Louis Vuitton, cruise 2026 

A Louis Vuitton apresentou a sua coleção de cruise 2026 na quinta-feira (22.05), em Avignon, na França, no Palais des Papes.

Nicolas Ghesquière, diretor criativo da linha feminina da maison, costuma mostrar tal temporada em locações emblemáticas, principalmente do ponto de vista arquitetônico. Os destinos anteriores celebraram edifícios modernos, como o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, de Niemeyer, e o Parque Güell, de Gaudí, em Barcelona. 

Louis Vuitton, cruise 2026.
Foto: Getty Images

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Dessa vez, a escolha foi pelo Palais des Papes, monumento histórico, com estilo gótico, construído no século 14, durante a Idade Média, sob a iniciativa do papa Bento XII. E talvez o detalhe te pegue: um papa na França? Isso mesmo. É um episódio excepcional da história da igreja católica, quando Avignon foi sede do papado.  

No final do século 13, Roma ficou dividida por disputas políticas internas e os papas não se sentiam mais seguros e independentes. Fora isso, Filipe IV, rei da França, pressionava a igreja para transferir sua matriz para o seu território – uma artimanha para conseguir vantagem na queda de braço econômica entre o clero e a nobreza.

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Quem consumou o ato foi o papa (francês) Clemente V. Outras justificativas para a mudança de endereço foram a pujança comercial de Avignon e sua localização estratégica – entre a Espanha e a Itália – para rotas comerciais. Por lá, ao menos 6 conclaves aconteceram. 

O papado voltou para Roma só em 1377. Mas com a crise de autoridade instaurada pela interferência política francesa nos assuntos clericais, as disputas se acirraram. Três papas chegaram a existir ao mesmo tempo, no que ficou conhecido como o Cisma do Ocidente. 

De toda essa história, o que importa saber é que depois da Revolução Francesa, o espaço ainda virou quartel militar e prisão. E, desde os anos 1990, um importante centro cultural. 

O lugar e seu contexto ajudam a decifrar boa parte da coleção. A arquitetura do Palais de Papes é, por fora, uma fortaleza austera. Por dentro, ultradecorada, com tetos e paredes estilizados por afrescos. 

Louis Vuitton, cruise 2026.
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Nas roupas, Ghèsquiere aplica seu design sempre cheio de colagens em nome de um quebra-cabeça medieval e contemporâneo, com clero, nobreza, princesas, militares e roqueiras-glam. 

Ao som de Excalibur, de William Sheller, o filme Coração de Cavaleiro encontra os tempos atuais na passarela. Há capas curtas e monásticas no corpo e boinas de cavalaria na cabeça. O colete enrijecido é uma armadura sobre a camisa fluida e as botas vão até quase a altura do joelho. 

No mix de referências históricas, arabescos de iluminuras encontram efeitos cintilantes dos anos 1980. Entre uma Joana d’Arc e um David Bowie, a estrutura dos minivestidos cobre os braços e os pescoços e deixam as pernas de fora. Vê-se mangas imponentes, ombros fortes e saias com babados. 

Louis Vuitton, cruise 2026.
Foto: Getty Images

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Alguns vestidos são assimétricos e têm recortes estratégicos, os blazers aparecem com as lapelas curtas e as camisas, com as golas para fora do terno. Nos acessórios, sapatos abertos lembram vitrais de espelhos, botas forradas por ilhóses combinam com os fechos esportivos dos looks e bolsas-catedrais são desenhadas com curvas abobadadas. 

Os arranjos seguem nas texturas e padrões, como o jacquard e o couro, o tricô e o jérsei metálico, a aplicação de renda, correntes e pêlos, além dos xadrezes, listras e ziguezagues. Destaque também para a trama de ráfia nos chapéus e a madeira in natura nas bolsas de mão.  

Por fim, construções mais dramáticas nas silhuetas, como plissados armados nos ombros e nas ancas das saias, revelam que, além de papas, a história aqui é teatral. O primeiro desfile de moda no Palais des Papes aconteceu  durante o famoso festival de teatro de Avignon, que está em sua edição de número 79.  

Louis Vuitton, cruise 2026.
Foto: Getty Images

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Segundo o texto divulgado à imprensa, abre aspas, “a coleção explora o aspecto performático do vestuário, o seu valor artístico intrínseco, a sua força narrativa e o poder emocional que ela desperta”. Fecha aspas.  

O cenário foi feito em colaboração com a artista visual e cenógrafa britânica Es Devlin. Os convidados se sentaram em cadeiras vermelhas de veludo, bem no meio do Cour d’honneur, o pátio central, ao ar livre. Ou seja, o desfile era em cima do palco. O auditório, então, estava vazio. Pelo menos até o final, quando as modelos tomaram seus assentos e observaram quem fazia o mesmo com elas instantes atrás.

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