Estradas são porta de entrada para destruição na amazônia, alerta pesquisador veterano da floresta

As estradas têm um efeito devastador para os ecossistemas na amazônia, servindo como porta de entrada para desmatamento, incêndios e muitos outros tipos de degradação. Portanto, para garantir a preservação das matas, é importante conter a expansão dessas rotas floresta adentro.

O alerta é de um dos principais nomes da ecologia e dos estudos de conservação no planeta: William F. Laurance, mais conhecido como Bill Laurance, 67, professor da Universidade James Cook, na Austrália, e autor de mais de 800 artigos, entre publicações acadêmicas e obras de divulgação científica.

Um dos pioneiros nos estudos sobre os impactos do desmatamento e da degradação da floresta amazônica, Laurance, que fala português e já viveu por alguns anos em Manaus, retorna agora ao país para participar da Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências, que acontece até esta quinta (8) no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.

Em conversa com a Folha antes do evento, o pesquisador, que também tem uma longa trajetória na divulgação científica e nas ações em defesa da conservação da floresta, defendeu o combate a “projetos de infraestrutura mal planejados” na amazônia, incluindo “usinas hidrelétricas, grandes minas e todos os tipos de projetos de combustíveis fósseis”.

O senhor estará no Brasil para uma aula magna sobre a amazônia. Quais são os principais problemas a serem abordados?
Eu vou falar sobre como o uso da terra pelos humanos e as mudanças climáticas, juntos, estão afetando as florestas de muitas formas. Em termos de estrutura, de biodiversidade e do que chamamos de serviços ecossistêmicos, como o armazenamento de carbono, os benefícios climáticos e a estabilização da erosão do solo.

O foco geral será mostrar como essas ameaças estão se manifestando na amazônia, onde a floresta recebe múltiplas “pancadas” ambientais ao mesmo tempo: fragmentação da cobertura florestal, incêndios, caça, perda de biodiversidade, entre muitas outras coisas.

O senhor tem uma série de trabalhos mostrando os efeitos nocivos das estradas na amazônia. Que danos elas provocam?
Quando se constrói uma estrada, geralmente surgem muitas outras estradas secundárias. Então, temos destruição florestal, muitos incêndios, extração legal e ilegal de madeira, mineração ilegal, caça ilegal em muitas áreas, entre outras coisas.

As estradas abrem a floresta, é exploração por todos os lados, e nós já publicamos alguns trabalhos mostrando isso. Mas há um dado estatístico que me deixou completamente chocado. Analisamos três grandes áreas de floresta tropical no mundo, e vimos que é na amazônia brasileira que as estradas têm mais impactos.

E por que isso acontece?
Quando uma primeira estrada é construída, seja pelo governo, por uma madeireira ou mineradora, o que frequentemente acontece é que logo depois começam a surgir estradas secundárias, muitas delas ilegais, informais, sem regulamentação ou controle ambiental.

Estudamos um conjunto de rodovias no mundo todo, incluindo no Brasil, e descobrimos que as estradas secundárias causam muito mais destruição florestal do que aquela primeira estrada.

Vimos que o problema da proliferação de estradas secundárias e da destruição associada é muito pior na amazônia do que em qualquer outro lugar. E aqui vai um dado: se olharmos quanta destruição florestal é causada pela primeira estrada que entra numa área —digamos que seja uma estrada legal— e compararmos com a quantidade de desmatamento associada às estradas secundárias, o resultado é chocante. Na bacia amazônica, há em média 305 vezes mais destruição florestal. É um número impressionante.Não temos certeza absoluta do motivo. Pode ter a ver com a topografia plana, ou talvez com a vastidão da fronteira amazônica e o grau de ilegalidade. Explicar exatamente por que isso acontece é difícil, mas o que está claro é que, se você constrói estradas na amazônia, o impacto é absolutamente devastador.

(…)

Leia a matéria na íntegra na Folha de SP

Adicionar aos favoritos o Link permanente.