Tritão e Capelinha: para quem é de Florianópolis e sabe o que até hoje não foi superado

A Praia da saudade, em Coqueiros, quando o banho de mar não era sinônimo de risco à saúde – Foto: Divulgação/ND

Houve um tempo em Floripa em que o pôr do sol em Coqueiros era o anúncio de que algo bom estava por vir. Era ali, no Bar Tritão, que a noite começava com sabor de empada e risadas entre amigos e brotos também.

Em meio ao vai e vem das marés da Baía Sul, aquele canto do continente abrigava um dos mais charmosos redutos boêmios da cidade. E com cinco anos tive a sorte de ir morar na sua melhor praia, a Saudade.

Tritão: o ponto de encontro de toda a cidade

E ali, o Tritão era mais que um bar: era ponto de encontro da cidade toda, confessionário de copo, palco de amizades improváveis e amores de Verão que insistiam em durar até o próximo outono.

Os frequentadores variavam – tinha jornalista de olho atento, músico com violão na mão, político disfarçado de anônimo, e jovens que achavam que o mundo começava ali.

Capelinha: a antítese do sossego

Mais tarde, como num ritual combinado, o destino era certo: do Tritão, na mesma orla, a noite continuava e terminava no Bar das Pedras e na Boate Capelinha, na bucólica Praia de Itaguaçu.

Escondida entre pedras e lendas, ela era a antítese do sossego das casas ao redor. Com luzes pulsantes e pista vibrando, era o santuário da noite ousada, da dança sem censura e do perfume misturado ao cheiro de maresia.

Praia Clube, praia da Saudade, Coqueiros – Foto: Arquivo pessoal

A Capelinha foi palco de gerações, guardiãs de histórias que não cabem em redes sociais. Dizem que havia algo mágico naquele contraste entre a sofisticação dos frequentadores e o cenário rústico da praia – como se a cidade brincasse de ser metrópole, mas sem abrir mão de sua alma insular.

Hoje, restam os ecos. O som abafado das risadas, o cheiro da empada saindo da cozinha do Tritão, os passos apressados rumo à pista da Capelinha. Restam também os olhos marejados de quem viveu essa época e sabe que ali se desfrutou mais do que noites: viveu-se uma Florianópolis que já não mais existe, mas ainda pulsa na memória de quem a conheceu por dentro.

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