Milho no São João: tradição nordestina resiste às dificuldades e promete abastecer festas em AL


Mesmo com desafios na produção, o milho segue como estrela das festas juninas em Alagoas. Alimento invade ruas e praças, reforçando a tradição nordestina de celebrar a fartura do grão na época da colheita. Milho, grão, plantação, festa junina, São João, Maceió
Reprodução/ TV Gazeta
🌽🔥🪗Chegou o tempo das bandeirolas no ar, do cheiro de lenha queimando e do milho na panela. No Nordeste, a relação com esse grão vai muito além do sabor: é memória afetiva, símbolo de fartura e parte essencial das festas juninas. E não por acaso. Junho é exatamente o período da safra do milho, o que garante o alimento fresco e abundante nas feiras, ruas e esquinas das cidades alagoanas.
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Em Alagoas, quem circula pelas praças e mercados já percebe a movimentação: carros cheios de espigas, barracas montadas de improviso e a famosa medida regional, a “mão de milho”, que corresponde a 52 espigas, sendo negociada em todo canto.
Apesar do costume e da tradição, a produção de milho em Alagoas neste ano enfrenta obstáculos. As chuvas chegaram atrasadas e prejudicaram o plantio no período ideal para o São João. No Sertão, para garantir a colheita a tempo da festa, a tradição manda plantar no dia de São José, em 19 de março, marcando o início das chuvas de inverno. Mas, nos últimos dois anos, essa regra quase virou lenda.
“A gente não conseguiu plantar nesse período. Dois anos seguidos sem chuva em março. Esse ano não vai ter milho, feijão de corda, abóbora… nada pro São João”, contou seu José Vicente Rodrigues, produtor de Piranhas, no Alto Sertão, lembrando com saudade dos tempos em que colhia milho aos montes.
José Vicente, produtor de milho em AL, caminha pela lavoura sem milho
Reprodução/ TV Gazeta
Segundo o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), a estiagem prolongada se repetiu em outros estados do Nordeste. Entre março e maio do ano passado, choveu 575 milímetros em Alagoas. Este ano, no mesmo período, foram apenas 173. O fenômeno é consequência de uma condição climática neutra, entre El Niño e La Niña, que enfraquece o inverno nordestino.
Irrigação: a saída para garantir a colheita
Se no sequeiro a esperança ficou para agosto, quem apostou na irrigação deve faturar. Em Inhapi, o agricultor Everaldo Rodrigues investiu no sistema de gotejamento e viu a plantação vingar.
“Essa irrigação aqui é um sonho. Aqui você planta sabendo que vai colher. É caro, mas todo investimento vale quando você vê um pé de milho dando três espigas”, disse ele, que espera colher de 25 a 30 mil espigas em um hectare e faturar em média R$ 15 mil.
Para quem não conseguiu plantar ou perdeu a safra, o jeito é comprar milho de fora. Pernambuco, Ceará e Sergipe são os principais fornecedores para o mercado alagoano.
Apesar das dificuldades para o milho verde junino, as estimativas do IBGE apontam crescimento expressivo na safra de grãos em Alagoas este ano. A produção de milho deve alcançar 136,5 mil toneladas, um aumento de 67,2% em relação a 2023.
Na ponta final, a expectativa de fartura
Luizinho, vendedor de milho, Mercado da Produção, Maceió
Reprodução/ TV Gazeta
Luiz Juvenal, o famoso Luizinho, do Mercado da Produção em Maceió, é um vendedor que abastece o consumidor direto. Ele garante que não vai faltar espiga nas festas. O produto fica espalhado na calçada e o próprio cliente pode escolher as espigas. Mas quem precisa, o vendedor dá uma ajuda e mostra as mais novas, ideais para cozinhar ou preparar os pratos típicos da época.
“Tem milho de 30, de 40, de 60 até 70 reais. Mas não vai faltar milho para o Santo Antônio, para o São João, nem para o São Pedro. Alagoas vai estar suprida, seja com milho daqui ou vindo de fora”, garantiu ele.
Estiagem de março a abril atrasou o plantio do milho verde para o São João em AL
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