilidade social. 

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David Lee, DFB Festival 2025.
Foto: Eduardo Maranhão

Já David se apega a outras trivialidades domésticas, como os panos de prato e as toalhas de mesa, aquelas bem de avó. A interpretação é literal e é difícil não reconhecer os itens, remixados em camisas e conjuntos de calças e casacos alongados. Mais um destaque de seu desfile são as bermudas reconstruídas a partir de tapeçarias tradicionais da região nordestina. A alfaiataria, que já vinha sendo um esforço do estilista, cresce nesta coleção e demonstra um amadurecimento em seu design.

É bastante notória, aliás, a evolução dos nomes que integram o line-up do DFB. Nos últimos anos, alguns deles conquistaram reconhecimento nacional e passaram a desfilar também na São Paulo Fashion Week. David e Celina são exemplos disso. “Não quero eles só para mim. Eles têm mais é que ir para o mundo mesmo”, fala Cláudio Silveira. O organizador, porém, tem uma exigência: “Não aceito que se apresentem primeiro em São Paulo e depois repitam o mesmo desfile aqui”.

Graças a esse posicionamento, as coleções exibidas na semana de moda cearense são sempre inéditas. Assim, os estilistas fazem duas coleções ao ano: uma desfilada no primeiro semestre no DFB, e outra no segundo durante a SPFW. “Hoje, não temos muitas clientes locais. Elas estão em outras praças do Brasil. Então, continuar desfilando em Fortaleza é importante porque reforça que a gente é daqui e ainda estamos aqui”, conta Marina Bitu, outra expoente desse movimento.

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Marina Bitu, DFB Festival 2025.
Foto: Eduardo Maranhão

A designer anda bastante atenta quanto às demandas do mercado. “Embora o conceito seja importante, a gente precisa vender e se adequar às necessidades.” Ela explica que suas peças costumam ter um uso um pouco mais festivo, e suas consumidoras sentiam falta de roupas cotidianas, inclusive para o trabalho. Por isso, nesta temporada, ela não queria só uma boa história. Queria, sobretudo, bons produtos comerciais. 

A coleção chega mais leve que nunca. As texturas pesadas são substituídas por organzas, cetins plissados, crepes de acetato, cambraia de linho e chiffon. “São peças mais informais, jovens e divertidas”, explica Marina. Adornos, como franjas de ráfia e plumas, ainda têm seu lugar, mas agora enfeitam sem excessos. Outra aposta é a primeira bolsa da marca. De couro e com jeito utilitário, ela é feita para caber a vida. 

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Vitor Cunha, DFB Festival 2025.
Foto: Eduardo Maranhão

Quem também está olhando com atenção para o mercado é Vitor Cunha. Em novembro passado, o estilista cearense experimentou o sucesso de seu primeiro produto viral. “Organicamente, uma cliente postou um vídeo no TikTok vestindo uma peça minha. Deu mais de um milhão de visualizações”. Ele conta que, nas semanas seguintes, recebeu centenas de encomendas do mesmo look. “Vendi até para outros lugares do mundo: Jamaica, Miami, Índia…”, lembra. 

Vitor destaca que se tratava de uma peça inteiramente feita à mão. Desde então, isso lhe deu um gás para continuar apostando sem medo no macramê e no crochê. Suas técnicas manuais aparecem, dessa vez, em fios mais finos, em uma referência às marés. No entanto, de olho no público de outras regiões, ele equilibra as peças feitas para o calor do litoral com outras mais urbanas, como jaquetões e camisas superdimensionadas.

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Melkzda, DFB Festival 2025.
Foto: Eduardo Maranhão

No desfile da Melkzda, o oceano é o ponto de partida. O estilista pernambucano, que costumava ser figura cativa no Fashion Rio, duas décadas atrás, olha para as praias de Boa Viagem, no Recife, especialmente para seus tubarões. Daí vem as barbatanas nas costas dos maiôs, as flores marinhas que pulam dos vestidos curtinhos e a escolha pela seda que garante a fluidez dos visuais. O preciosismo nos bordados segue como um dos pontos altos de seu trabalho, embora agora divida espaço com produtos mais casuais.

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Bruno Olly, DFB Festival 2025.
Foto: Eduardo Maranhão

Por fim, Bruno Olly fez todo mundo dançar, incluindo o casting de modelos, ao resgatar o que havia de melhor nos anos 1990. De uma maneira superficial, é fácil apontar as referências à música e aos programas de televisão da época. No entanto, ele fala, sobretudo, sobre os sonhos e vontades da criança que foi lá atrás, sem se limitar a uma imagem lúdica demais. Os looks dos rapazes, com cintura marcada e ombros imponentes, são exemplos disso.

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